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Seminário de Gênero: Bandeiras Eleitorais – “Isso aqui não é uma loja, somos uma nação”

Foto: Fundação Konrad Adenauer
Foto: Fundação Konrad Adenauer

Foto: Fundação Konrad Adenauer

O Seminário de Gênero: Bandeiras Eleitorais que acontece até quinta-feira (12) em São Paulo, trouxe novos olhares sobre assuntos já conhecidos das cem mulheres que participam do evento, uma parceria do PSDB Mulher Nacional com a Fundação Konrad Adenauer.

Com abertura da presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, Solange Jurema, que agradeceu  especialmente a José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, por quebrar com sua presença a hegemonia feminina no palco, o discurso imprimiu leveza ao evento. Solange destacou a presença de representantes de 24 estados no auditório e disse de sua esperança de, no próximo encontro, poder contar com todos os 27.

“Os temas que escolhemos para debater  e as pessoas que chamamos para fazê-lo, em sua grande maioria pessoas de fora do PSDB, são muito importantes ao universo feminino e devem ser levados em conta, tanto no período eleitoral quanto na vida, como forma de abrir a cabeça, entender melhor determinados temas e a própria realidade”, destacou Solange Jurema.

“Precisamos debater melhor os temas femininos; os dados divulgados pelo “Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres”, com resultados chocantes, por exemplo”. Em áreas em que nos é permitido avançar; como no mercado de trabalho, ou nas universidades, fomos em frente, mas nas políticas em que dependemos de algum incentivo, como no caso da violência, há sempre um freio, algo que nos impede, encerrou.

O presidente do ITV, José Aníbal contou haver conhecido, em outro evento da Konrad Adenauer no Rio de Janeiro, uma prefeita chilena, que o encantou, pela eficiência com que fazia uso de sua parca verba em favor de políticas sociais de qualidade.

“Fiquei tão impressionado que me coloquei à disposição da KAS, para promover novos encontros com mulheres daquele perfil, inclusive para debater essa questão da violência contra a mulher”, comentou.

José Aníbal falou um pouco sobre a situação em que encontrou o Instituto Teotônio Vilela e os planos que pretende desenvolver à frente dele, “quero para o ITV um protagonismo como o que alcançou durante a gestão de Yeda Crusius”, e provocou as mulheres presentes: “Já temos todos esses eventos programados ou realizados. Inventem os temas, faremos com vocês”.

José Aníbal encerrou citando uma fala de Ruth Cardoso: “Os beneficiários dos programas deveriam se sentir autônomos, independentes de lideranças políticas que fossem os “patronos” dos programas sociais”. Viva dona Ruth.”

Foto: Fundação Konrad Adenauer

Foto: Fundação Konrad Adenauer

Em sua fala, Yeda Crusius contou  da importância de reencontrar os amigos, e encontrar pessoas novas. “Tenho certeza que o que José Aníbal disse de mais importante foi que o ITV está pronto para receber novas propostas. A conectividade entre o PSDB Mulher e o ITV faz falta. Estamos vendo nascer um movimento que assusta por ser desconhecido, por estarmos vivendo em um mundo que passa por um mundo conservador como nunca. O Brasil está cada vez mais um país violento e depende sim, da ação organizada da mulher, ajudar a transformar essa sociedade que está cada vez mais violenta.”

“Tenho ouvido nesse momento difícil, uma ministra comentar o momento atual e penso: Uai, mas ela não é desse governo? Não foi nessa gestão que o assassinato de mulheres aumentou em 21% nos últimos 10 anos? O que ela está fazendo para combater o problema, além de se queixar? O PSDB Mulher não pode se furtar a debater essas questões”, encerrou Yeda.

Nancy Thame, presidente do PSDB Mulher SP,  alertou: Se formos falar da questão da mulher, teremos que falar de gênero. “Será que nós não nos assemelhamos aos homens quando temos poder?”,questionou. “A auto regulação é um dever da agente política e precisamos debater isso. Vaidade não pode estar em um simples santinho de campanha. Defendemos cotas. Quando se fala em espaço cedido às mulheres é triste, eu sei, mas é preciso começar a botar o pé na porta, depois falamos em igualdade”..

Mulheres e Política

Jacira Melo, cientista política e conselheira da Agência Patrícia Galvão, “política também é lugar de mulher, e no entanto temos uma das menores taxas do mundo quando se trata de representação feminina parlamentar. Embora a baixa participação feminina na política seja um problema mundial, no Brasil a situação é ainda pior. Somos 103 milhões de mulheres, segundo a PNAD 2011, 48% da força de trabalho, nosso crescimento de escolaridade é estupendo, somos 52% do eleitorado feminino”.

Para a pesquisadora, é preciso ressaltar o desinteresse ou não permanência na vida pública por parte das mulheres, “simplificando o raciocínio, é possível dizer que os partidos e sindicatos são espaços hierarquizados com disputas permanentes de poder, historicamente ocupados pelos homens. A desigualdade de gênero é institucionalizada no espaço partidário, o que equivale a dizer que política não é lugar de mulher, existe essa visão.”

