Mulheres que Inspiram

Mara Gabrilli: da superação pessoal a uma vida dedicada à inclusão pela política

Sinônimo de superação e combatente ferrenha na luta por políticas públicas de inclusão para as pessoas com deficiência, Mara Gabrilli tem um currículo político extenso. De vereadora a candidata a vice-presidente da República, em uma chapa histórica 100% feminina junto à senadora Simone Tebet (MDB-MS), foram anos de trabalho por mais direitos para uma população invisibilizada pela sociedade.

Conheça algumas fases importantes da vida da tucana:

Nascida em São Paulo em 28 de setembro de 1967, Mara Gabrilli tem 54 anos, é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP) e Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Em 20 de agosto de 1994, sofreu um acidente de carro que mudou a sua vida para sempre, ficando tetraplégica. Foram cinco meses internada, dentre os quais dois com a ajuda de um respirador artificial. Mas a impossibilidade de se mexer do pescoço para baixo não a impediu de dedicar a sua vida para melhorar a vida de outras pessoas.

Em 1997, Mara fundou a ONG Projeto Próximo Passo, com o objetivo de promover a acessibilidade e o desenho universal, pesquisas para a cura de paralisias e projetos de inclusão social para atletas com deficiência. Em 2007, o projeto se expandiu e se transformou no Instituto Mara Gabrilli, que atua no desenvolvimento social de pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade.

Em outubro de 2008, o Instituto financiou a vinda de uma cientista indiana ao Brasil para trocar experiências com a pesquisadora Lygia Pereira, da USP, o que resultou na primeira linhagem brasileira de células-tronco embrionárias, a BR-1.

Trajetória política

Mara Gabrilli iniciou sua trajetória na vida pública em 2004, quando disputou as eleições municipais em São Paulo para o cargo de vereadora. Ela não alcançou a quantidade de votos necessária para se eleger, mas ficou na lista de suplentes.

Em 2005, na gestão de José Serra (PSDB) na Prefeitura da capital paulista, Mara propôs a criação de uma secretaria municipal para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. O tucano acatou a sugestão e criou a pasta, primeira no país a ser voltada para a área. Mara foi nomeada secretária, cargo que ocupou de 2005 e 2007. No cargo, desenvolveu dezenas de projetos em diversas áreas: infraestrutura urbana, educação, saúde, transporte, cultura, lazer, emprego, entre outros.

Tornou-se vereadora em 2007 e foi reeleita no ano seguinte. Na Câmara de Vereadores, foi autora de sete leis municipais, dentre elas a que criou a Central de Intérpretes de Libras e Guias-Intérpretes para Surdocegos e o Programa Censo Inclusão, que prevê um levantamento detalhado com perfil socioeconômico dos cerca de 1,5 milhão de pessoas com deficiência na capital paulista.

Em 2010 se elegeu deputada federal, cadeira que ocupou por dois mandatos consecutivos. No Congresso, foi relatora da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que modernizou a legislatura brasileira e ampliou direitos para as pessoas com deficiência. O texto, que entrou em vigor em 2016, estabeleceu mudanças em relação aos direitos civis dessa população: pessoas com deficiência intelectual, por exemplo, passaram a ter garantido em lei o direito ao voto e a ser votado, ao casamento e a ter filhos, entre outros, sem a necessidade de uma decisão judicial para isso

“A principal inovação se dá na mudança do conceito de deficiência, que agora não é mais entendida como uma condição estática e biológica da pessoa, mas sim como o resultado da interação das barreiras impostas pelo meio com as limitações de natureza física, mental, intelectual e sensorial do indivíduo”, afirmou a tucana.

“Nesse sentido, uma pessoa que tenha uma tetraplegia, como eu, mas que tenha condições financeiras de ter um cuidador e para trabalhar, pode ser considerada com menos deficiência do que alguém com uma deficiência menos severa, mas que more em uma comunidade e não consiga sair de casa por falta de acessibilidade, por exemplo”, completou.

Em 2015, Mara se tornou a primeira mulher na história a ocupar um cargo administrativo na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados e do Congresso Nacional, tendo sido eleita a Terceira Secretária de ambas as Casas.

Sua atuação na Casa também foi reconhecida por diversas vezes. Em 2011, a Revista Veja a classificou como a terceira melhor parlamentar do ano entre os 513 deputados, sendo a primeira colocada entre as mulheres e os parlamentares de São Paulo. Também recebeu por cinco anos consecutivos o Prêmio Congresso em Foco. Entre eles, foi eleita em 2018 a melhor deputada de São Paulo e a que mais trabalha para reduzir as desigualdades.

Conquista inédita

Em 2018, Mara Gabrilli foi eleita senadora por São Paulo com 6,5 milhões de votos. No mesmo ano, também alcançou uma conquista inédita para o país: tornou-se a primeira brasileira a integrar o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU). Eleita para um mandato de quatro anos, a tucana teve a sua candidatura para um novo mandato, em 2024, apresentada pelo Brasil este ano.

O Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência reúne peritos de diferentes países e monitora a implementação, pelos Estados Partes, da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

“É uma oportunidade grandiosa para mim, de poder continuar esse trabalho enriquecedor, que me dá possibilidade de trazer para o Brasil o que foi bem-sucedido lá fora e levar para outros países as conquistas que já tivemos por aqui”, destacou a tucana.

Chapa histórica

Em um momento repleto de emoção, a senadora foi anunciada no início de agosto de 2022 como candidata a vice-presidente da República na chapa da senadora Simone Tebet (MDB-MS), em uma candidatura histórica e 100% feminina. Em seu discurso, ela agradeceu pela confiança e se disse honrada em aceitar o convite.

“Te agradeço do fundo do coração pela confiança e repito aqui as suas sábias palavras: O Brasil tem que olhar pra frente. É possível fazer diferente. Juntos com amor, com coragem, é possível mudar o Brasil. Você [Simone] conta comigo nesta jornada”, disse.

Mara Gabrilli acrescentou ainda que o objetivo principal de um governante deve ser trabalhar para melhorar a vida das pessoas.

“Eu aprendi nessa trajetória que quando a gente melhora a vida de uma pessoa é a humanidade que salta, é a gente que melhora junto. E é isso que a gente quer fazer no Brasil. A gente quer crescer junto, a gente quer saltar. A riqueza do Brasil é a diversidade da população, a diversidade humana, a diversidade cultural, a diversidade ambiental, e quem desdenha isso não merece seguir adiante, não merece a confiança dos brasileiros”, concluiu.