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Papa Francisco critica machismo e diz que mulheres na liderança melhoraram o Vaticano

Foto: Marco Bertorello/AFP

O papa Francisco afirmou neste domingo (6/11), ao se despedir de viagem de três dias ao Bahrein, no Oriente Médio, que as mulheres em cargos de liderança contribuíram para que o Vaticano melhorasse e provaram que podem ter desempenho superior aos dos homens nas mesmas posições.

“Percebi que toda vez que uma mulher recebe um cargo [de responsabilidade] no Vaticano, as coisas melhoram”, disse o pontífice a bordo do avião papal. “As mulheres são um presente. Deus não criou o homem e depois lhe deu um cachorrinho para brincar. Ele criou o homem e a mulher”.

A declaração soa como uma crítica ao machismo na região. O pontífice foi questionado sobre o papel das mulheres na vanguarda dos protestos no Irã, mas ele preferiu não comentar diretamente as manifestações que eclodiram após a morte, em setembro, de uma jovem curda de 22 anos, três dias após ela ser presa pela polícia moral por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da forma correta.

O pontífice também classificou de “ato criminoso” a mutilação genital feminina. A prática é legalizada em cerca de 30 países muçulmanos da Ásia e do Norte da África, segundo as Nações Unidas.

Em relação ao Vaticano, o papa Francisco afirmou que “as coisas mudaram para melhor” após as nomeações de mulheres para cargos gerenciais. Ele fez menções elogiosas à irmã Raffaella Petrini, alçada ao posto de vice-governadora da Cidade do Vaticano no mês passado e responsável pela gestão de aproximadamente 2.000 funcionários.

Francisco também comentou o impacto de cinco mulheres que ele nomeou para um departamento que supervisiona as finanças do Vaticano.

“Isso é uma revolução porque as mulheres sabem como encontrar o caminho certo”, disse o pontífice, acrescentando que “havia muito machismo” na Igreja Católica e na sociedade em geral.

Líder da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano, o papa também nomeou mulheres para os cargos de vice-ministra das Relações Exteriores, diretora dos Museus do Vaticano, vice-chefe da Sala de Imprensa do Vaticano, bem como quatro conselheiras do Sínodo dos Bispos, que prepara grandes reuniões.

Com posicionamentos considerados progressistas, Francisco tem reiterado nos últimos meses pedidos pela igualdade de gênero. No ano passado, ele ajudou a criar o sínodo da sinodalidade (maneira de ser e de agir da Igreja), o maior movimento de consulta democrática da história da Igreja, marcada por séculos de hierarquia rígida, conservadorismo e pouca transparência.

Espera-se que o movimento ajude o Vaticano a acelerar a maior participação feminina na tomada de decisões e a intensificar o acolhimento a grupos ainda marginalizados pelo catolicismo tradicional — de homossexuais a divorciados em segunda união.

*Do jornal Folha de S.Paulo