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Violência política de gênero: “Ao limite da morte se intimidam mulheres que querem fazer política”, denuncia Yeda Crusius

A presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, Yeda Crusius, foi uma das convidadas para debater a violência política contra a mulher e o empoderamento feminino intrapartidário em uma live promovida pela Women’s Democracy Network (WDN) Brasil, nesta segunda-feira (12/4).

Durante o encontro virtual, a tucana apontou os diversos tipos de violência política de gênero a que as mulheres são submetidas ao ocupar os espaços de poder – moral, psicológica, patrimonial, sexual e física – que vão desde a intimidação a agressões virtuais e verbais, chegando até mesmo a atentados contra a vida.

Entre os exemplos citados estão o da candidata à Prefeitura de São Vicente (SP) Solange Freitas (PSDB), que teve o carro alvejado por cinco tiros durante a campanha eleitoral do ano passado; o da deputada federal Edna Henrique (PSDB-PB), que também foi alvo de disparos enquanto candidata a vice-prefeita de Monteiro (PB); e o da ex-vereadora Madalena Leite, primeira vereadora travesti eleita em Piracicaba (SP), em 2012, pelo PSDB, assassinada na última semana.

“Se eu for nos lembrar da Ceci Cunha, nossa querida deputada federal eleita em 1998, que foi assassinada no dia da diplomação. Ela e toda a sua família, a mando do suplente. Quer uma violência política maior do que essa? É carro metralhado, Marielle morta a tiros no Rio de Janeiro, a nossa vereadora trans morta agora, dentro de casa, por violência”, elencou.

“Ao limite da morte se intimidam mulheres que querem fazer política. Por isso, precisamos dos secretariados nacionais de mulheres dentro dos partidos. E é por isso que a gente precisa do apoio externo. Porque, se depender só dos partidos políticos, vai haver uma reação dizendo ‘ela vai tirar o meu lugar’”, constatou ela.

O debate contou também com a participação da ex-deputada da Nicarágua e exilada política Edipcia Dupón; da deputada federal Margareth Coelho (PP-PI); e da Secretária de Mulheres Socialistas do PSB-SC, Elizete Lanzoni; e foi mediado pela professora e PhD em Educação Geralda Resende, e a advogada Enilde Martins.

Sociedade violenta

Para Yeda Crusius, o país não evolui no quesito violência política de gênero porque a sociedade brasileira é violenta, e os partidos políticos reproduzem esse comportamento.

“Vejam a vereadora de São Paulo, que foi manipulada pelo outro vereador”, exemplificou, lembrando do assédio sexual sofrido pela deputada estadual Isa Penna (Psol) em plena sessão da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), pelo deputado estadual Fernando Cury (Cidadania). “Qual foi a penalidade que ele sofreu? Zero”, criticou ela.

“Os números indicam as mais variadas formas de violência. Quando é dentro de uma instituição, como o Congresso Nacional, o salário da deputada é igual ao salário do deputado. Mas, quando você vai para o Executivo, as mulheres têm um salário que é 30%, 40%, na mesma função, do que o salário dos homens. E chegam aos postos de liderança em 17%, 20%, e olhe lá”, acrescentou.

Empoderamento intrapartidário

A presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB destacou que a função dos secretariados de mulheres dentro dos partidos políticos é promover o empoderamento feminino intrapartidário.

“Tem que ter o respeito interno dentro do partido para que as regras gerais, como os 30% das cotas, sejam respeitadas, e não manipuladas”, afirmou.

No caso do PSDB-Mulher, os resultados se deram a partir do momento em que o partido não apenas respeitou o trabalho desempenhado pelo Secretariado Nacional desde sua criação, em 1998, mas também lhe deu autonomia, como nas eleições de 2018, quando as mulheres puderam gerenciar os recursos recebidos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário.

Em contrapartida, a bancada feminina do PSDB cresceu 60% após as eleições, tornando-se a maior bancada de deputadas federais eleitas em 2018, junto ao PT.

“Nós buscamos mulheres que quisessem receber os recursos oficiais do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário, desde que elas não fossem laranjas. Como é que a gente sabia que elas não eram laranjas? Porque elas participavam dos cursos de EAD, dos debates, conversavam conosco uma a uma”, pontuou Yeda.

“O Secretariado pratica uma política em que não se permite o uso do dinheiro público por laranjas. A gente sabe que elas continuam sendo usadas como laranjas, repassando o dinheiro para outras candidaturas masculinas. Na nossa contabilidade, que é feita por compliance, e a prestação de contas, que é feita desde o início por uma empresa que a gente contrata, a gente evitou pelo menos esse tipo de violência: o uso da mulher na política para ser laranja de um homem que quer se eleger. Agora, existem muitos outros ainda a cumprir. A luta é permanente e contínua”, salientou.

