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Santo André foi laboratório da corrupção que resultou no mensalão e outros crimes, diz Mara

Foto: Agência Câmara

A deputada Mara Gabrilli (SP) exerce seu segundo mandato como deputada federal. Filha de um empresário de ônibus de Santo André, região do Grande ABC paulista, ela acompanhou de perto o drama do pai que, a exemplo de outros empresários do setor, eram vítimas de achaque de administração da cidade sob o comando do prefeito petista Celso Daniel, executado a tiros no meio do mato.

Passados 16 anos, em entrevista ao “Estado de S. Paulo”, na série Nêumanne Entrevista, ela afirma que o esquema de extorsão a empresários em Santo André foi o laboratório para os escândalos do mensalão, petróleo e outros que foram revelados. “Se tivéssemos conseguido cessar a corrupção em Santo André, talvez o País não estivesse na situação em que se encontra hoje”, afirma.

Ela conta que empresários eram achacados e ameaçados por bandidos armados. O dinheiro obtido desta forma deveria ir para o caixa 2 do PT, que financiaria a campanha de Lula para presidente em 2002.   Segundo Mara, esse foi o mesmo esquema usado para o mensalão e, mais tarde, com o petrolão, já institucionalizado, em níveis e quantidades cada vez maiores.

O elo entre o caso Celso Daniel e o petrólão foi o empresário Ronan Maria Pinto. Tendo informações privilegiadas dentro do grupo, Ronan chantageou Lula, que pediu ajuda ao empresário José Carlos Bumlai e, através do grupo Schahin, destinou o valor de, no mínimo, R$ 6 milhões para silenciar Ronan. “Isso tudo está nos autos, fruto das investigações feitas pelo Ministério Público”, afirmou.

Embora a morte de Celso Daniel tenha sido considerada crime comum, mesmo depois da abertura de cinco inquéritos, Mara Gabrilli considera que lentamente as coisas estão acontecendo.

Ela cita que há dois anos a 1.ª Vara da Fazenda de Santo André condenou o PT a devolver R$ 3,5 milhões aos cofres do município, e outros R$ 3,5 milhões a ser devolvido de forma compartilhada por Ronan Maria Pinto, Sérgio Sombra e pelo ex-secretário Klinger Oliveira. No ano passado, os desembargadores da 3.ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo confirmaram a sentença por unanimidade.

Sérgio Sombra está morto e Ronan e Klinger, condenados, com um pé na prisão. O PT também foi multado em R$ 10,5 milhões pelo envolvimento nesse esquema de corrupção em Santo André. “Eu confio na Justiça e ainda acredito que muita coisa sobre o assassinato do Celso Daniel virá à tona, mas estou satisfeita em saber que, de uma forma ou de outra, a justiça está sendo feita”, destacou a deputada.

Ao ser questionada sobre a revelação feita pela Lava Jato envolvendo a Petrobras, a tucana avalia que a Operação é um divisor de águas na política brasileira e a justiça está sendo feita. Ela avalia que para as próximas eleições o eleitor vai pesquisar melhor em quem votar por conta de tudo o que já aconteceu no pais.

“Tenho, sim, a esperança de que essa corrupção, pelo menos, diminua. A própria população está de olho, fiscaliza, denuncia”, afirma. Ela destaca ainda que a sensação de impunidade está mudando e isso, por si só, já ajuda a mudar a mentalidade, ou pelo menos inibe a as atitudes de políticos brasileiros.  Há algum tempo não era possível imaginar um ex-presidente da República estaria atrás das grades – condenado, cumprindo pena. Para ela, a evolução da internet, a tecnologia, as notícias em tempo real – tudo isso contribui para aumentar e facilitar a fiscalização.

ATUAÇÃO

Mara Gabrilli é incansável. Publicitária e psicóloga, ela exerceu o cargo de secretária da Pessoa com Deficiência da Prefeitura da capital paulista e vereadora na Câmara Municipal paulistana.  Em 1994 sofreu um acidente de carro que a deixou tetraplégica. Três anos mais tarde fundou o Instituto Mara Gabrilli, que fomenta pesquisas científicas para cura de paralisias, apoia atletas do esporte paraolímpico e trabalha em projetos sociais e culturais para o desenvolvimento de pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social.

A atuação dela é combativa em defesa dos cidadãos com deficiência. Uma das consequências práticas, segundo ela, é sensibilização do Congresso Nacional em relação ao tema. “Tenho uma deficiência severa e preciso de uma assistente pessoal em todos os momentos. Isso é uma novidade no Congresso”, diz ela.

Entre os avanços, ela destaca a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, aprovada depois de tramitar 15 anos entre Câmara dos Deputados e Senado Federal, sendo considerada uma das legislações mais completas do mundo sobre o tema e virou referência na ONU.

O tema foi colocado no dia da dia da Câmara com a criação da Comissão Permanente de Defesa dos  Direitos das Pessoas com Deficiência, em 2015. Todos os projetos de lei que tratam do assunto passam por essa comissão.  Segundo Mara Gabrilli houve aumento no número de candidatos com deficiência aumentando. “Isso faz muita diferença para avançarmos ainda mais nessas questões”, afirmou.

*Do PSDB na Câmara