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16 Dias de Ativismo: Senado discute papel tradicional das parteiras

Parteiras tradicionais do Amapá, de Pernambuco e de Goiás participaram da 48ª Pauta Feminina, no Senado, para discutir a valorização do papel das parteiras tradicionais, como parte da programação dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher. A atividade foi organizada pela Procuradoria Especial da Mulher do Senado e pela Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, entre outros parceiros.

Para Sandra de Souza Maciel, socióloga, parteira aprendiz e Coordenadora Nacional do Movimento Curador, relacionou três aspectos que devem ser analisados: retratação pública, com indenização para parteiras maiores de 60 anos; remuneração para o parto domiciliar realizado por parteiras, a partir das notificações; reunião da documentação já existente sobre as parteiras tradicionais, nascida de iniciativas acadêmicas; e adoção de uma abordagem “holística” para “um novo rural”.

“Não dá pra tratar nada isoladamente: o trabalho das parteiras, com todo o seu saber sobre as ervas, tem a ver com temas como permacultura, agrofloresta, agronegócio, pois ervas tradicionais, conhecidas por seus poderes medicinais são descartadas como mato”, disse Sandra Maciel.
Conceitos e preconceito

Maria Luiza Dias, presidente da Rede Estadual de Parteiras Tradicionais do Amapá, mencionou o imenso preconceito em relação ao conhecimento das parteiras, lembrando que eram chamadas de bruxas, feiticeiras e macumbeiras e o receio com que atenderam à iniciativa do governo João Capiberibe de valorizá-las.

“Como havia vigias no Palácio, houve receio, da parte de algumas parteiras, de que pudessem ser acionados para prendê-las”, recordou Maria Luiza Dias.
Verónique Durand, doutora em Antropologia e autora do libro Órfãs de Esperança – Violências contra a Mulher – Alguns relatos no mundo, disse que na França as parteiras são conhecidas como sages femmes(mulheres sábias).

A pesquisadora afirmou que no Ocidente as parteiras sempre tiveram muito prestígio, por saberem acompanhar as mulheres no parto. Até 1.560, a profissão era exclusivamente privada e feminina. Um marco da masculinização da obstetrícia foi a determinação de Luis XIV para os médicos acompanharem o parto de seus filhos.

Parteiras

“Quem não nasceu por mim, na sala de parto, passou por mim na sala de vacina”, disse Adiles Sebastiana de Sá, conhecida como Irmã Soledade em Santo Antônio do Descoberto, onde se radicou há mais de 40 anos e ajudou a montar a estrutura dos serviços de saúde.

Filha e neta de parteira, ela “partejou” os últimos irmãos. Só mais tarde, estudou, formou-se e fez uma pós-graduação. Os estudos a ajudaram “em alguma coisa”, disse ela, “mas não do fundamental”.“Naquela época a gente esquentava a tesoura, hoje esteriliza”, lembrou Irmã Soledade.

Quilombola de Goiás, às vésperas de completar 80 anos, Florentina Santos – Dona Flor – fez 329 partos desde os 18 anos. Os 18 filhos que teve nasceram sozinhos. Sua sabedoria indica quando encaminhar para os médicos os casos mais graves. “Nenhuma mulher morreu nas minhas mãos”, disse ela.

Há algum tempo, Florentina Santos quebrou o braço direito e teme não completar os 330 partos. Mesmo sendo analfabeta e tendo passo a vida sem documentos, ela repassa saberes a um grupo de discípulas e guardiãs, entre as quais Daniela Ribeiro de Souza.

Ao lado de Lílian Galvão, do grupo A Parteira Souvenirs, Daniela quer fundar a Escola de Saberes Tradicionais Flor do Moinho, para realizar um sonho de Dona Flor. De acordo com Daniela, “Esses mestres e mestras são os sacerdotes e as sacerdotisas dos saberes tradicionais de nossa humanidade”.

Também participou do encontro a professora Silvéria Santos, parteira, enfermeira obstétrica, professora da Universidade de Brasília (UnB)e escritora, autora de Esse Dom que Deus me Deu: A arte e o ofício das parteiras tradicionais do DF e GO, que destacou a importância do trabalho das parteiras para as famílias que delas necessitam.

*Com informações da Agência Senado.