Tecnologia em serviço das mulheres

Na luta pelo fim da violência política de gênero, a tucana classificou a tecnologia como uma importante ferramenta de informação. Nas eleições municipais do ano passado, por exemplo, ela foi usada de forma extremamente eficaz pelo PSDB-Mulher na criação da Plataforma Digital 2020, que ofereceu às pré-candidatas do partido cursos de capacitação política online, material gráfico para impressão e uso virtual, consultoria jurídica, além de auxílio na prestação de contas.

“Na eleição de 2020, que é uma eleição municipal, nós criamos, pela pandemia, a Plataforma Digital PSDB-Mulher 2020, com rádio, jornal, televisão, debate. Completa”, disse. “Nessa plataforma digital, eram 10 mil candidatas, e nós conseguimos conversar com 3.300 por causa do modo virtual”, considerou ela.

“A mulher amamenta, está cozinhando. Ela mais ouve do que pode ficar vendo uma aula. Ela tem afazeres, e a pandemia elevou esses afazeres aos píncaros. Em 2020, nós fizemos uma plataforma digital que nos permitiu sustentar o resultado eleitoral de quatro anos atrás. Não crescemos como em 2018, mas sustentamos mesmo assim”, ressaltou.

Para Yeda Crusius, a paridade de gênero na política é a única alternativa viável para uma democracia plena, e a tecnologia pode ser usada para auxiliar as mulheres nesse processo.

“Para mudar a sociedade, só tem um jeito. Enquanto a gente não tiver 50/50, a sociedade reproduzirá os padrões patriarcais, guerreiros, violentos, promotores da desigualdade. Enquanto a gente não ensinar as mulheres o uso da tecnologia, para o seu próprio benefício. A nossa primeira bandeira para as candidatas que se compromissaram conosco no ano de 2020, para as Câmaras de Vereadores e Prefeituras, era Cidades Conectadas. Dê um celular na mão, e deixa que a gente faz. Mas a gente tem que ter acesso àquilo”, justificou.

Rumo à paridade de gênero

Tucanas também acompanharam a live, e opinaram sobre o assunto por meio dos comentários. Para a assessora executiva e presidente de honra do PSDB-Mulher do Rio Grande do Sul, Angela Sarquiz, é imperativo que mais mulheres ocupem cargos eletivos. Ela também destacou os diversos tipos de violência política de gênero e suas motivações.

“A violência política pode incluir violência física, psicológica, simbólica, sexual, patrimonial, moral ou feminicida, com o objetivo principal de diminuir ou anular direitos políticos das mulheres”, colocou.

Coordenadora jurídica do Secretariado, Luciana Loureiro lembrou os ataques e ameaças sofridos pela prefeita de Palmas (TO), Cinthia Ribeiro, por conta de sua atuação no combate à pandemia de covid-19 na capital tocantinense, e como se enquadram como violência política.

“De fato, a cobrança feita às mulheres que se apresentam para candidatura é maior do que as feitas aos homens. Seria uma questão cultural? O que podemos fazer para mudar essa realidade? Qual o caminho?”, questionou.

Ela lembrou ainda que o exercício da democracia começa em casa, isto é, dentro dos partidos políticos. Para isso, as mulheres devem ter autonomia.

“Defendemos 30% do Fundo Eleitoral com a gestão feita pelo segmento feminino do partido, e não pelos ‘homens’. Quem melhor para conhecer as mulheres do que o próprio segmento?”, ponderou.

Coordenadora regional do PSDB-Mulher na região Nordeste, Iraê Lucena defendeu a continuidade das cotas de 5% do Fundo Partidário e 30% do percentual de recurso do Fundo Especial de Financiamento da Campanha (FEFC) como forma de mudar o cenário da sub-representação feminina, por meio do investimento em capacitação.

“Temos a convicção de que a formação política é o melhor instrumento para inserção das mulheres na política. A Plataforma Digital do PSDB-Mulher 2020 nos revelou isso”, opinou.

Já a presidente do PSDB-Mulher de Minas Gerais, Walewska Barros Abrantes, concluiu que quanto mais as mulheres avançam na participação política, mais estão sujeitas aos diversos tipos de violência política.

“O que mostra a falta de preparo masculino para a igualdade de oportunidades”, refletiu. “Os desafios são grandes, mas se nos unirmos poderemos ter mais mulheres nos espaços de poder, e em especial na política”, completou a tucana.