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Marcus Pestana destaca os novos rumos da política pós-pandemia em seminário de capacitação

O PSDB-Mulher, em parceria com a Fundação Konrad Adenauer (KAS) e o Instituto Teotônio Vilela (ITV), realizou o último dos quatro painéis virtuais do Seminário Virtual de Capacitação Política: Gênero, Política e o mundo Pós-Pandemia. O evento aconteceu por meio da Plataforma Zoom, na última sexta-feira (28/8).

O palestrante do dia foi o economista e ex-deputado federal pelo PSDB de Minas Gerais, Marcus Pestana, que comandou o painel “Política pós-pandemia: Que mundo iremos herdar?”. O seminário teve por objetivo auxiliar na capacitação política das mulheres tucanas, que irão se candidatar aos cargos de prefeita ou vereadora nas eleições municipais deste ano.

Quem moderou este painel foi a presidente Nacional do PSDB-Mulher, Yeda Crusius. “Está espetacular esse curso da Konrad Adenauer, porque ele aponta para o futuro. É a tecnologia incorporada a nossa rede do PSDB-Mulher”, afirmou a presidente. Marcus Pestana cumprimentou a presidente e as militantes do Segmento. “Os partidos aqui são muito frágeis, flácidos e sem organicidade, e o PSDB-Mulher está dando um show em termos de criar essa rede, esses laços, essa configuração de um ente coletivo”.

Um “novo normal”?        

Marcus Pestana colaborou com o evento trazendo no painel uma reflexão sobre as perspectivas pós-pandemia para o mundo e, particularmente, para o Brasil. “Eu detesto modismos. Tenho uma certa alergia desse ‘novo normal’, que me parece uma forçação de barra porque não é assim a dinâmica do desenvolvimento civilizatório. Para lembrar, a última grande epidemia, a gripe espanhola, se deu paralela à Primeira Guerra Mundial, perdemos 50 milhões de vidas, e nem por isso houve um ‘novo normal’”.

O economista relembrou outros momentos históricos, como a grande crise da queda da bolsa em Nova York em 1929, a Segunda Guerra Mundial, as Revoluções Russa e Chinesa, que, para ele, também não resultaram em um ‘novo normal’, onde países e pessoas se tornaram mais solidárias. “Você pode produzir mudanças imediatas na economia ou na política, uma revolução ou golpe de estado, pode mudar o arranjo de poder, pode mudar a dinâmica da economia, mas mudanças comportamentais, de costumes e de atitudes são muito mais complexas. É evidente que, depois de uma experiência como essa, muitas conclusões vão amadurecer, as pessoas vão mudar, a sociedade vai mudar, mas não acho que o mundo será outro, não acredito que haverá uma ruptura profunda”.

Gastança necessária

Apesar das 119 mil mortes no país em razão da Covid-19, Marcus destaca que o negacionismo em relação à existência do vírus e de uma pandemia é grande nas redes sociais. “Nós teremos uma crise econômica profunda, a maior recessão da história do Brasil e há dúvidas sobre o ritmo de retomada de criação de empregos e de atração de investimentos. Vínhamos em uma situação muito grave, principalmente no plano fiscal. No que o PSDB proporcionou, câmbio flutuante e metas de inflação, não há problema, mas no campo fiscal, os governos gastam mais do que tem. Os populistas e demagogos, acham que os gastos são ilimitados, que não há restrição orçamentária”, enfatizou.

O ex-deputado enfatizou que o Brasil tem hoje uma grave restrição orçamentária, principalmente, os estados que se encontram em grave situação, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. “Temos municípios muito heterogêneos. Há municípios ricos, graças a royalties de petróleo, de mineração e hidroelétricas, mas a maioria está estrangulado”, explica, relembrando os impactos do governo Dilma, que desorganizou as economias e contas do país. “A partir do impeachment no Governo Temer começamos a corrigir, através do teto de gastos, do amadurecimento da Reforma da Previdência”.

