Opinião

“Nordeste elege mais mulheres que o Sudeste”, por Terezinha Nunes

Tida como uma região de comportamento “machista” sobretudo no Sul e Sudeste brasileiros, o Nordeste está na frente dessas áreas, bem mais desenvolvidas economicamente, no que se refere à participação das mulheres na política.

Levantamento recente feito pelo projeto Mulheres Inspiradoras com base no resultado da eleição de 2016 demonstra que o Nordeste assumiu o primeiro lugar entre as regiões brasileiras naquele pleito no que se refere à conquista de cadeiras pelas mulheres nas câmaras de vereadoras.

Hoje, 15,18% das vagas de vereadores na região são ocupadas por mulheres. No Sul o percentual é de 14,35%, no Norte é de 13,98%, no Centro-Oeste de 12,95% e no Sudeste de 11,20%. O Sudeste, área mais populosa do país, abrigando grandes estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, garantiu somente 1 milhão e 696 mil votos às mulheres candidatas, enquanto no Nordeste as mulheres tiveram no total 2 milhões e 15 mil votos.

Considerando que o Nordeste abriga 27,7% da população brasileira, segundo o IBGE e o Sudeste 42 % , dá para perceber que, comparando o número de votos obtidos pelo sexo feminino, o resultado nordestino fica ainda mais expressivo.

O que levaria a mulher nordestina é estar conquistando mais cadeiras nas Câmaras Municipais que as do Sudeste e também das demais regiões do país ?

É difícil saber mas um levantamento feito pelo jornalista pernambucano Magno Martins, logo depois do resultado do pleito, pode ter apontado um caminho. Ele mostrou alguns “cases” de sucesso na eleição de 2016 no Nordeste e grande parte era de mulheres, algumas parteiras, outras agentes de saúde, todas com vínculo profundo com a comunidade e sem qualquer vínculo com a política tradicional. Uma delas chegou a ser eleita mesmo se encontrando em uma UTI no dia do pleito.

Mas as mulheres nordestinas na verdade, mesmo apadrinhadas pelos pais e maridos, ingressaram na política mais cedo do que em outras regiões. Na década de 70 virou manchete nacional a eleição da petista Maria Luíza Fontenelle como prefeita de Fortaleza, capital do Ceará. Logo depois foi a vez de Salvador também eleger como prefeita a socialista Lídice da Mata.

Há casos no Nordeste de mulheres eleitas governadoras e senadoras, destacando-se nesses casos os estados do Rio Grande do Norte, duas vezes administrado por Wilma Maia, da Paraíba, Ceará e Sergipe, com casos de mulheres senadoras.

O Rio Grande do Norte é um caso à parte. Cumprindo a tradição de maior abertura para o voto em mulheres, o estado garantiu, na eleição de 2016, 21,22% das cadeiras em suas Câmaras Municipais a mulheres. No Maranhão o percentual foi de 17,58% e em quatro estados – Piauí, Ceará, Sergipe e Alagoas – o percentual foi de 16% ( bem superior à média do país que está entre 12 e 13%, considerando a participação das mulheres em cargos eletivos).

A coordenadora da pesquisa, Marlene Campos Machado, faz uma análise nacional e aponta em entrevista ao Diário de Pernambuco, que “mais de 90% das candidatas nas últimas eleições não se elegeram e foi grande o percentual de mulheres que tiveram “O” voto em todas as regiões”. Ela defende uma “reforma estrutural que favoreça, em geral, a inserção de novas lideranças femininas na política, que sejam qualificadas e vocacionadas para o serviço público” como forma de corrigir ao longo do tempo a grande distorção entre o percentual de homens e mulheres nos cargos eletivos.

*Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher-PE e deputada estadual