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Comunicação, marketing político e novas regras eleitorais são tema de primeiro dia de capacitação para pré-candidatas

Tucanas, pré-candidatas e assessoras políticas de todo o país participaram do primeiro dia do Seminário Virtual de Capacitação Política: Eleições 2022, promovido pelo Secretariado Nacional da Mulher/PSDB nesta terça-feira (29/03), em parceria com o Instituto Teotônio Vilela (ITV) e a Fundação Konrad Adenauer (KAS Brasil). A iniciativa é parte de um esforço contínuo de ampliação da representatividade feminina nos cargos eletivos.

As participantes puderam discutir conceitos importantes sobre comunicação e marketing político, além de entenderem as mudanças na legislação eleitoral e o que já vale para o pleito deste ano.

Presidente do PSDB-Mulher Nacional, Yeda Crusius deu as boas-vindas a todas e destacou a importância da parceria com a KAS Brasil na promoção de cursos de capacitação política para as tucanas ao longo dos últimos anos.

“Tenho o prazer de ter sido parte fundadora do PSDB-Mulher, de termos andado o Brasil buscando fazer o PSDB-Mulher nos estados. Depois disso, houve uma enorme sucessão de mulheres que se propunham a ajudar outras mulheres a fazer política”, disse.

Ela lembrou uma célebre frase da diplomata Madeleine Albright, primeira mulher a ocupar o cargo de secretária de Estado dos EUA, durante o governo do presidente Bill Clinton. Ela faleceu na última semana, em decorrência de um câncer, aos 84 anos.

“Cito uma frase um pouco mais impositiva de uma mulher que o mundo perdeu na semana passada, Madeleine Albright, que foi a toda poderosa do governo Bill Clinton: ‘há um especial lugar reservado no inferno para as mulheres que não se ajudam’. Eu usaria uma outra frase: há um lugar especial reservado no céu para as mulheres que se ajudam. Mulheres que se ajudam estão na KAS. Por isso, esse é mais um curso ao qual eu dou as boas-vindas em nome de toda uma equipe que trabalha incansavelmente”, afirmou.

A diretora da KAS no Brasil, Anja Czymmeck, também destacou as atividades desenvolvidas em conjunto com o PSDB-Mulher para a formação de novas líderes políticas.

“Essa cooperação com o PSDB-Mulher é um exemplo de uma parceria muito bem-sucedida e frutífera não para a KAS, mas para todos nós. A pandemia mudou nossa colaboração, na medida em que fizemos mais formatos virtuais, mas isso também é uma grande vantagem. Podemos alcançar e engajar ainda mais participantes, mais mulheres, e podemos expandir as nossas atividades virtualmente”, considerou.

“Desejo a todas muito êxito nas campanhas eleitorais desse ano. Será uma eleição decisiva para a democracia aqui no Brasil”, acrescentou ela.

Construção da narrativa

No primeiro módulo do dia, Comunicação Política: Construção da Narrativa em Campanha Eleitoral, a consultora política e ex-presidente da Asociación Latinoamericana de Consultores Políticos (ALACOP), Gil Castilho, ressaltou às tucanas a importância da construção de uma narrativa sólida para apresentar ao seu eleitorado.

“Qual é a sua proposta para melhorar a vida das pessoas a partir do cargo que você quer ocupar? Quais são as suas motivações, o que te move a ser deputada?”, questionou. “Toda candidata tem que ter um plano parlamentar, se não vocês vão prometer tudo e não vão conseguir nada. Sem organização de ideias, vocês vão perder tempo, recursos e energia, tanto agora na pré-campanha quanto no período eleitoral”, pontuou.

Para a especialista, não existe um melhor meio de comunicação para fazer uma campanha eleitoral. A candidata deve identificar quais são as plataformas que melhor se adequam ao público que ela deseja atingir. Ela deu o exemplo de uma cidade no interior de São Paulo onde não há rádio ou televisão. Nesse caso, uma campanha realizada com foco nos meios digitais e usando até mesmo carros de som seria mais efetiva.

“Na verdade, todos os meios de comunicação, inclusive os presenciais, porque a sola de sapato ainda é insubstituível, são importantes. O que você precisa é entender qual são os meios que vão envolver a sua área de atuação na sua campanha eleitoral. Não existe certo e nem errado na comunicação política. Existe aquilo que o seu eleitor escuta, o que ele consome como meio de comunicação digital”, frisou.

Vice-presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, Thelma de Oliveira (MT) perguntou à consultora política como as pré-candidatas podem adequar sua comunicação frente à violência política que as mulheres são obrigadas a enfrentar ao buscarem os espaços de poder.

