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Tasso Jereissati discute prévias, reforma política e polarização em debate promovido pelo PSDB-Mulher

O Secretariado Nacional da Mulher/PSDB promoveu, nesta quinta-feira (20/5), o segundo debate da série de encontros com os postulantes às prévias que escolherão o candidato do PSDB à Presidência da República, marcadas para o dia 17 de outubro. Com o tema “Prévias, democracia e partido: para onde vamos? Conversa com os presidenciáveis”, o convidado da noite foi o senador da República Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Mediado pela presidente do PSDB-Mulher Nacional, Yeda Crusius, o painel foi transmitido no Youtube, no canal PSDB Brasileiras/PSDB-Mulher, e dedicado ao ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas, que nos deixou no último domingo (16/5), aos 41 anos de idade, após uma longa batalha contra o câncer.

“Nosso debate está dedicado ao Bruno Covas. Uma pessoa que vai fazer falta exatamente porque ele era a definição, e usava essa frase, de que era possível fazer política sem ódio”, disse Yeda Crusius.

Durante a live, predominaram os temas prévias, reforma política e polarização. Mas a presidente do PSDB-Mulher Nacional abriu as discussões com a tão necessária representatividade feminina. Ela destacou que um dos principais itens que compõem o Planejamento Estratégico do Secretariado para 2021 e 2022, presente também na carta-compromisso que será entregue aos pré-candidatos do PSDB às prévias, é o apoio à agenda 50/50.

No entanto, quando o assunto é participação feminina na política, o Brasil anda a passos de tartaruga.

“Eu, por exemplo, sou a única mulher eleita governadora na história do PSDB, que já vai longe, 30 anos”, observou. “Nós, do PSDB-Mulher, há 22 anos trabalhamos para que mais mulheres possam ter a oportunidade que tivemos de transformar a sociedade que nos elegeu”, acrescentou Yeda.

“Somos mulheres fazendo política. Não é mulher fazendo política para mulher. São mulheres fazendo política, mas conscientes de que não há ainda um espaço justo, equânime, igualitário para a mulher. Isso só se faz quando mulheres são colocadas em postos de poder”, frisou.

Ela lembrou ainda o debate que foi estabelecido na CPI da Pandemia, pela Bancada Feminina do Senado Federal, pela falta de mulheres no colegiado, do qual Tasso Jereissati é membro titular.

“A CPI é feita de 17 membros, dentre titulares e suplentes. Nenhuma mulher. Por que será? O que há com a política?”, questionou a tucana.

O senador cearense explicou que as indicações de representações para a CPI foram feitas individualmente por cada partido, e que, após o justo protesto feito pelas senadoras da Bancada Feminina, ficou resolvido que as parlamentares teriam assegurado o seu direito de fala durante os trabalhos da comissão.

“A discussão que houve é porque 99% das mulheres eram francamente críticas ao governo, e os senadores governistas achavam que desbalancearia a CPI se fosse, por alguma razão ou artifício, mudado por consenso o regimento para incluir mais mulheres na CPI. Acharam que seria desvantajoso para eles”, revelou.

Sobre as prévias

Tasso Jereissati ressaltou que sempre foi favorável à realização de prévias, que, para ele, são um instrumento importante para dar visibilidade não apenas aos candidatos, mas às suas ideias e ao próprio partido.

“As prévias dão a oportunidade ao partido que não está no poder de se expor, ter visibilidade e fazer como se fosse uma pré-campanha, que faz chegar as suas ideias e o nome dos seus candidatos ao país todo”, argumentou.

“Acho importantíssimo as prévias, desde que sejam respeitados, dentro do partido, os limites de colegas de partido, de pessoas que têm afinidades partidárias, ideológicas e etc., e que as diferentes nuances que existem dentro do pensamento do partido sejam o grande foco das discussões e das disputas”, colocou.

O parlamentar disse estar se convencendo de que o ideal seria realizar as prévias até o final desde ano, como defende o PSDB-Mulher. No entanto, ao contrário do Secretariado, que apoia o voto universal com participação de todos os filiados, ele manifestou a sua preferência pelo voto proporcional, com equilíbrio federacional e peso ao voto de cada estado.

“O voto universal evidentemente traz uma vantagem enorme para um candidato, porque o Brasil é feito de estados inteiramente desiguais. Se você é governador de São Paulo e outro é governador do Acre, normalmente o governador do estado tem a maioria absoluta dos filiados no seu estado. Isso é normal, natural que aconteça”, justificou.

