Em pleno século 21, nós ainda temos que lutar por alguns direitos adquiridos e nem sempre respeitados, como a amamentação e licença-maternidade. Parte do nosso combate se deve à ‘glamourização’ de situações bem distantes da vida real. É o hábito de estabelecer um encanto sobre o ato de amamentar e de dar à luz, mas não criar condições adequadas às mulheres.
No país, 41% das mães amamentam exclusivamente até os seis meses, é o dobro da taxa registrada nos Estados Unidos, Reino Unido e China. Porém, faltam lugares próprios para que os bebês sejam amamentados em aeroportos e rodoviárias, além dos locais de trabalho!
Como se incentiva o ato de amamentar assim? É uma incoerência divulgar que o Brasil se orgulha de ser referência mundial e, no entanto, faltam creches nos locais de trabalho ou convênios com creches próximas. Salas de apoio à amamentação no ambiente profissional, então, são uma realidade praticamente inexistente no país.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 43% dos trabalhadores brasileiros são mulheres, ou seja, quase metade da força de trabalho no país.
Paralelamente à luta da amamentação, há uma série de questões envolvendo outra frente de combate: a licença-maternidade. A polêmica sobre prorrogar o prazo de 120 dias, definido pela Constituição, para 180 dias, é cercada ainda pela ameaça constante de demissão das mulheres que retornam ao trabalho.
Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que mais da metade das brasileiras são demitidas dois anos após licença-maternidade. A conclusão está em um levantamento com 247 mil mulheres, entre 25 e 35 anos. Segundo o estudo, a demissão ocorre, em geral, quatro meses após o retorno ao trabalho.
Daí eu retomo o tema inicial desta conversa: a ‘glamourização’ da amamentação e da licença-maternidade disfarça a necessidade real que deveria obrigar o Estado e a iniciativa privada a colocarem toda essa estrutura à disposição das mulheres. Essa ‘glamourização’ também encobre o desrespeito à premissa de que a “família é a base da sociedade”.
*Presidente nacional do PSDB Mulher e ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas Públicas para Mulheres no governo Fernando Henrique Cardoso.