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Brasileiras são hoje 52% dos eleitores, direito que custou a ser conquistado

Alzira Soriano em seu gabinete no governo de Lajes. Primeira mulher eleita para um cargo executivo no país

No fim do século XIX, a cirurgiã-dentista gaúcha Isabel de Sousa Matos tentou votar com base no Código Eleitoral da época, que autorizava o voto a quem tinha o chamado título científico, ou curso superior. Ela entrou na Justiça, ganhou em duas instâncias, mas perdeu na instância final. As justificativas, hoje, seriam chocantes.

Cinquenta e dois por cento dos eleitorado brasileiro é composto por mulheres. Isso foi resultado de uma luta antiga e intensa em defesa desse direito fundamental das cidadãs.

“Eu, a primeira vez que eu fui votar, eu estava tão feliz, eu fiz uma roupa bonita, de linho cor de rosa, um rosa forte, parecia que era uma coisa assim fenomenal”, conta uma senhora de 95 anos.

Todos sabemos o valor desse gesto simples, mas é preciso valorizar também a luta para que nós, mulheres, nos tornássemos cidadãs com direito ao voto. Foram necessários longos caminhos.

“Nós tínhamos um papel reservado às mulheres na época, que era o de ser boas mães, dona de casa, aprender boas maneiras, bordados etc”, conta Schuma Schumanher, pesquisadora.

Abrir portas passou a ser o objetivo. No fim do século XIX, a cirurgiã dentista gaúcha Isabel de Sousa Matos tentou votar com base no Código Eleitoral da época, que autorizava o voto a quem tinha o chamado título científico ou curso superior. Ela entrou na Justiça, ganhou em duas instâncias, mas perdeu na instância final. As justificativas, hoje, seriam chocantes. No parecer, os constituintes diziam, entre outras alegações, que “o papel social reservado à mulher, de procriar e criar a prole, requereria seu isolamento e, ainda, que a concessão de direitos políticos às mulheres trará, infalivelmente, a desorganização do lar e da família”.

A cada não, elas se uniam. Nas décadas de 1910 e 1920, alguns grupos de mulheres foram para as ruas. Elas descobriram que não podiam votar, mas que podiam criar um partido político; e criaram. Fizeram passeatas e fizeram panfletagem até de aviões. Essas guerreiras conseguiram um abaixo assinado com mais de duas mil assinaturas para que o Congresso Nacional se sensibilizasse com a causa.

A advogada e bióloga Bertha Lutz começou uma agitação nacional pelo voto feminino.

A primeira vitória foi em 1927. Mulheres do Rio Grande do Norte conquistaram o direito de votar. No ano seguinte, Alzira Soriano foi eleita prefeita de Lajes e se tornou a primeira mulher a assumir um cargo eletivo no Brasil.

Mas Bertha Lutz e as outras lideranças continuaram pressionando. Em fevereiro de 1932, as mulheres conseguiram uma das maiores conquistas do século XX: o direito de votar e de serem votadas. Por decreto, o presidente Getúlio Vargas autorizou o voto feminino. Parecia perfeito. Só que não. Havia restrições: só podiam votar as viúvas ou solteiras que trabalhassem. E quem fosse casada, precisava da autorização do marido para votar.

“Além do que, era facultativo. Então, obviamente que você já sai em uma corrida na participação política das mulheres de extrema desigualdade”, explica a pesquisadora Schuma.

A médica Carlota Pereira de Queiroz se tornou a primeira deputada federal do Brasil. Mas, em terreno tão árido, era preciso bolar estratégias. Mulheres criaram o Sindicato das Taquigrafas para que a representante da categoria votasse na Assembleia Constituinte.

“Almerinda Farias Gama era uma advogada. E é considerada a primeira negra a entrar na política”, explica Schuma.

Só em 1965 as mulheres conseguiram votar com os mesmos direitos dos homens, mas em plena ditadura militar.

“Nós estamos falando de mulheres que lutaram arduamente para serem cidadãs em um contexto de completamente desigualdade de gênero, em um contexto onde lhes era reservado um papel muito secundário na sociedade”, avalia Schuma.

Com informações do G1 – Jornal Nacional.