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Emoção e muito debate na manhã do Seminário de Gênero: Bandeiras Eleitorais

Foto: Divulgação

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Não houve quem ficasse de fora dos debates da manhã do segundo dia do Seminário de Gênero: Bandeiras Eleitorais, que o PSDB Mulher Nacional e a Fundação Konrad Adenauer oferecem em parceria a um grupo fechado de cem mulheres em São Paulo, no Hotel Transamérica.

O excelente nível das palestrantes aliado à relevância dos temas escolhidos elevou a temperatura ambiente, deixando um gosto de “quero mais” em todas as integrantes da plateia.

Saúde da Mulher

O primeiro painel pode parecer repetitivo para quem acompanhe nossos cursos, embora a redundância more no descaso com que as instituições persistem em cuidar da saúde feminina, se é que “cuidar” pode ser considerado o termo adequado.

Dra. Cristina Lopes, vereadora e presidente do PSDB Mulher de Goiânia, foi a escalada para abrir e moderar o primeiro painel do dia e dispensa apresentações, tanto pelo exemplo de vida quanto pelo lindo trabalho como chefe do Serviço de Fisioterapia do Instituto Nelson Pícolo e Pronto Socorro de Queimaduras desde 1991 e fundadora do Sociedade Brasileira de Queimaduras.

Para o primeiro palestrante, Dr. Luiz Henrique Gebrin, livre-docente de Mastologia da UNIFESP e diretor do Centro de Referência da Saúde da Mulher do Governo do Estado de São Paulo ( Hospital Pérola Byington), – que começou destacando que a saúde começa na família, “um ambiente que muitas vezes está omisso e muitas vezes se reflete naquilo que o indivíduo vai viver ao longo de sua vida” – existem hoje vários desafios na saúde da mulher.

Fórum Saúde da Mulher no Século XXI – Desafios

Ficou claro que o importante é: não adoecer, o que depende do núcleo urbano, familiar, da dieta e da atividade física. No século XIX os spas pregavam atividade física para oxigenar células.

Educação e prevenção, como maneira de evitar drogas, acidentes, morte materna e câncer. Em um hospital de 140 leitos como o dele é preciso ter em mente algumas prioridades: acesso, resolutividade e equidade são alguns deles. Garantir acesso e tratamento igual a todos, seria a tradução mais exata em um sistema que prioriza o tratamento e não a hotelaria.

Dr. Gebrin deixou claro que o tripé em que seu atendimento se baseia tem a segunda de suas bases no Projeto Bem-Me-Quer: o atendimento às mulheres vítimas de violência sexual, com ambiente de acolhimento amigável para atendimento de vítimas fragilizadas, muitas delas crianças.

O último item do tripé é a prevenção e combate ao câncer de mama. O problema é desproporcional; o número de tumores grandes é muito maior do que os pequenos. O tempo gasto à espera de exames que detectem o problema em seus estados iniciais é imperdoável. Se os exames certos forem feitos periodicamente, haverá dinheiro para prevenção para todas.

“No nosso hospital fazemos todos os exames em um único dia, quem não tem câncer, parabéns, não tem. Quem tem começa a tratar imediatamente”, Dr. Luiz Henrique Gebrin.

No nosso corpo ninguém põe a mão

Dra. Tânia Di Giácomo Lago, médica sanitarista e professora assistente do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, começou seu painel com um alerta:

Mulheres ainda correm riscos de morte por problemas de saúde

. Câncer de mama, nossas taxas estão aumentando em todas as regiões do Brasil.

. Câncer de colo uterino, prevenido por exame simples a cada três anos, também aumentou, caindo apenas nas capitais. Mesmo diante de uma doença que há mais de 60 anos se sabe como evitar.

. Mortalidade materna no Brasil caiu durante FHC, estacionou com ligeira elevação nacionalmente de lá para cá, com grande elevação no Nordeste, Norte, Sudeste. Queda apenas no Sul e Centro-Oeste.

Esses dados mostram que quando a mulher não consegue regular seu ciclo de vida, quem vai regula-lo é a reprodução. Do ponto de vista da reprodução, aumentou no Brasil o fosso entre mulheres ricas e pobres. Não é a saúde que faz isso, mas grande parte do problema está nesse setor.

“No Brasil todo mundo dá palpite na reprodução da mulher: a Igreja, o Governo, o Congresso. Ela é a idiota em quem todos mandam e ninguém garante sequer a sua saúde reprodutiva”: Dra. Tânia Di Giácomo Lago, médica sanitarista, professora assistente do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

No Brasil, 46% dos filhos nascidos entre 2001 e 2006 não foram planejados, apesar disso as mulheres continuam sem acesso aos métodos de anticoncepção. As mulheres ricas podem se programar, as mulheres pobres, não.