Essa percepção tem a ver com o conceito secular, enraizado, que o espaço de poder da mulher é privado, e o do homem, público. Quem está no poder não abre mão dele, vai depender de nós chegar a ele.

“A Lei de Cotas tem provocado alguma mudança, provocando maior procura de candidatas pelos partidos, mas isso não se traduziu em aumento de eleitas. As mulheres têm uma visão bem nítida de sua condição de candidatas de segunda classe”.

“O lugar das mulheres no Parlamento tem a ver com o desenvolvimento democrático e social do país em questão, é indicador aceito internacionalmente”, disse Jacira.

Para a segunda participante, a arquiteta urbanista Alexandra Reschke, é importante ter em mente que sem Ruth Cardoso, muito do que se conseguiu em questões de gênero e políticas públicas seria realidade e fala sobre o papel da mulher na sociedade hoje e ontem.

Alexandra Reschke fala sobre o olhar de empatia e cuidado que a mulher lança sobre as políticas públicas e cita o livro “O Cálice e a Espada” de Riane Eisler, que fala sobre as sociedades igualitárias e pacíficas dos períodos Neolítico e Calcolítico (Idade do Cobre), presente na capa de nosso site como dica de leitura.

“É importante haver espaço de apoio e abraço dentro da política”, diz Alexandra, para quem, como diz Riane Eisler, em seu livro, estamos vivendo uma era doentia de esgotamento e incluir definitivamente uma relação de envolvimento, não de desenvolvimento desenfreado.

Irina Frare Cézar, socióloga, citou Relatório 2007 Situação Mundial da infância – Mulheres e Crianças, para mostrar que mulheres têm maior capacidade de distribuir recursos de maneira mais equânime e sua maior participação parlamentar.

“Homens costumam priorizar questões estruturais, mulheres, os sociais. Quando se aumenta a participação feminina nas mesas de acordo, normalmente os conflitos se encerram ou diminuem”.

Somos tidas como emocionais, fracas, menos capacitadas emocionalmente. Além do mais temos que encarar uma dupla jornada. O relatório da Unicef chega a algumas conclusões que poderiam ajudar a mudar esse quadro: educação; adoção de sistema de cotas e a ajuda dos homens. Temos que lutar, pedir e exigir de nossos parceiros que nos ajudem. Não é por nós ou por eles, é pela sociedade em geral”.

Rita Camata discorda, “mulher faz política desde o momento em que nasce. Me identifico com a Alexandra; acho que a forma como fazemos política é com amor, com doação e paixão. Sempre trabalhei respaldada por movimentos sociais. Tínhamos bandeiras, propostas e programas. O que está faltando é proposta, um programa sério. Há duas eleições não me candidato por não ter o que dizer ao eleitor”.

Além da crise que o país enfrenta, Rita frisa que muitas mulheres se elegem e passam a fazer política exatamente como os homens. “Por uma questão de sobrevivência, não vou julgar ninguém. Não vamos buscar sobrevivência e esperar que abram espaço não. Temos que ter programa, suporte de fato para enfrentar esse machismo tão forte dentro dos partidos e investir

Análise da Conjuntura Atual

Rodrigo Estramanho, Cientista Político, Pesquisador e Docente da FESPSP, analisa o movimento de 2013 e alerta para o perigo de polarização ideológica decorrente da fragmentação partidária.

“O discurso do ódio não é necessariamente de direita ou de esquerda, ele permeia inclusive essa parcela que rejeita partidos.” Para o palestrante, o momento atual é propício à estetização da política, quando se passa a transmitir valores sem maior reflexão e o próximo passo é a rejeição aos partidos.

Rodrigo faz um paralelismo entre a estetização da política e o fascismo e mostra que o cenário é propício ao surgimento de um “salvador da pátria” e encerra avisando que o momento é de fazer política de pequenos grupos. Em sua opinião o mundo está tão complexo que não se consegue mais pensar em política para o todo.

Não somos uma loja, somos uma nação

Humberto Dantas, Cientista Político, Conselheiro Fundação Konrad Adenauer, começa citando pesquisa Ibope que mostra que as seis instituições que mostram a lógica da democracia estão nos 6 últimos lugares da pesquisa. Nunca antes na história deste país estes índices chegaram a um índice tão baixo. “Como vou conversar com esse indivíduo?”

Nenhum político, entre as grandes lideranças nacionais, tem menos de 50% de rejeição. Temos um problema nacional significativo: crise de lideranças. Temos dois problemas sérios: negamos as instituições e as grandes lideranças.

Quando não votar faz diferença

Segundo problemas: o Brasil está assistindo a um Parlamento ativo: conservador, o que é preocupante, mas ativo. Em 2014 o eleitorado cresceu 5%, os votos válidos caíram quase 1%. Se esses indivíduos que abriram mão de posicionamento em relação ao Congresso Nacional for de perfil mais progressista, talvez esse quadro não estivesse tão preocupante.

