NotíciasOpinião

“A guerra brasileira”, por Terezinha Nunes

Foto: João Bita/Alepe
Foto: João Bita/Alepe

Foto: João Bita/Alepe

Há pouco mais de uma semana o mundo vive sob o tenebroso impacto dos atos terroristas que sacudiram Paris, deixando 130 mortos e centenas de feridos. No Brasil o tema, como era de se esperar, dominou o noticiário das TVS, as manchetes de jornais, notícias e comentários das emissoras de rádio. Também invadiu as redes sociais tão utilizadas pelo Estado Islâmico para disseminar suas teses ao redor do mundo, sobretudo na Europa.

Não há dúvida de que é preciso se indignar diante dos atos terroristas, combatê- los e recriminá-los. Não é possível se conviver com o radicalismo de insanos que, em nome de uma religião própria _ desvinculada da própria raiz e dos valores do islamismo – tentam impor suas crenças ao mundo civilizado e saem matando civis pelo simples fato de estarem praticando uma das mais saudáveis atividades humanas: a diversão.

Dados da organização Global Terrorism Database, que acompanha os atentados terroristas ao redor do mundo, apontam para o assassinato de 16 mil pessoas em 2014 nos mais diversos países, vítimas de ataques terroristas.

Já a guerra brasileira, que virou rotina e não nos causa mais tanta indignação, provocou no mesmo ano a morte de mais de 50 mil pessoas, uma base de 143 por dia, segundo o Mapa da Violência acompanhado pelo governo federal. Morrem por dia no Brasil mais pessoas assassinadas que todos os que tombaram em Paris na fatídica noite de 13 de novembro. No ano passado, segundo a Organização Mundial de Saúde, em todo o Japão foram assassinadas apenas 11 pessoas.

Por que o drama nacional não chama tanta atenção? Além da rotina diante de um problema do nosso dia-a-dia, sobretudo nas grandes cidades, alguns articulistas que se debruçaram sobre o assunto na última semana chamaram atenção para algo que incomoda: aqui as mortes são de pessoas pobres, da periferia.

Na França bem menos gente morreu mas eram pessoas de classe média. Diante do drama francês, a classe média brasileira, que faz opinião, colocou-se no lugar daqueles jovens e adultos surpreendidos numa noite de diversão, em uma cidade libertária. A pergunta então surge na cabeça de todos: podia ter sido eu.

 

Na periferia de nossas cidades sucumbem jovens que vitimados, quase sempre, pela falta de oportunidades e pelo tráfico de drogas estão longe de nossa convivência, sucumbem em ruas estreitas, casebres insalubres em noites pavorosas. Mas só para eles, não para nós.

 

O mais grave é que enquanto Obama, Putin, Holande se debruçam sobre os seus mortos, fazem alianças e buscam saídas, aqui o Governo Federal tem dado as costas para a matança de jovens brasileiros, deixando a bronca exclusivamente na conta de governadores e prefeitos, em grande parte apavorados.

Enxuga-se gelo de norte a sul. Há exceções evidentemente como Pernambuco que lançou um vigoroso Pacto pela Vida, fez cair vertiginosamente os assassinatos, mas está sem pernas para segurar nas prisões os envolvidos pois o sistema prisional se esgota por falta de recursos para investimento.

São Paulo, por seu turno, conseguiu, com muita pesquisa e ação, algo inimaginável nas duas últimas décadas. Só de 2012 a 2012 reduziu de 38 para 15,1 por cem mil habitantes o número de assassinatos o que foi considerado uma proeza pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz que desde 1998 faz o Mapa da Violência no Brasil.

No país como um todo mata-se 25,81 pessoas por 100 mil habitantes quando a OMS considera 10 mortos por 100 mil uma “epidemia”. Por isso em 2015 no Mapa Mundial da Violência da OMS o nosso país ficou em 11.o lugar entre os países onde mais se comete assassinatos no mundo. Só ganhou para outros latino-americanos.

O vice-presidente do Forum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio Lima conclui alarmado, como declarou ao G1, “não dá para tapar o sol com a peneira. Ou nos mobilizamos ou o Brasil vai ver ser deflagrada uma guerra civil em nosso território”.

Outros pesquisadores acham que isso já existe, sobretudo nas periferias de nossas metrópoles. Um drama, infelizmente, muito superior, ao que nos indigna e nos causa perplexidade na Europa.

  • Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher-PE