A professora encerrou seu painel protestando contra a aprovação do PL 5069 na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e pedindo que as mulheres de todos os partidos façam o mesmo em relação aos parlamentares que aprovaram a matéria.

Viver, Sentir e Agir

Para a Dra. Albertina Duarte, médica e coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres do Governo de São Paulo, a vulnerabilidade da adolescente deve ser combatida por um programa de proteção e combate a indicadores e características da idade, com espaços amigáveis de acolhimento, atendimento multiprofissional e atividades grupais. Com uma linguagem mais próxima da problemática das meninas, conseguiu-se trabalhar com maior êxito a questão da gravidez adolescente.

O resultado: redução de 39,8% na 1ª gestação e de 47% na 2ª gravidez adolescente. São Paulo, de 1998 a 2013, conseguiu reduzir em 17% a gravidez na adolescência, o Brasil, em 1%.

Analisando as causas de morte feminina, Dra. Albertina mostra que no Brasil do século XXI, as mulheres casadas são as grandes vítimas da AIDS.

Coragem

Tereza Nelma, vereadora do PSDB Mulher de Alagoas em tratamento contra o câncer de mama, pede a palavra para elogiar as palestras que acabou de ouvir e pede que os conteúdos sejam dados em Maceió. “Eu pude vir a São Paulo me beneficiar com tratamentos que minhas conterrâneas desconhecem. O que estou ouvindo aqui seria extremamente valioso para elas”.

Educação, Formação e Cidadania

Rita Camata abriu a segunda mesa sugerindo que o PSDB Mulher Nacional faça uma moção de repúdio contra o PL 5069 encaminhando o documento às bancadas da Câmara e do Senado Federal. “O PSDB Mulher faz, não “cacareja”, estou muito feliz por estar aqui porque está na hora de fazer barulho”, comemorou.

Maria Helena Guimarães, socióloga e ex-secretária de Educação do Estado de SP, atualmente Diretora Executiva da Fundação SEAD, analisando o Plano Nacional de Educação, questionou o fato de a maior parte dos recursos destinados ao setor virem do Pré-Sal.

“Como contar com recursos de uma área que, hoje sabemos, viria de uma extração que é cara demais para ser lucrativa? Não estamos encarando a política educacional como uma política social integrada com a área da saúde, de creches e demais áreas. Enquanto não houver dinheiro existem ações afirmativas que podemos implementar”, afirmou Maria Helena, citando, entre outros, os centros de repouso para idosos e centros de recreação para jovens, como exemplos de projetos que poderiam funcionar integrados a projetos de educação e acolhimento para os anos iniciais de ensino fundamental.

Tragédia brasileira: universidades que não ensinam

“Apenas 50% das crianças ao final do ensino fundamental estão alfabetizadas. O Brasil, em pleno século XXI, não sabe alfabetizar suas crianças e isso é vergonhoso. Os professores saem das faculdades despreparados. Sejam públicas ou privadas, nossas faculdades formadoras de professores são uma desgraça. 50 milhões de alunos nas escolas públicas pagam por isso.”: Maria Helena Guimarães

A educação de jovens adultos, para Maria Helena Guimarães, não é prioridade brasileira. “Precisamos investir na alfabetização de nossas crianças”, diz ela, “olhar para o futuro, porque é disso que o país depende”.

O governo federal acabou com o Brasil e todos os estados do país terão que enfrentar a queda de arrecadação e a crise econômica prolongada que está aqui. Temos a obrigação de pensar em alternativas que possam ser usadas em tempos como os de agora, encerrou.

Abrinq na luta pelos direitos e cidadania

Maitê Fernandez Gauto, Secretária Executiva da Fundação ABRINQ, explicou que a missão da entidade é a defesa dos direitos e o exercício da cidadania das crianças e adolescentes em todo o Brasil.

Muitas crianças na faixa entre 5 e 17 anos estão fora da escola, na realidade quase dois milhões, segundo o IBGE, segundo dados de 2010. Evasão escolar e má qualidade de ensino – à medida que as séries progridem o ensino piora – também são uma grande preocupação para Maitê.

A pequena taxa de cobertura das creches para a faixa de 0 a 3 anos, que não chega a 23% em todo o Brasil, também foi citada como motivo para evasão escolar de mães adolescentes e ingresso precoce no mercado de trabalho.