O Congresso votou, ativou e mudou a padrão de relacionamento com o Poder Executivo. Dilma não tem um problema com a Oposição. A presidente não tem capacidade de articular dentro do Congresso as suas matérias de interesse.

“A sociedade paga um preço caro por eleger uma pessoa gerente do Brasil. Gerente não preside. Nós não precisamos de gerente, a política não pode ser negada. Elegemos uma pessoa que não gosta de política. Esse país não é uma loja, isso aqui é uma nação”, disparou.

Yeda Crusius, presidente de honra do PSDB Mulher, entra no debate comemorando o tempo em que o segmento vem sendo trabalhado e diz que a organização está pronta para conquistar e ter sucesso em futuro próximo. No mesmo fôlego pergunta: “Por que não conseguimos tirar a Dilma como tiramos o Collor, embora não haja condições dela continuar presidente em 2015?”, e deixa a questão no ar, como um desafio.

Para a ex-governadora do Rio Grande do Sul, economista competente e única a interromper a cadeia de 40 anos de déficit crônico no estado, decretando déficit zero já no segundo ano de gestão, a conjuntura atual é complexa.

Primavera, sim, desmobilização, não

“Nesta semana duas revistas dominicais estamparam em suas capas “Primavera das Mulheres”. Isso é muito importante para nós, mas não queremos que, assim como na Primavera Árabe, o movimento acabe se espraiando, morrendo sem alcançar seus objetivos.

O único país árabe que fez de sua Primavera uma situação estável foi a Tunísia, que passou por um período de transição. Precisamos extrair desse exemplo nossa lição;

Quando formos poder – não esse que está aí com a Dilma – tenhamos coragem de fazer as reformas que não foram feitas, inclusive a reforma político/eleitoral. Enquanto o jogo for esse, vamos continuar apanhando.

E sempre que necessário vamos às ruas, porque ir para a rua e lutar pelos nossos direitos é uma delícia”, arrematou Yeda Crusius.

“Dilma não cai fácil porque o PT é gigantesco”, respondeu Humberto a Yeda, para fechar a questão. “É muito interessante observar o que acontece com um partido depois que ele chega ao Poder, o PT cresceu tanto que é difícil imaginar que a presidente saia facilmente”.

Dois blocos de perguntas das participantes encerraram o primeiro dia do seminário. Confira abaixo a programação desta quinta-feira (12)

No auditório, Judite Botafogo, ex-prefeita da cidade de Lagoa do Carro em Pernambuco, antecipava o segundo dia: “Minha expectativa é bem alta, em se tratando dos eventos do PSDB em parceria com a Fundação Konrad Adenauer. Os especialistas e a programação são do mais alto nível, e eu espero aproveitar ao máximo este evento, para aproveitar ao máximo para o próximo ano.”.

Outra participante, Yara Costa, concordou: “É uma excelente e rara oportunidade de reflexão com muita qualidade, porque isto tem faltado no partido e pelo alto nível dos palestrantes”. É imperdível!

 

Serviço:

12 DE NOVEMBRO

 

9:00 Saúde da Mulher

• Dr.Luiz Henrique Gebrin – Livre-Docente da Disciplina de Mastologia da UNIFESP e diretor do Centro de Referência da Saúde da Mulher do Governo do Estado de São Paulo (Hospital Pérola Byington)
• Dra. Tânia Di Giácomo Lago – Médica Sanitarista, Professora Assistente do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
• Dra. Albertina Duarte – Médica, Coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres do Governo de São Paulo

 

10:10 Educação, Formação e Cidadania

• Maria Helena Guimarães – Socióloga, Ex-secretária de Educação do Estado de SP e Diretora Executiva da Fundação SEAD
• Maitê Fernandez Gauto – Secretária Executiva da Fundação ABRINQ
• Ana Dayse Dória – Secretária de Educação de Maceió e Reitora Honorária da UFAL

 

11:20 Habitação, Meio Ambiente e Mobilidade Urbana

• Laura Valente de Macedo – Consultora Sênior WRI Brasil
• Marina Kohler Harkot – Pesquisadora independente e ativista em questões urbanas
• Cleuza Zerbini – Fundadora da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo

 

12:30 Almoço

 

14:00 Empreendedorismo, Terceiro Setor e Voluntariado

• Mônica Galiano – Secretária Executiva de CLAVE – Conselho Latino-Americano de Voluntariado Empresarial y Consultora Sênior de IAVE – International Association for Volunteer Effort
• Michelle Larissa Nascimento – Coordenadora do programa Economia Solidária da Secretaria de Trabalho Abastecimento e Economia Solidária de Macéio (AL)
• Bruno Caetano – Sociólogo, Mestre e Doutorando em Ciências Políticas pela USP, Diretor Superintendente do SEBRAE/SP

 

16:00 Fechamento

• Fátima Jordão – Socióloga, Conselheira do Instituto Patrícia Galvão
• Solange Jurema – Presidente do PSDB-Mulher Nacional
• Marina Caetano – Coordenadora de Projetos da Fundação Konrad Adenauer

 

Moderação: Fundação Konrad Adenauer e Secretariado Nacional das Mulheres do PSDB