Efeitos na economia

No mundo inteiro, quando veio a pandemia, todos os países abriram uma bolha de aumento de gastos públicos e de endividaram, de acordo com Marcus. “Parece que as pessoas estão hipnotizadas com essa gastança, gastança necessária, justificada para enfrentar a pandemia nos aspectos de saúde e sociais. Houve o auxílio emergencial, as transferências compensatórias aos estados e municípios, o crédito para pequenas e médias empresas, o programa de sustentação do emprego para atenuar as demissões, os gastos adicionais com o Sistema de Saúde. Tudo isso foi necessário, mas não podemos nos iludir: o déficit primário, que não leva em conta as despesas financeiras, ano passado foi de 95 bilhões. Esse ano deve apontar a 760 bilhões de reais. Isso é insustentável”, salientou, destacando que a dívida que era 7,9 do PIB vai a 10%.

No Congresso, na sociedade e dentro do Governo Federal, Marcus Pestana afirma que há uma polêmica instalada sobre recursos a serem destinados para um programa de renda mínima permanente e para os investimentos públicos, no sentido de alavancar construção civil, saneamento e infraestrutura e dar empregos. “O desemprego vai agravar muito. No final da pandemia, deve estar perto de 15, 16%. Gravíssimo. Além dos desalentados que sequer procuram empregos, e dos subempregados que são invisíveis”.

O economista afirma que o dinheiro deve vir da reforma administrativa do serviço público, que impedirá salários extraordinários, da reforma tributária que cortará os incentivos e benefícios fiscais dados sem razão e diminuirá as desigualdades na cobrança dos impostos, e da reforma do estado, com a venda dos estatais. “Nós fizemos a privatização das telecomunicações, mas o caráter público não foi perdido. Privatizamos a operação, e foi um sucesso absoluto. (…) Há um risco muito grande do populismo e da demagogia prevalecer. A esquerda mais extremada tem uma visão anacrônica completamente desfocada.”

Efeitos na saúde

Na saúde, Marcus Pestana afirma que teremos impactos importantes. Segundo ele, com a experiência da pandemia, as pessoas estarão mais atentas à prevenção e ao autocuidado. “Essa coisa de lavar as mãos, usar máscaras e evitar aglomeração tem um caráter pedagógico porque muito da carga de doenças incidentes no Brasil são por causas evitáveis. O sistema ganha, e a pessoa ganha qualidade de vida. Essa herança na mudança comportamental vai ficar”.

De acordo com o ex-deputado, o SUS vai se sair fortalecido da pandemia. “Mal ou bem, o SUS conseguiu segurar a barra. Para fazer tudo para todo mundo, que é o que tá na Constituição, nós temos U$ 420,00 dólares per capita, por habitante ano. Para comparar, Portugal, que tem um sistema parecido com o SUS, tem U$ 1.300,00 dólares. A Espanha, U$ 1.800,00. Canadá, França, Itália, Reino Unido, U$ 3.000,00 a U$ 3.800,00 dólares. A gente faz uma certa mágica, mas não há milagre. Nem tudo é dinheiro, muita coisa é gestão, mas não há, sem dinheiro, possibilidade de fazer mágica. A sociedade, o Congresso e o Governo devem estar para melhorar o orçamento do SUS”.

Outra herança positiva deixada pela pandemia, segundo Marcus, é a parceria entre saúde pública e privada. “Como os recursos são muito menores que as necessidades da população, 47 milhões de pessoas têm plano de saúde privado. Como o dinheiro é curto, acredito que quanto melhor for a saúde privada, melhor é pro SUS, já que esses 47 milhões de pessoas deixam de sobrecarregar o SUS abrindo espaço para os mais pobres. O SUS sai fortalecido e a perspectivas de parcerias com a saúde suplementar vai ser qualificada, e há conquistas com a telemedicina que veio para ficar. 100 mil consultas por mês foram realizadas. É um campo que ganha qualidade e produtividade”. Marcus Pestana reiterou que a pandemia só se esgota quando tiver a vacina. “Não podemos relaxar as medidas preventivas. É preciso muito cuidado, porque o vírus só vai ser controlado quando tivermos a aplicação em massa da vacina, imunizando a população”.