“A questão da educação infantil nos municípios e a construção de creches permite aumentar o percentual mínimo dos recursos de complementação da União para o Fundeb de 10% para 50% do valor total do Fundo”. Essa questão é tão prioritária para a fundação que Maitê explicou que o PL 7029/2013, atualmente em tramitação na Câmara, contou com o respaldo e incentivo da ABRINQ.

Maceió vira uma nova página

Ana Dayse Dória, Secretária de Educação de Maceió e Reitora Honorária da UFAL, “temos muitos desafios em Maceió, virando uma nova página na história educacional de nossa cidade”.

O maior número de escolas está no centro da cidade, Maceió conta com 135 escolas para abrigar 7.468 crianças, um grande desafio. Creches são apenas duas.

Atualmente o Programa Viva Escola busca alcançar a qualidade da educação pública com equidade, baseado em infraestrutura, ações pedagógicas, formação continuada de professores e fortalecimento da gestão escolar.

“Maria Helena está certíssima, nosso maior desafio é a formação do professor”; Ana Dayse Dória, “Como diz Mozart Ramos: Estamos trabalhando com escolas do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI”.

A partir de agora as palavras de ordem na Secretaria de Educação Municipal são: inclusão, qualidade e inovação.

Educação como prioridade

“A produção de conhecimento e cultura assim como a preocupação ecológica também fazem parte de nossas preocupações e metas”, avisou Ana Dayse, que finalizou seu painel mostrando que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, o IDEB de Maceió vem aumentando muito nos últimos anos e esse aumento se deve quase que exclusivamente ao investimento feito em professores.

Rita Camata encerra o painel justificando o tempo a mais dado à secretária Ana Dayse porque a realidade de um país continental como o nosso precisa ser conhecida por todos. “Precisamos ter essa visão do todo”. Solange Jurema pede a palavra para dizer que foi esse o motivo da presença da palestrante, “fiz questão de trazê-la, para que todos soubessem das dificuldades enfrentadas por um dos estados mais pobres do Brasil”.

Habitação, Meio Ambiente e Mobilidade Urbana

 

Mudança de Clima e Mobilidade

Laura Valente de Machado, Consultora Sênior WRI Brasil, começou falando sobre a importância da mulher na política e confessou ser preconceituosa “acho as mulheres seres muito mais éticos”.

Sua palestra mostrou ser importante ter a capacidade de fazer a relação entre o problema global e o local. A questão climática é um problema cada vez mais grave e precisaremos olhar cada vez mais para ele, minha impressão é que precisaremos muito das mulheres para enfrenta-lo. O planeta está com sua temperatura média sendo aumentada em um grau que não acontecia antes, nos últimos 200 anos podemos ver que a aceleração se deu a partir dos anos 50.

“O sistema climático vai se desestabilizar e não teremos controle para evitar suas consequências. O caminho alternativo para evitar esse futuro existe, os meios existem, falta a disposição de mudar e a hora é essa. Estamos acomodados no pior”: Laura Valente

As principais causas da atividade humana são fontes de emissão de combustível fóssil. Precisamos esquecer o pré-sal e apelar para fontes de energia não poluentes.

“Outra questão que o Brasil precisa atacar imediatamente é a questão do lixo e do saneamento básico, não há como apregoar que somos uma das dez maiores economias do mundo e não investir em saneamento”.

Para Laura, o foco deve ser a inovação em economia de baixo carbono e melhoria de práticas de gestão. Quem está na política tem obrigação de ser responsável, buscando soluções mitigadas como etanol, energia solar, eólica e até do lixo ou tratamento de esgoto, como já o fazem Alemanha e Inglaterra.

Responsabilidade de todos

A palestrante alertou para a responsabilidade individual nessa questão tão delicada. Não adianta cobrar dos agentes públicos posturas responsáveis e ecológicas e não fazer nossa parte. Coleta seletiva de lixo, consumo consciente, preocupação com o meio-ambiente e aquecimento solar da água doméstica e não construir em encostas foram alguns dos exemplos citados por ela.

Calçadas hostis

Marina Kohler Harkot pegou o gancho dado por Laura e explicou que seu foco é a questão da mobilidade feminina nas grandes cidades. Quando a mulher começa a perceber que ser mulher e estar nas ruas, dependendo de transporte coletivo, sem acesso a banheiros públicos e, consequentemente mais suscetível às infecções, a expõe a perigos muito maiores.

