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Nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala torna-se 1ª mulher a dirigir OMC

Economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala. Duas vezes ministra da Fazenda e chefe da diplomacia da Nigéria por 2 meses meses, ela começou sua carreira no Banco Mundial em 1982, onde trabalhou por 25 anos. Foto: Reprodução/WTO

Anunciada diretora-geral nesta segunda-feira
Assume em 1º de março
Ocupará vaga de Roberto Azevedo
Nome havia sido vetado por Trump
Conheça trajetória da economista

A economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, 66 anos, foi oficializada nesta segunda-feira (15/2) como nova diretora-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). Assumirá o posto em 1º de março, com mandato até 31 de agosto de 2025. Primeira mulher a ocupar o cargo, Ngozi tem planos ambiciosos para a agência internacional, que passa pela maior sinuca desde sua fundação, em 1995.

Em sua avaliação, o comércio global pode ajudar a aliviar a pandemia de covid-19, enfrentar as mudanças climáticas e restaurar a crença no sistema de cooperação internacional, enfraquecida ao longo dos 4 anos do governo Trump nos EUA. Para ela, a OMC tem um papel central a desempenhar como facilitador: “Se a OMC não existisse, precisaríamos inventá-la”, diz a economista.

Nascida em 1954 na Nigéria, então sob o controle colonial britânico, Ngozi mudou-se para os EUA em 1973 para estudar economia na Universidade Harvard. Mais tarde, em 1981, obteve o título de PhD pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Em meio à onda anti-imigração de Trump, ganhou cidadania norte-americana em 2019.

O 1º trabalho, em 1982, foi no Banco Mundial, onde atuou por 25 anos abordando os desafios das economias dos países em desenvolvimento. Ascendeu em 2007 ao cargo de diretora-gerente, o 2º mais importante da instituição. Em 2012, fez campanha para ser eleita a 1ª africana e mulher a presidir o maior banco de desenvolvimento do mundo. Perdeu para Jim Yong Kim, médico norte-americano de origem sul-coreana.

Em 2003, Ngozi começou um mandato de 3 anos como ministra da Fazenda da Nigéria. Foi também ministra das Relações Exteriores de junho a agosto de 2016. Liderou os esforços para melhorar a gestão macroeconômica do país, implementando uma regra fiscal baseada no preço do petróleo, em que as receitas acumuladas acima de um valor de referência eram poupadas numa conta especial.

Na terra natal, ela é conhecida por ter negociado a subtração de US$ 18 bilhões de um total de US$ 30 bilhões em dívidas do país africano com o Clube de Paris em 2005. Naquele ano, o Brasil também perdoou parte da dívida que a Nigéria tinha com o governo brasileiro havia 20 anos. Pelo acordo, o Brasil abateu US$ 85 milhões de um débito de US$ 152 milhões.

Referência no cenário internacional, Ngozi fala com frequência sobre questões como mudanças climáticas, saúde pública e desenvolvimento socioeconômico em eventos de renome.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil deu os parabéns aos demais países integrantes da OMC pela escolha de Ngozi como diretora-geral: “Assim como o embaixador Roberto Azevêdo, a nova diretora-geral apresenta a combinação de liderança política e capacidade técnica, fundamentais para lidar com os desafios que hoje enfrentam a OMC e o sistema multilateral de comércio”.

AMEAÇAS E A VOLTA POR CIMA

Em 2011, Ngozi foi nomeada secretária da Economia no Ministério da Fazenda da Nigéria. Seu legado inclui o estímulo ao setor habitacional com o estabelecimento da Nigerian Mortgage Corporation.

Ela também capacitou mulheres do país com o G-Win (Programa de Mulheres e Meninas em Crescimento). Foi alvo de críticas por emprestar credibilidade ao governo de Goodluck Jonathan, investigado por corrupção, e chegou a receber ameaças de morte. Sua mãe, aos 82 anos, foi vítima de sequestro em 2012.

Amigos e apoiadores de Ngozi Okonjo-Iweala afirmam que a experiência de 25 anos no Banco Mundial, onde ela foi a número 2 do presidente Robert Zoellick de 2007 a 2011, e seu tempo dirigindo a maior economia da África, dão a ela os recursos para fazer 1 bom trabalho no novo posto.

“Há muita desconfiança dentro da OMC: não é apenas entre os EUA e a China. É também entre os EUA e a Europa; é entre a Europa e a China; é entre países em desenvolvimento e os desenvolvidos”, disse Okonjo-Iweala. “Fazer a ponte entre todos esses grupos é algo que eu realmente posso fazer”.

Foi depois de o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo ter deixado o cargo, em agosto de 2020, que o nome de Ngozi Okonjo-Iweala emergiu como o favorito dos mais de 160 Estados-membros da organização, em outubro. Leia a íntegra da carta da OMC.

Ainda assim, a administração Trump vetou unilateralmente a nomeação dela, numa das ações do ex-presidente norte-americano que frustraram a OMC nos últimos anos. Em 5 de fevereiro, as autoridades comerciais de Biden expressaram apoio ao nome de Ngozi Okonjo-Iweala para a direção geral da agência internacional.

CONTRA O RELÓGIO

Ngozi terá o desafio de demonstrar em pouco tempo sua capacidade de reunir países após 4 anos de crescente desconfiança provocada em parte pelo “America First“, movimento comercial soberanista de Donald Trump. Não está claro ainda se a política econômica internacional do governo Biden tomará uma direção substancialmente diferente da adotada pelo republicano.

Haverá pressão para que Ngozi produza resultados significativos até o fim de 2021, quando a OMC deverá realizar a 1ª conferência ministerial sob a nova direção. Outro desafio será reconciliar o capitalismo tradicional de mercado e o modelo de capitalismo de Estado da China. A seleção de Ngozi também representa a possibilidade de uma maior participação de países da África na economia e governança global.

“Dada a interconexão das economias mundiais, uma resposta coletiva aos desafios atuais e emergentes sempre será mais forte que as respostas individuais. Como colocamos em minha língua nativa ‘se a direita lava a mão esquerda e a esquerda lava a direita, então ambas ficam limpas’”, disse ela ao Conselho Geral da OMC em 2020.

Ngozi Okonjo-Iweala mostra-se otimista: a exemplo de seus mandatos na Nigéria, ela afirma que pequenas vitórias na OMC abrirão caminho para outras maiores. O combate ao coronavírus, para Ngozi, é o ponto de partida para o fortalecimento da abordagem multilateral no órgão intergovernamental.

“É em áreas onde há um terreno comum que a OMC poderá ter sucesso e começar a reconstruir a confiança entre seus membros”, diz.

Com informações do Poder 360