“Para nós mulheres é sempre mais difícil, inclusive esse é um tema caro ao PSDB-Mulher, porque a gente é sempre alvo de violência política pelas redes sociais. Me preocupa porque todas nós, eu que já fui prefeita e outras que tiveram mandato, mesmo na pré-campanha, durante a campanha e depois no mandato, já fomos muito agredidas”, relatou a tucana.

Segundo Gil Castilho, esse é um problema difícil de combater, pois está enraizado em uma sociedade culturalmente patriarcal e machista. Ainda assim, existem estratégias de comunicação que podem ajudar as mulheres a rebater as acusações feitas nas redes sociais.

“O que a gente tem feito com relativo sucesso é estruturar, desde já, uma grande rede de apoio, de confiança. Durante a campanha de 2020, usamos bastante o WhatsApp. Se eu tenho que desmentir uma agressão, em termos de comunicação, por meio desses grupos eu tenho a agilidade com a qual eu consigo mobilizar a minha base e desmentir uma mensagem”, respondeu.

Marketing político

Já na palestra Marketing Político: Como conquistar eleitores diferentes?, a doutora em Ciência Política (UFMG) e especialista em eleições, partidos e mandatos, Nerea Garcia, falou sobre os tipos de eleitores e deu dicas de estratégias que devem ser empregadas pelas pré-candidatas na construção da mensagem que desejam passar para o eleitorado.

“Marketing político nada mais é do que a ferramenta que nós utilizamos para fazer com que os eleitores votem naquele candidato”, explicou. “A mensagem nada mais é do que as informações emocionais e racionais que a gente vai dar para o eleitor. A gente precisa saber o que o nosso eleitorado quer, qual é a principal prioridade deles, o que eles pensam sobre política. Ser candidata não é sobre nós, mas é sobre aquelas pessoas que nós vamos representar”, pontuou.

A especialista elencou alguns passos importantes: a elaboração de um projeto político com propostas sólidas; a construção da imagem da candidata, sua trajetória e seus valores, que devem ser coerentes e autênticos; o chamado “inimigo” e a moral da história, ou seja, um problema central a ser enfrentado pela candidatura, como a falta de leitos nos hospitais públicos, por exemplo, e como ele pode ser resolvido.

“É muito importante fazer toda essa construção a partir de quem você realmente é. Não se escondam, não criem uma persona”, aconselhou.

“Quem é o seu público? Quem fala com todo mundo ao mesmo tempo, não fala com ninguém. Campanha não é sobre política, é comunicação. Quem melhor comunica, quem tem uma mensagem que pega melhor para as pessoas, é quem ganha”, completou ela.

Novas regras eleitorais

O último módulo do dia tratou sobre Legislação Eleitoral: o que muda nas eleições de 2022?, com a advogada especialista em Direito Eleitoral e Partidário, Samara Castro. Ela reforçou às participantes a importância de organizar a sua documentação, como registro de candidatura, certidões de filiação partidária e quitação eleitoral, durante o período da pré-campanha para evitar problemas no futuro.

A advogada também explicou às tucanas alguns pontos de destaque das novas regras eleitorais, entre eles o peso dois para os votos dados a mulheres e pessoas negras. A partir deste ano até 2030, esses votos serão contados em dobro para fins de distribuição dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC) entre os partidos políticos.

“Eleger uma mulher conta em dobro para fins de recursos para o partido, e todos os partidos estão muito interessados em ter recursos para se financiar. Nesse sentido, vale mais eleger uma mulher do que dois homens”, disse.

Para Samara, as pré-candidatas devem aproveitar a possibilidade de impulsionar conteúdo nas redes sociais durante o período de pré-campanha, também usando a ferramenta como uma forma de captar contatos.

“Usem e abusem da possiblidade de impulsionar conteúdo, porque isso faz muita diferença na campanha. Só tomem o cuidado de revisar esse conteúdo. Não pode pedir voto”, alertou.

“As pessoas têm que consentir receber informações sobre a campanha de vocês. Fazendo a captação de contatos por meio do impulsionamento de conteúdo, vocês estão cumprindo com a legislação, propagandendo a própria campanha e fazendo uma base de dados correta e limpa, do ponto de vista da legislação”, recomendou.

A especialista classificou ainda a aprovação da Lei de combate à violência política como um avanço para a representatividade feminina nos espaços de poder. De acordo com ela, a nova legislação pode se transformar até mesmo em uma ferramenta para alavancar a campanha da mulher que for vítima de algum tipo de ataque.

“É uma oportunidade de se proteger desse tipo de prática que é muito comum, especialmente quando a candidata tem uma viabilidade maior de se eleger”, ponderou. “Também é uma oportunidade de estratégia de judicialização desse tipo de ocorrido, que infelizmente vai acontecer, que aproveite para fomentar e crescer a campanha de vocês nessa pauta”, concluiu Samara Castro.