“As calçadas não estão preparadas para cadeirantes, carrinhos de bebê ou carrinhos de feira”: Marina Harkot, “se os homens tivessem esses problemas talvez eles já tivessem sido resolvidos”.

Para a pesquisadora o padrão de mobilidade feminino é totalmente diferente do masculino. Os homens, normalmente, vão do trabalho para a casa. A mulher costuma deixar os filhos na creche, passa no mercado, vai ao trabalho, passa na farmácia, apanha os filhos e volta para casa e nem sempre esse trajeto é coberto por linhas de ônibus em sua totalidade. “Nos casos em que há apenas um carro na garagem, esse veículo é usado normalmente pelo homem”.

“Precisamos pensar em uma mudança de padrão de mobilidade que contemple o que realmente é a vivência urbana, o direito à cidade”, arremata, sugerindo que haja uma pulverização nos centros de trabalho e comércio de rua.

Casamento ou vida

Cleuza Ramos, fundadora da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo, veio da roça com 12 anos onde faltava tudo, menos comida. Na cidade continuou faltando tudo, até comida. Foi na Igreja católica que ela começou seu trabalho social e acabou, de tanto rezar pedindo a Santo Antônio por um bom marido, por conhecer um empresário rico com quem se casou.

A vida de rica não era para ela, depois de um tempo o marido mandou parar com o ativismo e ela pediu para parar que queria descer. Voltou para a favela, acabou trabalhando com o PT na administração Luíza Erundina, se desencantou e continuou apenas com o ativismo na Igreja.

“Mudei de marido, mas não mudo de bairro, tive uma ideia brilhante; juntamos um grupo de pobres e compramos um pedaço de terra. Só que não sabíamos que tinha uma lei que mandava colocar infraestrutura. Ou você invade ou não compra. Matamos umas cobras e era crime ambiental. Fui processada por formação de quadrilha, cinco processos”: Cleuza Ramos

Iniciativa popular

Absolvida em todos eles, Cleuza procurou o governador Mário Covas, negociou um convênio que veio a permitir que 25 mil famílias hoje morem em casas construídas em terrenos comprados por eles, com infraestrutura garantida pelo estado de São Paulo.

“Zeramos nossa conta de água, só usamos água da chuva para tudo, menos para beber”: Cleuza, “Temos hoje quase 30 mil famílias no movimento, não sou eu, não é a “Cleuza”, somos todos nós. Aqui no Brasil não temos só índio e prostituta, temos mulheres que acordam todos os dias para criar seus filhos, estudar e trabalhar. Esse é o nosso trabalho”.

Caráter, força e fé

“Meu marido é político, já falei pra ele que não quero vê-lo usando carro oficial. Da verba de 300mil por ano a que ele tem direito, só usou oito, é assim que tem que ser”: Cleuza Ramos.

“A História é feita por cada um de nós. O mundo não vai ser mudado por Obama, pelo Papa ou por alguém importante, vai ser mudado por cada um de nós. Olhem para mim, que não sou nada. Tenho a quarta série primária, como minha mãe dizia: sou feia; e no entanto recebi um prêmio na Itália que só foi dado a três pessoas: Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II e a mim. Só é preciso ser mulher, somos especiais”, encerrou Cleuza.

Angela Sarquiz, presidente do PSDB Mulher do RS, pediu ações pelas mulheres nas prisões que estão abandonadas, carentes das atenções das políticas de gênero.

Marina Caetano encerra o painel comentando a beleza e a emoção dos depoimentos e convidando todas as participantes à reflexão sobre a importância do que foi colocado.

Após a pausa do almoço a programação continua, confira abaixo:

Serviço:

14:00 Empreendedorismo, Terceiro Setor e Voluntariado

• Mônica Galiano – Secretária Executiva de CLAVE – Conselho Latino-Americano de Voluntariado Empresarial y Consultora Sênior de IAVE – International Association for Volunteer Effort
• Michelle Larissa Nascimento –Coordenadora do programa Economia Solidária da Secretaria de Trabalho Abastecimento e Economia Solidária de Macéio (AL)
• Bruno Caetano – Sociólogo, Mestre e Doutorando em Ciências Políticas pela USP, Diretor Superintendente do SEBRAE/SP

 

16:00 Fechamento

• Fátima Jordão – Socióloga, Conselheira do Instituto Patrícia Galvão
• Solange Jurema – Presidente do PSDB-Mulher Nacional
• Marina Caetano – Coordenadora de Projetos da Fundação Konrad Adenauer

 

Moderação: Fundação Konrad Adenauer e Secretariado Nacional das Mulheres do PSDB