Opinião

Trinta anos de um símbolo, por Yeda Crusius

Em 2002, último ano do governo FHC, eu presidia o ITV, think tank do nosso partido, o PSDB. Dava continuidade à gestão de Lúcio Alcântara, senador pelo Ceará. Muitas publicações, seminários, encontros, formação dos liados. Estava – e está – no DNA do PSDB a discussão, na cultura acadêmica, das questões na nossa era. As coleções que criamos estão disponíveis na nuvem.

Recupero o número 1, janeiro de 2002, da revista Social Democracia Brasileira, que criei naquela função de Presidente do ITV, com uma equipe maravilhosa, com o estímulo de todos, e que disponibilizava largamente. Se não me engano, a tiragem era de 2 mil. Lembro do relato dos que, à espera da audiência com os ministros, folheavam a revista. E levavam. Era temática.

A primeira foi Democracia, com a foto da capa retratando a Queda do Muro de Berlim, que no próximo dia 9 de novembro completa 30 anos. Ao final daquele ano de 2002, perdida a eleição à presidência para o PT, a capa dessa edição história foi Oposição.

Tenho três motivos para trazer de volta essas edições da revista Social Democracia Brasileira, agora digitais, disponíveis no meu site yedacrusius.com.br. Primeiro, porque neste mês celebra-se os 30 anos da Queda do Muro. Nós, da geração do lme 30 anos esta noite, sabemos da importância dos 30.

Segundo, porque de novo está em discussão efervescente em todo o mundo, com movimentos de massa em vários países – o Chile inclusive, forçando o governo a transferir a nal da Libertadores para o Peru – se está esgotado o ciclo que organiza as sociedades através da Democracia Liberal.

O último número do Journal of Democracy, do IFHC, apresenta excelentes artigos que entram nessa discussão. Vão Lá. Terceiro, porque nesta terça-feira, 5 de novembro, o governo Bolsonaro foi levar ao Congresso Nacional um pacote de PECs, as da Reforma de Estado (Federativa, Orçamentária e Administrativa), confessando-se assim pela prática um Governo Reformista – o que o PSDB sempre foi.

Guedes e Bolsonaro vivem cutucando o PSDB, tentando desmanchar a nossa identidade de governo do bem-estar social, de centro portanto, e tentando colocar-nos iguais a partidos e governos de uma esquerda populista – o que nunca fomos.

Em tempo: partidos e governos que Bolsonaro sempre apoiou com seus votos de Deputado Federal. Neste embate que traz ventos do passado – os da Guerra Fria que a Queda do Muro sepultou, fazem questão de dizer que não gostam do PSDB. Provocam. Só que não. Os formuladores e articuladores da área econômica desse governo tem o DNA tucano. Reformistas. Aliás, o mesmo aconteceu no Governo Lula, Dilma e Temer.

As provocações são coisa de moleque bobalhão. Sempre usaram desse estratagema para dividir as opiniões entre o “nós”, bonzinhos monopolistas da intenção de fazer o bem, e o “eles”, os mauzinhos que tiram dos pobres para dar aos ricos.

Bem, registrado pelas estatísticas, nunca os ricos ganharam tanto quanto nos governos dos “bonzinhos”, repassando parte de seus lucros extraordinários a estes “bonzinhos” via corrupção, desvendada pelos processos do Mensalão e dosanos de um símbolo – Yeda Crusius yedacrusius.com.br/30-anos-de-um-simbolo/ 3/6 Petrolão, que colocou poderosos na cadeia. Tanto roubaram que o povo foi às ruas, de 2013 em diante, bradando “vocês não nos representam”, “chega de corrupção”. Alimentados os extremos, ambos populistas como é da cultura continental, é o que se vê. Como dizia minha mãe, me aconselhando a não responder às barbaridades que eu relatava ouvir no centro de São Paulo, por aqueles homens de porta de bar, quando tinha que ir a pé da Faculdade para o trabalho.

Pois não respondo aceitando o chamado para a briga, porque vira briga de bar de quem já bebeu muito. Respondo, como sempre z, atuando, seja no Parlamento, seja no Executivo: buscando transformar para melhor o modo de fazer política dos poderosos políticos.

Estou certa de que, justamente pela experiência, prudência e competência dos parlamentares do PSDB, e de outros que veem nas propostas contidas nas 3 PECs uma oportunidade de uma mini reforma constitucional, o resultado do processo parlamentar pode ser significativas mudanças para melhor na Constituição de 31 anos. Porque o mundo de 1988 para cá mudou, é preciso reformar para gerar um sistema mais eficiente, justo, solidário. Sabem fazer, tirando os bodes da sala e melhorando o que há de bom que chega ao Congresso Nacional em boa hora.

*Yeda Crusius é presidente Nacional do PSDB-Mulher. Ministra do Planejamento no governo Itamar Franco (1993), Governadora do RS (2007/2010), Deputada Federal por quatro mandatos.