“Por isso que os Estados Unidos fizeram um sistema de pesos. Também aqui no Brasil, não na eleição para presidente, mas a composição da Câmara não é diretamente proporcional à população dos estados”, ressalvou.

Extremismos e polarização

Tasso Jereissati salientou que a única maneira do PSDB conseguir vencer a polarização política que impera no Brasil hoje é por meio de alianças com os demais partidos políticos de centro.

“Temos um polo à direita que deve ter, pelas previsões, pelas pesquisas, vamos dizer 20% dos votos. Temos um candidato à esquerda que deve ter de 25% a 30%. Estou falando do da direita ter menos porque, aparentemente, o prestígio do presidente Bolsonaro vem, progressivamente, em uma curva declinante”, expôs.

“Temos espaço para os candidatos que veem o Brasil e o mundo de uma forma diferente desses dois extremos. Mas são 50%. Se nós dividirmos entre, por exemplo, cinco ou seis candidaturas, dificilmente um de nós vai chegar ao segundo turno”, analisou.

Para o parlamentar, é fundamental que se faça um esforço conjunto para pôr um fim aos extremos ideológicos e ao “jogo de ódio que virou o Brasil”.

“Acabou o argumento, não tem mais. Agora é xinga daqui, xinga dali, desqualifica de um lado e do outro. Nós não podemos aceitar que o Brasil seja dividido, dessa maneira e com tantos ódios entre os brasileiros. Nosso principal objetivo é fugir dessa polarização que está aí. Então, é muito importante que a gente tenha capacidade de unir e agregar”, ponderou.

Reforma política

A live foi assistida por mais de 300 pessoas, que participaram ativamente nos comentários e enviando perguntas. Uma delas à respeito da reforma política e do polêmico “distritão”, sistema que transforma cada estado ou município em um distrito eleitoral. Dessa forma, seriam eleitos os candidatos mais votados, sem levar em consideração votos para o partido ou coligação. O modelo pode fazer com que as propostas dos partidos percam espaço, com eleições focadas em campanhas individuais, de nomes mais conhecidos e com mais recursos, o que dificultaria a renovação do Legislativo.

Sou radicalmente contra o distritão”, disse o senador Tasso. “O distritão é o fim dos partidos. Não existe nenhum parlamento no mundo que não tenha partidos fortes e consolidados quanto às suas posições e visão do mundo. No Brasil, um dos problemas que estamos vivendo é justamente o enfraquecimento dos partidos políticos”, avaliou.

Segundo ele, isso tem levado a enormes impasses políticos, e a uma gestão federal que, sem sustentação e apoio no Congresso Nacional para a realização de reformas, governa na base de favores.

“Hoje, o que dá sustentação a qualquer projeto do governo não é o fato de ser um projeto liberal. São os agrados”, pontuou.

Projeto para o Brasil

Com um extenso histórico de atuação na vida pública, tendo sido governador do Ceará por três mandatos, o senador Tasso Jereissati também discorreu sobre o que é necessário a um presidente da República para que seja construído um projeto sólido para o Brasil.

“Primeiro, não ser dono da verdade. Aprendi no governo que, durante o governo, você vai ouvindo e aprendendo muita coisa. Você passa a ter contato mais direto, concreto, com os problemas, pressões e exigências da população, e as dificuldades políticas que aparecem durante esse caminho”, elencou.

“Muita gente pensa que governar é ser como um bom gestor. Não é só ser um bom gestor. Você tem que ser um líder e um articulador”, acrescentou.

O tucano enfatizou a importância de um governo orgânico e multifacetado, com objetivos e metas em comum e políticas públicas intersetoriais que possibilitem, ao mesmo tempo, o crescimento econômico e a melhora dos indicadores sociais.

“A gente tem que ter uma política econômica de acordo com os princípios e valores que nos nortearam: um enorme respeito pelo mercado, pelo valor da iniciativa privada, mas tendo o Estado como papel de proteção social daqueles que ficam desprotegidos durante esse processo de construção da economia, que acontece em todas as economias capitalistas”, explicou.

“Para fazer isso, você precisa ter apoio político, autoridade moral e credibilidade. Para ter essa credibilidade, uma porção de premissas são necessárias. São justamente o que, infelizmente, esse governo perdeu, por causa das bobagens que o presidente fala, das incoerências, inconsistências, das mentiras”, completou o senador.

Confira a live na íntegra: