Dilma Rousseff caminha para o término de seu mandato. Entregará a seu sucessor um país bem distinto daquele que recebeu. Como prometeu, o país mudou. Mas, infelizmente, mudou para pior: o processo de queda da desigualdade de renda, que vinha há 20 anos, estagnou, as taxas de crescimento econômico declinaram e a inflação subiu. A desindustrialização segue a todo vapor, com perda relevante de empregos mais qualificados e mais bem remunerados. As respostas do governo têm sido desastradas e persistentemente equivocadas.
Em fins de agosto, o IBGE divulgou os resultado do PIB do segundo trimestre e confirmou o temido: a economia brasileira está em recessão. Do ponto de vista técnico, o diagnóstico se aplica quando há dois resultados trimestrais negativos seguidos, algo que não acontecia no país desde a virada de 2008 para 2009. Foi precisamente o que ocorreu no Brasil entre janeiro e junho passado: quedas de -0,2% e -0,6%, respectivamente. Entre os países que já divulgaram estatísticas para o trimestre, só ficamos à frente de Islândia e Japão (ver gráfico na página seguinte). No acumulado no semestre, o crescimento brasileiro foi de apenas 0,5% em relação ao mesmo período de 2013.
Na média de seu mandato, Dilma entregará expansão entre 1,6% e 1,8% ao ano, enquanto os países da Aliança do Pacífico (Peru, México, Chile e Colômbia) crescerão 4,5%, segundo projeções de mercado. Entre 2011 e 2014, todos os países sul-americanos crescerão mais que o Brasil e, em toda a América Latina, só El Salvador ficará abaixo de nós. Esse descolamento do país em relação aos vizinhos não ocorreu em nenhum dos dois governos anteriores, de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva.
Tal dinâmica tem as digitais da presidente Dilma. É fruto de sua política econômica intervencionista, pouco transparente, geradora de risco e incertezas para investidores e para a sociedade em geral. O problema da economia brasileira hoje não é segredo para ninguém: falta de confiança, consequência do descontrole do atual governo sobre variáveis centrais como o equilíbrio das contas públicas e a inflação, desaguando num nível de crescimento muito aquém do que poderíamos estar alcançando.
Futuro comprometido
Nos detalhes, os dados do PIB revelam quadro ainda mais grave. As dificuldades não estão apenas num presente de frustrações, mas apontam também problemas futuros. Para crescer de maneira sustentável, uma economia depende do aumento da produtividade e da expansão dos investimentos. Nos anos Dilma, ambos vão mal.
A produtividade veio perdendo fôlego e agora simplesmente parou de crescer. Quanto aos investimentos, quando medidos pela formação bruta de capital fixo, tiveram quedas preocupantes de, respectivamente, -2,8% e -5,3% nos dois últimos trimestres.
Como proporção do PIB, a taxa de investimento encontra-se hoje em 16,5% do PIB, o pior resultado desde o segundo trimestre de 2006, ou seja, em oito anos. O indicador deve fechar o ano por volta de 17% do PIB, bem abaixo da promessa da presidente, quando eleita, de elevá-lo a 24% do PIB, o que nos deixaria em linha com economias de características similares à nossa.
Variação do PIB no 2° trimestre*
Indústria despenca
A abertura do PIB pela ótica da oferta, isto é, do ponto de vista de quem produz, mostrou que a agropecuária é hoje o único setor a impedir que a economia não despenque de vez. Cresceu 0,2% no segundo trimestre. No outro extremo, a indústria permaneceu na sua trajetória ladeira abaixo, acumulando o quarto trimestre seguido de queda (sempre em relação ao trimestre anterior). A participação da indústria da transformação no PIB caiu a 10,7%, índice menor até do que o observado à época do governo JK.
Isto é, com Dilma, a desindustrialização tornou-se processo ainda mais grave e efetivo. As medidas tomadas por seu governo, no lugar de servir para combater esta dinâmica preserva, levaram a seu agravamento. O pior é que o quadro de deterioração já afeta a vida do trabalhador brasileiro: apenas entre abril e agosto deste ano, mais de 80 mil empregos foram eliminados na indústria de transformação em todo o país, segundo verificou o Ministério do Trabalho por meio do Caged.
Sem refresco na inflação e nos juros
No campo das expectativas, isto é, tomando-se os dados que mostram a visão do mercado e da sociedade a respeito do futuro da economia, também vemos um quadro negativo instaurado. Instituições como a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) projetam crescimento de apenas 0,3% para o PIB brasileiro neste ano e de 1,4% em 2015. Foram as maiores quedas entre todos os prognósticos, agora revistos, feitos por seus analistas.
Com a inflação não deve se dar algo muito diferente. Os índices de preços não devem sair de perto do teto de 6,5%. Segundo o Banco Central, a possibilidade de cumprimento da meta só está no horizonte a partir de 2016 – e olhe lá. O fracasso da política monetária fica expresso na taxa básica de juros, que chegará a dezembro possivelmente em 11% ao ano, mais alta do que estava quando Dilma assumiu e suficiente para tornar o Brasil o país com as mais elevadas taxas reais do mundo.
A atual recessão é embalada pelo discurso ilusionista do governo. É como se existissem dois Brasis: o da propaganda oficial do PT e o da realidade sentida na pele pelos brasileiros. Os indicadores que se sucedem a cada semana são apenas um conjunto de evidências dessa realidade, que já é, infelizmente, muito conhecida de todos nós. A verdade é que aquilo que Dilma Rousseff, com sua retórica do medo, diz que acontecerá com o país se seus adversários vencerem as eleições de outubro já está ocorrendo hoje mesmo, bem debaixo do nariz dela. Enquanto ocupar a mais importante sala do Palácio do Planalto, não dá para ela terceirizar esta responsabilidade.
*Rede45