Opinião

“Luta pelos direitos dos queimados é lei”, por Dra. Cristina Lopes

Publicado no dia 06/06/18 no jornal Diário da Manhã. 

O dia 6 de junho é o Dia Nacional de Luta contra Queimaduras. A recente tragédia que matou nove adolescentes no Centro de Internação Provisório (CIP) para menores, do 7º Batalhão da Polícia Militar, é um alerta para a questão das queimaduras, principalmente em relação à prevenção e os cuidados com futuras vítimas. Não havia no local extintor de incêndio e EPI (equipamento de proteção individual) para combater incêndio, e muito menos o treinamento dos servidores. O assunto é sério. De acordo Ministério da Saúde, cerca de um milhão de brasileiros sofrem queimaduras por ano. As maiores vítimas são crianças e pessoas de baixa renda.

As queimaduras provocam intensa dor física e emocional para a vítima e toda a família. A dor do paciente queimado é terrível para quem sente, estressante para quem cuida. Além disso, dependendo da extensão e gravidade, podem causar sequelas físicas e psíquicas que podem reduzir as chances dos indivíduos afetados de usufruir plenamente de seu potencial produtivo do ponto de vista econômico e social.

O impacto que as deformidades causam na vida dessas pessoas é cruel e muitas vezes permanente. Mais de 300 mil pessoas morrem de queimaduras por chamas em todo o mundo, sem incluir as outras mortes decorrentes de queimaduras químicas, contato com substâncias ou superfícies aquecidas, eletricidade, entre outras.

Por meio da Lei nº 10.040, de 14 de junho de 2017, que instituí no âmbito do Município de Goiânia, o mês da Luta pelos Direitos do Queimado, denominado de “JUNHO LARANJA”, mais pessoas terão acesso a informações preciosas sobre socorro e tratamento de queimados. É fundamental disseminar a cultura para se evitar acidentes, especialmente no período das festas juninas, quando ainda são comuns queimaduras com fogos de artifício. Também é fundamental defender direitos do paciente queimado e sua inclusão social. Afinal, a queimadura é um trauma que pode atingir qualquer ser humano.

A dedicação ao socorro e tratamento de queimados passou a ser uma missão de vida, depois que fui vítima de uma tentativa de homicídio por parte de um ex-namorado, inconformado com o fim do relacionamento. Com apenas 20 anos, recém-formada em Educação Física, 85 por cento do meu corpo foi queimado, e fui submetida à 24 cirurgias. Conheço na pele a dor que as queimaduras podem causar. Por isso, trabalho com afinco para que ninguém viva o que vivi.

O “JUNHO LARANJA” surge para disseminar a prevenção, os cuidados, a superação e uma nova forma de encarar a vida. Voluntariamente, há mais de três décadas, realizo palestras para estudantes, profissionais de saúde e a comunidade em geral, informando sobre a prevenção e o tratamento de queimaduras, tanto em escolas, universidades, empresas, hospitais e outras unidades de saúde, em todo o Brasil e fora do país.

O mês de junho também conta com as tradicionais Festas Juninas. A lei se propõe a alertar a sociedade sobre os riscos de queimaduras, em especial as provocadas por fogueiras, bombinhas e fogos de artifício, ainda comuns neste período do ano. Mas o alerta é para sempre. O perigo pode estar presente também nas residências, no trabalho e no nosso dia a dia, dada a presença de uma gama de agentes inflamáveis (álcool, querosene, botijão de gás doméstico, lampiões, fósforos, isqueiros, velas), objetos quentes usados na atividade rotineira de preparar as refeições da família (fogão, panelas, churrasqueiras, alimentos) ou outros equipamentos domésticos (ferro de passar roupa, aquecedores), além de exposição à corrente elétrica (tomadas, instalações elétricas).

Seja por descuido, falta de conhecimento ou por insistir no risco, o Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras e o “JUNHO LARANJA” existem para rever nossos hábitos, readequar nossa postura, para que nosso cotidiano seja repleto de cuidados que nos garantam nosso direito mais básico: a vida plena.

Lembrando que 2018 é o ano da Copa do Mundo, apesar do desencanto da população, quando a bola correr e a rede balançar, muita gente pode soltar foguetes. Cuidado! Atenção! Lembre-se seu maior desafio é ser feliz.

*Cristina Lopes, vereadora por Goiânia