Opinião

“De volta ao começo”, por Sandra Quezado

Sandra QuezadoEstamos vivendo tempos tão difíceis que não encontro outra solução que não seja o retorno às origens. No começo está a nossa essência junto do original do mapa que traça o nosso rumo. “De volta ao começo” é o título de um livro, de autoria do jornalista Raul Christiano, publicado em 2003, que relata o nascimento do PSDB e sua trajetória até 2002.

Trata-se de leitura obrigatória para a militância, dirigentes e candidatos. Como eu não estava lá, no começo, gosto de ler e vivenciar o clima que antecedeu a criação do partido que é pura emoção. Fico orgulhosa daqueles militantes tucanos, recém saídos do MDB, que escreveram a nossa história e que tiveram que conquistar seu espaço lutando contra a censura, a tortura e a repressão que marcaram a ditadura militar instaurada após o golpe de 1964.

Ao reler a seqüência cronológica a partir da qual o autor conta com detalhes a história do começo, me detenho nos fatos importantes para compreender os momentos que antecederam e motivaram a emenda Dante de Oliveira.

Foram momentos muitos difíceis e talvez em razão disso, ricos de ideais e ações. No ano de 1965, o Presidente da República,Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, editou o Ato institucional nº 2, extinguindo todos os partidos políticos, tornando indiretas as eleições para Presidente da República e Governadores e estabelecendo o bipartidarismo. Em decorrência, surgiram a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), governista, e o Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, de oposição.

Em 1978, vivendo o conturbado período da ditadura militar, Fernando Henrique e Franco Montoro começaram a participar de grandes campanhas pela anistia para presos políticos e exilados e a favor de eleições diretas para prefeitos e governadores. O movimento deu certo porque em 1982, pela primeira vez, desde 1965, os brasileiros elegeram os governadores pelo voto direto. Franco Montoro foi eleito governador de São Paulo. Fernando Henrique, que era suplente de Montoro, assumiu o Senado Federal. Mário Covas, foi para a prefeitura de São Paulo e em 1983, começou o movimento pelas eleições diretas para Presidente da República.

No Congresso Nacional, o Deputado Federal DANTE DE OLIVEIRA, do PMDB-MT, apresentou a Proposta de Emenda à Constituição de nº 5 de 1983, que dispõe sobre a eleição direta para Presidente e Vice-Presidente da República. Em sua justificação, o Deputado certifica que “Ao submetermos esta Proposta ao exame do Congresso Nacional, estamos certos de que seremos porta-vozes do anseio da Nação, da imensa maioria do nosso povo, que, há muito, acalenta esta aspiração, mais forte agora, após ter ressuscitado politicamente, com a última eleição direta para governador. A presente Proposta de Emenda à Constituição deve ser vista, também, como a única solução à crise econômica, política e social porque passa o País. A nós basta um mínimo de patriotismo, de honestidade e de sentimento humano, para entendermos que é hora de mudar.”

Com a emenda DANTE, o movimento das diretas já tomou enormes proporções. Apesar do forte apoio popular, a emenda foi rejeitada pela Câmara dos Deputados, no dia 25 de abril de 1984, porque deputados governistas não compareceram para votar. O impacto da rejeição da emenda, porém, deflagrou um novo movimento da oposição, apoiada pela mídia e pelo povo contra o governo militar: reunidos no Colégio Eleitoral de 15 de janeiro de 1985, os militares foram derrotados com a eleição de Tancredo Neves.

Em 1988, nasceu o PSDB, formado por Mário Covas, Fernando Henrique, José Richa, Franco Montoro e outros parlamentares muito representativos.

Em 1997, Dante de Oliveira filiou-se ao PSDB. Sua luta pela democracia se tornou um marco que deve ser relembrado e reverenciado para sempre pelos brasileiros.

*Advogada e presidente do PSDB Mulher-DF