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Mulheres revolucionam investigações de Feminicídio

Reportagem desta terça-feira (12) do portal Metrópolis apresentou mulheres que transformaram as investigações de feminicídios. Peritas, delegadas e acadêmicas aprenderam a identificar detalhes e a desvendar crimes motivados por questões de gênero.

Andréa de Paula Brochier, ex-diretora do Departamento de Criminalística do Rio Grande do Sul, participou da formulação da cartilha da ONU com diretrizes para investigações de crimes sobre gênero. Ela descreveu técnicas de identificação da violência. “São atos que comprovam o ódio do agressor em relação à vítima. Destruição de objetos pessoais, de livros, de cadernos, de objetos relacionados à profissão, maltratar um animal de estimação para infringir sofrimento à vítima”, explica.

Equipes comandadas por Andréa, passaram por treinamento para poder identificar pequenos sinais nos locais dos crimes e documentá-los oficialmente. “A descrição é importante porque no decorrer da investigação você vai analisar o que a perícia localizou de vestígios no local com as outras provas. Um vestígio material pode virar evidência e comprovar a motivação de gênero”, detalhou.

Faz parte do perfil de homens que cometem feminicídio, pensar que a mulher e os filhos são propriedade deles e não saberem lidar com frustrações. “O homem é criado com privilégios, pode ter toda liberdade. Quando ela se comporta igual, ele acha que está perdendo privilégios. Não aceita que ela se rebele contra a opressão. É o trabalhador, o pai de família. Ele acha que é o dono. Às vezes são relações de um mês ou dois de duração, não precisa de anos para isso se estabelecer”, descreveu Andréa.

No Piauí, a delegada e atual subsecretária de segurança pública do estado, Eugênia Monteiro, criou o Núcleo Científico Investigativo de Feminicídio e Violência de Gênero. 100 inquéritos de assassinatos violentos de mulheres foram retirados da gaveta para serem reavaliados, após a criação da Lei do Feminicídio, em março de 2015.

Com a nova avaliação, foi identificado que apenas três casos eram de homicídios comuns, os outros 97 ocorreram por situações de desvalorização ao sexo feminino. A cartilha da ONU foi posta em prática por Eugênia em Piauí, o que levou o estado a ser um dos únicos a seguir o modelo. “A linguagem policial estava na década de 1940. O que fizemos foi uma revolução”, diz.

A antropóloga da Universidade de Brasília, Rita Segato difundiu o termo “gestos simbólicos”, que é a linguagem do feminicídio designada pelas marcas que o agressor deixa no corpo da mulher. Para Eugênia, isso não representa uma fobia a mulher. “É uma estrutura machista que a coloca como algo que pode e deve ser dominado. Quando ela gera irritabilidade nesse domínio vem a reação. O corpo da mulher é um território apropriável”, descreve a delegada, que faz doutorado sobre gestos simbólicos no UniCeub.

Para Andrea Brochier, o acolhimento das vítimas é o primeiro passo para diminuir o feminicídio. “Quando chegam ao consultório de um psiquiatra, saem com receita de antidepressivo, mas sem nenhuma indicação de caminhos para se proteger. O acolhimento poderia iniciar-se ali. Feminicídio é um crime totalmente evitável. Se houvesse uma rede eficiente de suporte à vítima de violência, o assassinato não ocorreria”, disse.

“É preciso estruturar os postos médicos legais, oferecer atendimento psicossocial, dar oportunidade para que essa mulher fale sobre a sua dor. Leva, em média, 10 anos para uma mulher quebrar esse ciclo. Ela precisa de uma busca ativa para que não ocorra o pior”, afirmou Brochier.

*Com informações do portal Metrópoles