Notícias

Tucanos repercutem renúncia de comandantes das Forças Armadas após atrito com Bolsonaro

O general Fernando Azevedo e Silva (2º à esq.), quando anunciou os comandantes das Forças Armadas, em 2019. Foto: Naomi Matsui/Poder360

No momento em que o foco do presidente da República deveria estar na pandemia que vitimou 3.780 brasileiros apenas nas últimas 24 horas, tucanos foram às redes sociais, nesta terça-feira (30/3), para repercutir a maior crise militar em décadas da história brasileira, desencadeada pela renúncia coletiva dos três comandantes das Forças Armadas.

Após divergências com Jair Bolsonaro, os oficiais-generais Edson Leal Pujol, do Exército, Ilques Barbosa, da Marinha, e Antônio Carlos Bermudez, da Aeronáutica, colocaram os seus cargos à disposição. O ato foi um protesto à demissão, no dia anterior, do general da reserva Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa.

Azevedo era pressionado pelo presidente a dar mais demonstrações de alinhamento ao governo, além de manifestar apoio a medidas contrárias ao isolamento social na pandemia.

Presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, Yeda Crusius ponderou que o passado ensina que golpes militares não acabam bem: são um retrocesso para a sociedade.

“É imperioso aprender com o presente. Quando as Forças Armadas são corrompidas ou politizadas, se tem um Maduro, se tem um Chávez, se tem o horror da presente Venezuela. É, portanto, nas Forças Armadas, e na confiança que nós temos nela, fazer a defesa da democracia, da Constituição. Como muitos dos nossos militares fizeram ontem, como fez o vice-presidente da República, General Mourão. Em defesa da democracia, em defesa da Constituição, da estabilidade e do desenvolvimento”, ressaltou.

Em suas redes sociais, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso demonstrou preocupação com a crise militar, que já é vista como a pior na área desde a demissão do então ministro do Exército, Sylvio Frota, em 1977 pelo presidente Ernesto Geisel.

“Não bastasse a pandemia e o difícil momento econômico, há inquietação entre chefes militares. Espero que as FFAA se mantenham fiéis à Constituição. Mandamento que vale para todos os cidadãos. Mais ainda para os que temos a ver com a política. Equilíbrio e lei; ordem e progresso”, escreveu o tucano.

O governador de São Paulo, João Doria, manifestou sua solidariedade aos ex-comandantes das Forças Armadas e ao ex-ministro da Defesa.

“Eles demonstraram grandeza ao recusar qualquer subserviência a inclinações autoritárias. O País resistirá a qualquer ato que comprometa o Estado Democrático de Direito”, afirmou.

“As Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo”, acrescentou o gestor.

Já o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, destacou que o momento demanda atenção redobrada.

“Confiar na solidez de nossas instituições não significa que não devamos estar alertas. Instituições são feitas de pessoas, algumas delas movidas por indesejados voluntarismos autoritários, incompatíveis com a normalidade democrática”, avaliou.

Reforma ministerial

A crise militar se dá na esteira de uma grande reforma ministerial iniciada com a saída do chanceler Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores. Ligado à ala ideológica do governo federal, ele deixou o cargo, nesta segunda-feira (29/03), após pressão do Congresso.

Para a senadora Mara Gabrilli (SP), a demissão de Araújo abre espaço para o resgate da diplomacia brasileira.

“A demissão do ministro Ernesto Araújo traz nova esperança ao Brasil, mas não podemos trocar seis por meia dúzia. O negacionismo e a truculência precisam dar lugar ao respeito, união e negociação. Precisamos resgatar o histórico de diplomacia do Estado brasileiro. Seguimos em frente”, pontuou a tucana.