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Morre Lourdes Maria, pesquisadora referência do combate ao feminicídio no país

O combate ao feminicídio e em favor dos direitos das mulheres perdeu, no último dia 12, uma das suas principais expoentes: a professora Lourdes Maria Bandeira, conhecida por pesquisas sobre violência contra a mulher na Universidade de Brasília (UnB). Aos 72 anos, ela foi vencida pelas consequências de uma embolia pulmonar, um acidente vascular cerebral (AVC) e o câncer.

A professora Lourdes Maria Bandeira, do Departamento de Sociologia da UnB, ficou conhecida por pesquisar sobre feminicídio e violência contra a mulher desde 2005. De 2008 a 2011, a pesquisadora assumiu o cargo de gestão na Secretaria de Políticas para Mulheres – órgão vinculado à Presidência da República.

Na UnB, Lourdes Maria integrava o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEPeM). No cenário internacional, ela também foi pioneira no cenário internacional, no âmbito da aplicação de leis como a Lei Maria da Penha e do feminicídio. O núcleo a definiu como: “incansável na luta pelos direitos das mulheres no país, sua crítica competente das relações de gênero e suas realizações”.

Legado

Em nota oficial, pesquisadores afirmam que a universidade “perdeu uma de suas referências centrais”. Nas redes sociais, alunos, ex-alunos, professores e servidores da UnB se despediram da professora.

“Uma de suas referências centrais: a extraordinária socióloga e professora Lourdes Bandeira, que atuou de modo incansável para a consolidação e o fortalecimento do NEPeM, no meio acadêmico e por meio da extensão universitária”, diz a nota.

Em seguida, o texto acrescenta que: “Ao longo de sua trajetória ensinou e orientou várias gerações de estudantes, bem como impulsionou a articulação do Núcleo com redes de serviços governamentais e movimentos sociais de enfrentamento à violência contra as mulheres”.

Análise

Ao analisar 2 mil casos de mortes de mulheres ocorridos desde 2015, ano em que a Lei do Feminicídio entrou em vigor, a professora afirmou: “As mulheres são vistas como propriedade sexual do homem. O assassino sente que tem controle sobre o corpo dela e não aceita que outro homem possa se apropriar dele”, disse Lourdes Maria na ocasião.

Para a professora, os assassinos “se sentem autorizados por uma ideia coletiva de que a mulher pertence a eles”.

Histórico

No currículo Lattes, o histórico acadêmico da professora, ela era formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com mestrado em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e doutorado em Antropologia pela Université René Descartes – de Paris V em 1984. Fez pós-doutorado na área de Sociologia do Conflito com o Prof. Michel Wieviorka, na École des Hautes Études en Sciences Sociales-EHESS (2001-2002).

Desde 2005, Lourdes Maria era professora titular no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília com experiência acadêmica e docente, além de publicações e orientações, na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia Urbana e da Cultura – Gênero, Feminismo, Violência de Gênero, e Políticas Públicas.

Era coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Mulher (NEPEM) e membro do Conselho de Direitos Humanos da Universidade de Brasília (CDHUnB). Atualmente estava como membro do comitê editorial da Editora da Universidade de Brasília e desenvolvia projetos de pesquisa: feminicídio no Brasil e relações de cuidado e cuidadoras nas redes inter-institucionais de apoio às mulheres vítimas de violência.