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Marias em fuga: as nordestinas que migram para fugir da violência doméstica

Imagem: AzMina

Maria Celeste Braga, 75, saiu às pressas de Florânia, no Rio Grande do Norte, com 22 anos e hoje vive em Goiânia. Entre as muitas coisas que perdeu ao migrar, a que mais lhe doeu foi a guarda do filho, que tinha seis  meses na época. Maria da Guia Xavier, 52 anos, fugiu aos 15 anos de Riachão, no Maranhão, sem contar com nenhum tipo de apoio familiar, por anos, precisou trocar seu trabalho como doméstica por comida e moradia. Maria José dos Santos, 47 anos, natural de Santa Teresa do Paruá, também no Maranhão, saiu de lá aos também 15 anos, deixando para trás família e amigos, e hoje vive em Governador Nunes (MA).

Maria José, Maria Celeste e Maria da Guia. Três mulheres nordestinas que, apesar de nunca terem se conhecido, partilham muito em comum, para além do nome. As três foram vítimas de violência doméstica e, por causa disso, migraram de suas cidades de origem para outras localidades do Brasil, em fuga.

Feminismo e direitos humanos sem intermediários.

Historicamente, o Nordeste é uma região com elevado índice de evasão migratória. Para se ter uma ideia, atualmente 9,5 milhões de nordestinos residem em outra região do país, representando, desta maneira, 53,6% do total nacional de migrantes, revelam dados do Censo 2010.

Dentre os vários motivos para migrar, a busca por emprego, oportunidades de estudo e melhores condições de vida costumam ser as razões mais citadas. No entanto, se tratando da migração feminina, um outro fator tem sido frequentemente mencionado: a violência doméstica, que, segundo dados da Pesquisa Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, realizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com o Instituto Maria da Penha, se faz presente na vida de três em cada dez nordestinas (27,04%) entre 15 e 49 anos.

Foi a violência doméstica que fez com que Maria José, aos 15 de idade, se visse obrigada a partir de Santa Teresa do Paruá (MA) para Santa Inês, cidade vizinha, fugindo das recorrentes ameaças de morte por parte do ex-marido a ela e toda a sua família.

Na época, ainda adolescente, havia acabado de sair de um relacionamento de quase dois anos, marcado por xingamentos, empurrões e socos. Maria José decidiu separar-se quando ouviu o companheiro dizer que tinha a intenção de abusar sexualmente da filha, uma criança de oito meses.

“Ele fez foi me falar que não ia plantar um pé de bananeira para vir outro e cortar o cacho. Ou seja, quis dizer que um dia ia usar minha filha”, reproduz as palavras do ex-companheiro.

Violência enquanto fator migratório

“Ao não encontrar no espaço social do qual faz parte os mecanismos necessários para reprimir a violência que enfrenta, a mulher se vê obrigada a partir”, explica Carlos Bernardo Vainer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e sociólogo que estuda a violência enquanto fator migratório.

Ele comenta que esse tipo de deslocamento compulsório revela a ineficiência do Estado em proteger mulheres em situação de violência e é algo recorrente tanto nos pequenos municípios, como ocorreu com Maria José, que vivia num local com cerca 9 mil habitantes, quanto em grandes cidades, como é o caso de Maria Celeste.

Cinco décadas atrás, ela teve que ir às pressas de Natal, capital do Rio Grande do Norte, para a casa de um tio que vivia em Florânia (RN) para fugir do companheiro que, após ter sido contrariado, cortou sua cabeça com uma faca.

“A situação foi assim: a tia dele cortou o meu cabelo, mas ele não queria que cortasse. Aí ele passou a faca aqui [aponta a cabeça] e cortou”, relata.

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Fonte: Reportagem AzMina Especial Violência Doméstica, realizada em parceria com o Volt Data Lab