Home Office

Para Marcus Pestana, o home office recebeu uma nova importância durante o isolamento social. Trouxe benefícios, especialmente para os profissionais altamente qualificados onde a hora vale muito, mas é preciso saber trabalhar a distância. “Nem todas as tarefas podem ser desempenhadas remotamente. Por outro lado, a equipe ficar totalmente em casa, perde o espírito de equipe. Além da perda de parâmetros formais, já que as pessoas vão mudando o comportamento e fazendo reuniões de pijama, deitados no sofá”.

Identificação única

Para Marcus, a pandemia trouxe um grande desafio nacional: a identidade única colada no cadastro social, para receber o auxílio emergencial. “Temos tantos números, CPF, carteira de identidade, de motorista, cartão SUS, registro profissional, pra que? O cidadão deveria ter um número único em um cadastro nacional, e dai ramificava em big datas de cada setor, que permita todas as políticas públicas. Facilitaria muito. A índia tem 1,3 bilhão, em 10 anos digitalizou a identificação única. Um país muito maior que o nosso. É totalmente viável”.

Auto-organização da população

O potencial comunitário e a auto-organização da população foram destaques na palestra de Marcus Pestana. Para ele, a sociedade não precisa ficar esperando uma ação do estado. “Em São Paulo, uma grande favela de um milhão de habitantes, se auto-organizou e elegeram um presidente de rua em cada rua, que tinham missões definidas, de levar cestas básicas e agasalhos para famílias mais carentes, de difundir hábitos de prevenção e desfazer fake news. Conseguiram uma parceria com empresa privada, contrataram médicos, enfermeiros, emergenticistas, UTI e ambulâncias. Essa comunidade se auto-organizou”.

Indicações do palestrante

Apesar das inscrições serem limitadas, mais de 130 pessoas, entre homens e mulheres, participaram da capacitação. Muitas pré-candidatas, prefeitas e vereadoras em mandato, e lideranças tucanas de todas as regiões do Brasil assistiram ao vivo o evento e puderam fazer perguntas. Aparecida de Goiânia/GO, Palmas/TO, Bela Vista de Minas/MG, Itapeva/SP, Mundo Novo/MS e Nova Iguaçu/RJ, dentre tantas outras cidades, se fizeram presente.

Marcus ainda falou sobre os benefícios que o isolamento social trouxe para o meio ambiente, a universalização de internet de boa qualidade, sobre os vários desafios em relação à segurança pública, às milícias, aos tráficos, a questão da saúde, de acesso à educação, creches para a primeira infância. O ex-deputado federal respondeu perguntas sobre internet no Amazonas, confiabilidade política, a questão da rachadinha em mandatos políticos, corrupção, mensalão, e comentou sobre a governabilidade de Dilma, Lula e Bolsonaro.

“O Brasil é aquela coisa do copo meio cheio, meio vazio. Houve avanços, mas nos últimos anos, perdeu o trilho. O Brasil não ficou parado, mas particularmente na questão econômica, só podemos distribuir riqueza se gerarmos riqueza. (…) Acho que a pandemia deixa um legado. Toda a experiência humana deixa um legado. Não vai haver uma ruptura de paradigmas, mas é claro que muitas mudanças positivas vão ficar com essa pandemia”, afirmou Marcus Pestana.

Por fim, o economista recomendou alguns livros como: “Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições”, de Giuliano da Empoli; “Como as Democracias morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt; além das séries da Netflix, “Privacidade Hackeada” e “Rede de Ódio”.