Opinião

“A inflação deles e a nossa; a real”, por Solange Jurema

Foto: Agência Brasil
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Ninguém em sã consciência nesse país pode querer negar a espiral inflacionária que está atingindo de maneira severa a população brasileira, especialmente aquela de menor renda.

Semana passada, o IBGE divulgou a inflação oficial de julho e a acumulada nos últimos doze meses, que alcançou 9,56%, a maior dos últimos onze anos.

O Banco Central, o chamado “mercado”, as empresas, enfim, todos os agentes econômicos internos e externos trabalham com a ideia de que até o final do ano a inflação chegue aos dois dígitos, batendo todos os recordes, infelizmente.

Mesmo assim, esse índice está longe de refletir o mundo real; a vida das pessoas, como relatam as pesquisas de preços setoriais, as matérias diárias dos jornais e, principalmente, a experiência de milhões de mulheres que vão a supermercados, feiras, quitandas, etc.

Quem tem a obrigação de cotidianamente se “virar” com o dinheiro mais curto; quem tem que realizar malabarismos para racionalizar o consumo de energia elétrica e de água ou que batalha para esticar o salário até o fim do mês é a mulher brasileira, principalmente as que respondem sozinhas por 40% dos lares.

Peguemos um exemplo corriqueiro, recente, que passou na televisão: o café de manhã que sustenta o dia a dia de milhões de brasileiros subiu quase 10% – o cafezinho, 11%, o pão 7,82%, o leite 10%.

Passemos para outro exemplo cotidiano: o transporte coletivo subiu, em média, 12,6% no país nos últimos seis meses!

Na área de alimentos, ninguém bate a cebola, com seus incríveis 158% de aumento no semestre.

O preço do bife aumentou 20%, enquanto o preço médio de comida e bebida subiu 10,5% no mesmo período. Hoje em dia só mesmo a Dilma pode oferecer churrasco a seus convidados.

E o que falar da tarifa de energia elétrica?

Um incrível aumento, médio, de 58%!

E aqui, cabe uma explicação: quando se fala em aumento médio, se sabe que em diversas localidades brasileiras esses percentuais são superiores.

Por exemplo: Aracaju e Fortaleza foram as capitais em que a cesta básica teve o maior aumento em julho – na capital cearense o tomate subiu 7,11%.

No Mato Grosso do Sul os vilões foram a batata (4,7%) e o pão (4,3%), em um mês.

Toda essa quantidade de índices e percentuais, por si só, estão longe de refletir o que as mulheres superam diariamente.

O patamar de preços, do mundo real, ainda é bem superior.

É sempre bom lembrar ao governo e aos formuladores dos indicadores oficiais: as pessoas vivem de um bom café da manhã, de comer carne, temperada por cebola e tomate e usam energia elétrica e água todos os dias. Além de pegar ônibus e metrôs diariamente.

Esse, sim, é o mundo real, a verdadeira inflação que pesa no bolso das pessoas, especialmente no das mulheres.

O restante é conta de estatístico governamental.

É conta de mentiroso.

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB