A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou nesta segunda-feira (21) uma nota, assinada pelo presidente da entidade, Paulo Jeronimo, em repúdio aos ataques do presidente da República Jair Bolsonaro contra profissionais do jornalismo.
Ao ser questionado por uma repórter da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo em São Paulo, sobre o uso de máscara e a multa recebida por ele por não utilizar a proteção durante um ato político com motoqueiros, Bolsonaro se irritou e agrediu verbalmente a jornalista Laurene Santos, mandando-a “calar a boca” e chamando os profissionais da emissora de “canalhas”.
“Descontrolado, perturbado, louco, exaltado, irritadiço, irascível, amalucado, alucinado, desvairado, enlouquecido, tresloucado. Qualquer uma destas expressões poderia ser usada para classificar o comportamento do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, insultando jornalistas da TV Globo e da CNN”, pontuou a nota.
O texto destacou como o presidente nunca apreciou uma imprensa livre e crítica, e o acusou de subir o tom perigosamente: “pouco falta para que agrida fisicamente algum jornalista”, frisou.
O presidente da ABI reiterou ainda a posição da associação em favor do impeachment de Jair Bolsonaro.
“Decididamente, ele não tem condições de governar o Brasil. Outra solução – até melhor, porque mais rápida – seria que ele se retirasse voluntariamente. Então, renuncie, presidente”, concluiu o documento.
Solidariedade à jornalista
Não satisfeito em ofender a jornalista e toda a classe, Jair Bolsonaro ainda retirou a máscara de proteção durante a entrevista, expondo os presentes ao risco de contaminação por Covid-19, e voltou a defender o chamado “tratamento precoce”, à base de medicamentos já comprovadamente ineficazes contra a doença, em meio às mais de 500 mil mortes causadas pelo vírus e a falta de vacinas no Brasil.
Em meio à toda repercussão, a jornalista Laurene Santos, vítima dos ataques, se manifestou em suas redes sociais:
“Que o senso crítico, respeito e profissionalismo sempre prevaleçam. Agradeço ao apoio de todos que, assim como eu, acreditam em um jornalismo íntegro”, afirmou.
Tucanas se solidarizaram com a jornalista, atacada no exercício de sua profissão, e pediram mais respeito, repudiando os constantes arroubos do presidente da República contra a imprensa brasileira e a liberdade de expressão.
“Ah se gritos resolvessem os problemas do Brasil… “Cala boca”? Atitude autoritária e covarde. Lastimável o desequilíbrio de quem deveria comandar um processo para nos tirar desse cenário de guerra. Não bastasse tanta dor, tantas mortes, tantas perdas. Vivemos dias de horrores”, lamentou a prefeita de Palmas (TO) Cinthia Ribeiro.
Já a deputada federal Shéridan Oliveira (PSDB-RR) lembrou que o presidente Jair Bolsonaro foi o grande responsável pelo crescimento de 167% no número de casos de agressões contra a imprensa, segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Jornalistas foram atacados em 17 dentre 21 lives promovidas por ele neste ano.
“Isso não pode ser normalizado”, avaliou. “Ninguém deve ser desacatado no exercício de sua profissão, inclusive a imprensa! Lastimável que a maioria destes ataques venha da maior autoridade do País, que xinga, expõe a situações vexatórias e incentiva esta conduta, gerando insegurança para a profissão e para a democracia”, constatou a parlamentar.
Em favor da democracia e da imprensa brasileira, ela apresentou na Câmara dos Deputados um projeto de Lei para classificar como crime de abuso de autoridade atos que impeçam o livre exercício do jornalismo.
“Ele é uma peça fundamental do processo de fiscalização do Estado, e deve ser defendido”, completou Shéridan.