Opinião

“Plástico Verde: Agir para que o Amanhã seja Melhor”, por Yeda Crusius

Mais uma vez escrevo sobre o óbvio: a tecnologia nos ajuda a acreditar um futuro melhor – veja o “plástico verde”, feito a partir da cana-de-açúcar, farta no Brasil, embora não no Rio Grande do Sul. Mesmo assim, a tecnologia foi descoberta aqui, no Polo Petroquímico de Triunfo, e a primeira planta do mundo inaugurei aqui, em 2010, depois de 3 anos de intensa negociação com a Braskem. Se ela tinha a ótica dos negócios, eu tinha a do futuro do meio ambiente. Com a tecnologia aqui descoberta, aqui deveríamos fabricar a nova matéria-prima, afirmei. Demorou, mas deu certo.

Notícias a cada pouco dão conta que o plástico verde fabricado no RS já é utilizado no que importa, levando qualidade de “biodegradável” a fraldas descartáveis, embalagem de café orgânico e produtos de beleza, materiais nas naves espaciais, além das milhões de sacolas de supermercados. Reduz-se com isso em 90% o lixo feito por plásticos outros.

Tem quem faça o lixo, e tem que ter quem mude o trágico resultado deste que tem sido mal descartado, ou mesmo mude a natureza de sua fabricação.. Repercutiu a informação divulgada pela revista Science Advance, de que o ser humano produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico desde que começou a produzir em massa esse material. Em 65 anos – de 1950 a 2015 – essa quantidade colossal e não biodegradável, em sua maior parte já virou lixo e apenas 9% foi reciclada, 80% flutua, livre, em nosso meio ambiente. Segundo cientistas responsáveis pelo estudo, se nada for feito para mudar nossa maneira de consumir, em 2050 a quantidade de lixo jogada em aterros chegará a 13 bilhões de toneladas.

A capacidade que temos de influenciar negativamente o ambiente em que vivemos parece ser inesgotável – é uma pena que os recursos do planeta não o sejam. São fotos e vídeos chocantes, mostrando áreas da natureza perigosamente perto do colapso.

Apesar de alternativas ao plástico não biodegradável não serem mais novidade – a exemplo do plástico verde, cuja primeira fábrica no mundo eu inaugurei quando governadora do RS, em 23 de abril de 2009, e hoje embala de fraldas de bebês a café orgânico -, ainda preferimos ignorar um problema que ameaça transformar a Terra em um planeta de plástico, se não adotarmos o consumo consciente. Ou reciclá-lo. Dois terços do plástico produzido vão para o lixo, com consequências trágicas, que precisamos enfrentar. Estudos recentes mostram que existem no mar cerca de 5 trilhões de peças plásticas boiando, e que anualmente são despejados pelo menos mais 5 milhões de toneladas nos oceanos.

Fotografias mostram algumas das ilhas de lixo mais famosas, uma delas nas Ilhas Maldivas, outra no Oceano Pacífico, e o efeito que o lixo provoca, desequilibrando uma cadeia delicada que afeta a todos nós. É preciso divulgar, conscientizar, sacudir, porque de nada adianta pensar o resto se não tomarmos uma atitude drástica contra o desequilíbrio ambiental. Felizmente, existem milhares de iniciativas individuais nesse sentido.

Em 2014, o pedreiro Ed Mauro Morbidelli decidiu construir sua casa usando apenas 10 mil garrafas pet na estrutura. O rapaz, que contou com a ajuda do pai na empreitada, usou material reutilizado e doado no restante da obra, com um custo total de menos de R$ 15 mil para o imóvel. Em maio de 2016, a Secretaria de Educação de São Paulo divulgou que alunos da rede estadual estavam criando casinhas para cães de rua a partir de garrafas pet, o que poderia ser uma ação permanente. O isopor descartado pode ser usado na construção civil, com boa qualidade isolante, desde que em projetos que não exijam resistência a grandes esforços – casas térreas, por exemplo.

São exemplos da consciência levando à prática iniciativas as mais diversas. Mas em termos de escala, o uso do plástico verde tem um gigantesco alcance. Sem, no entanto, mudar a própria atitude frente ao lixo, apenas adia o problema posto hoje, visível nas fotos. Assim como já fizemos nesse campo tecnológico e industrial, é preciso seguir agindo, e já, agora, como setor público, responsável por colocar nas prioridades de suas políticas públicas a questão ambiental como fator estruturante que desenha um futuro melhor. Porque o tempo não espera e, parafraseando Renato Russo: é preciso agir para que haja um amanhã.

* Yeda Crusius é deputada federal pelo PSDB do Rio Grande do Sul