Opinião

“Outsiders dão com os burros n´água”, por Terezinha Nunes

Desde a época do Senado romano, quando passou-se a exercer a política de forma mais efetiva, uma expressão foi ganhando força, em princípio como ideia e depois em sua forma efetiva – a de que o exercício da política não é coisa para amadores.

De tempos em tempos, quando se tem uma crise no aparelho representativo tanto no Brasil quanto no mundo, surgem os famosos outsiders, pessoas que imaginam serem capazes de, da noite para o dia, como em um passe de mágica, substituírem os políticos experientes, naturalmente desgastados nestas ocasiões, vencendo eleições da noite para o dia.

O Brasil experimentou um desses exemplos em São Paulo no ano de 1986 quando o empresário Antonio Ermírio de Moraes, que nunca tinha exercido mandatos, apesar de filho e político, se candidatou a governador.

No final, além de derrotado na época por Orestes Quércia, mostrou-se francamente arrependido da empreitada. Reclamou das noites insones, quando ficava remoendo tudo que ouvira durante o dia de áulicos e profissionais, como cunhou uma frase considerada lapidar : “a política é o maior de todos os teatros”.

Na ocasião, comentaristas políticos lembraram a Ermírio que devia ter seguido o exemplo de Tancredo Neves que nunca se recusara a ouvir ninguém mas que muitas vezes até cochilava diante dos comentários enfadonhos ou inconvenientes. Dizia-se que o experiente político mineiro transformava os dois ouvidos em um túnel. A conversa entrava por um lado e saía pelo outro, quando não lhe interessava.

Exageros à parte, a verdade é que quem não está preparado para o exercício da política acaba se arrependendo de nela ingressar.

Neste momento em que o Brasil enfrenta a maior crise política de sua história, a ideia dos outsiders surgiu como uma luva no que se refere à eleição presidencial. De repente partidos foram à caça de quem estivesse bem na mídia para ocupar o vácuo e, quem sabe, chegar à presidência sem grande esforço, visto que se imaginava uma eleição definida pelas redes sociais, o fenômeno mundial do momento.

Mas, pelo visto, a vaca está indo para o brejo, ou, para usar outra expressão popular nordestina, os outsiders “deram com os burros n´água” Em pouco tempo, os três principais nomes que surgiram jogaram solenemente a toalha.

Antes foi o apresentador Luciano Huck e esta semana o técnico ganhador de campeonatos de vôlei Bernardinho e, o mais proeminente deles, o ex-ministro e ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa que desistiu pelas redes sociais.

Todos alegaram os tão badalados “ motivos pessoais” mas, certamente, concluíram que não estavam dispostos a enfrentar o embate com profissionais do batente. Afinal, com exceção de um outsider recente, o ex-prefeito de São Paulo João Dória, eleito pela força do ex-governador Geraldo Alckmin, não há evidência de que a população realmente caminha para abandonar em definitivo a política tradicional.

E arriscar – como fazem os políticos tradicionais – a passar pelo crivo de devassas na vida pessoal como acontece com os candidatos majoritários, notadamente nesta época de Internet, é temerário. Arriscam-se todos a sair de imediato da vida pública pior do que entraram.

Fala-se muito nos casos de Macron, presidente da França, e Macri , presidente da Argentina como exemplos de outsiders que deram acerto. Acontece que Macron, mesmo não tendo tido o apoio de François Hollande, o seu antecessor, foi poderoso ministro da economia do seu governo, não sendo, portanto, um  neófito em política, como se pretendeu afirmar.

Macri está na política desde 2003 quando se candidatou a prefeito de Buenos Aires. Acabou prefeito da capital de 2007 a 2011 adquirindo experiência e credenciando-se para disputar a presidência e vencer em 2015.

Os dois apenas competiram por partidos não tradicionais mas estavam na política. No Brasil até agora os chamados outsiders ou foram para partidos tradicionais ou não tinham experiência política. Acabaram, como estamos vendo, fora da disputa. É difícil saber se alguém não tradicional vai se sobressair até outro mas, pelo andar da carruagem, isso é praticamente impossível.

*Terezinha Nunes é deputada estadual pelo PSDB de Pernambuco