Dilma Rousseff pedalando nos arredores do Palácio da Alvorada é um ótimo retrato da crise econômica no país. A presidente exercita-se alheia aos problemas, montada numa bicicleta que pouquíssimos brasileiros podem comprar, fabricada – como acontece cada vez mais com produtos industrializados – fora do Brasil.
As bicicletas da marca Specialized são o suprassumo para quem gosta de pedalar. Fabricadas nos EUA e revendidas no mundo todo, estão para o imaginário dos ciclistas assim como a Harley-Davidson está para os aficionados por motos. O Brasil dos dias atuais não tem condições de produzir tais maravilhas.
Assim como a indústria em geral, a produção interna de bicicletas tomba. Até o ano passado havia caído uns 30% na comparação com 2007. Em contrapartida, as importações crescem na mesma intensidade, de acordo com a Abraciclo. As boas bicicletas vêm de fora. O ciclismo é um microcosmo do que acontece com a indústria brasileira atual.
Hoje cedo o IBGE divulgou o desempenho do setor industrial nacional no mês de abril. O resultado confirma o previsto: a partir de agora o paradeiro na economia será muito mais intenso. A indústria brasileira recuou pelo décimo-quarto mês consecutivo e só neste ano já encolheu 6,3%. Ninguém crê que pare por aí.
Dizer que a indústria é o patinho feio da nossa economia já deixou de ser novidade. Além disso, a revoada também aumentou. Agora também o setor de serviços está em crise e só a agropecuária mantém-se em expansão. Isto do lado da oferta; do da demanda, cai tudo.
Na verdade, hoje o Brasil dispõe de uma indústria nanica. O segmento de transformação, mais dinâmico e modernizador, corresponde atualmente a apenas 10% do PIB. Três anos atrás, a fatia retrocedera ao nível do governo JK; equivalia então a 14,6%. Foi um deus nos acuda. Agora fomos mais fundo no túnel do tempo e voltamos à pré-história da industrialização brasileira.
Produzir no país é cada vez mais difícil, caro. Nos últimos anos, a política oficial optou por dar as costas ao mundo, em favor de supostos privilégios ao produto local. A consequência está se vendo: quase ninguém sobreviveu à estratégia suicida do PT. É preciso transpor esta emboscada. Basta olhar o que fazem os países que ora vão bem no mundo.
O que o Brasil precisa é integrar-se mais às cadeias de produção articuladas pelos grandes conglomerados empresariais ao redor do mundo. Atrelar a produção local às linhas globais e não isolá-la, artificial e mortalmente, do resto do planeta.
O nome do jogo é política externa ativa e agressividade comercial, e não diplomacia companheira e política industrial capenga. Andando na sua bela bicicleta importada, Dilma Rousseff não nos leva a nenhum dos lugares aonde o país precisa chegar.