Opinião

“Órfãos da Covid-19, um problema de todos”, por Iraê Lucena

Foto: Arquivo pessoal

O rastro da pandemia da Covid-19, definitivamente, deixará marcas para as futuras gerações de forma dolorosa e com consequências que nem imaginamos. Levantamento feito pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) mostra que ao menos 12.211 crianças de até seis anos no país ficaram órfãs de um dos pais vítimas da doença, de 2020 até setembro deste ano.

A tristeza que atinge essas crianças pode ser ainda maior, se imaginarmos que muitas delas viviam com avós que também perderam a batalha para o coronavírus. Quantas foram parar em abrigos e lares para órfãos? Como ficará o futuro delas? E os traumas? Terão medo de tudo? Serão naturalmente pessimistas?

É com imensa angústia que observamos que a maioria dessas crianças têm menos de 1 ano e vivem em São Paulo, Goiás, no Rio de Janeiro, em Ceará e no Paraná, segundo o levantamento. Mas onde moram é o que menos importa. O que interessa é: o que o Brasil oferecerá a elas?

Dói ainda mais quando se lembra que, pelo mesmo levantamento, 223 pais morreram de Covid-19 antes de verem o filho nascer, enquanto 64 crianças de até seis anos perderam o pai e a mãe para a doença, ou seja, ficaram totalmente sem chão.

Nós, mulheres na política, sabemos exatamente o que uma criança com menos de 6 anos de idade precisa: um lar estruturado, afeto, alimentação adequada, oportunidade de lazer, convívio saudável com outros pequenos e condições para estudar, além de cuidados com a saúde.

A mulher na esfera pública consegue ter um olhar sensível sobre os fatos: é preciso buscar meios de atenuar a dor dessas crianças, mostrar que o futuro existe mesmo quando há surpresas dolorosas na trajetória e que o Brasil é um país que oferece possibilidades, e não que as elimina.

A CPI da Pandemia do Senado recomendou a criação da Pensão Especial Covid-19 no valor de um salário-mínimo a ser paga aos órfãos. É uma proposta a ser examinada. Mas não pode parar aí, é preciso fazer mais. Infelizmente, a doença não está controlada no país, mesmo com o avanço da imunização e com todos os cuidados de prevenção e medidas de segurança.

Até o fechamento deste artigo, mais de 605 mil pessoas, incluindo das mais distintas faixas etárias e segmentos socioeconômicos, haviam morrido em decorrência da Covid-19. Outros mais de 21 milhões de brasileiros tiveram a experiência de viver a doença e sobreviver.

*Iraê Lucena é coordenadora do PSDB-Mulher na Região Nordeste e foi deputada estadual pela Paraíba por três mandatos