Opinião

“Afronta inaceitável!”, Solange Jurema

Somente o respeito à Constituição brasileira e às leis penais contribuem para que todas nós respeitemos a decisão da justiça brasileira de dar liberdade ao ex-goleiro Bruno, que jogava no Flamengo, assassino de uma jovem mulher.

Condenado a 22 anos de prisão, depois de cumprir apenas sete, Bruno se beneficiou da legislação brasileira e ganhou o direito à liberdade. Retornou ao seu trabalho profissional num clube de interior de Minas Gerais, o Boa Esporte de Varginha.

Bruno, para quem esqueceu, encomendou a morte de sua ex-companheira Eliza Samudio, mãe de seu filho, assassinada com requintes de crueldade como o esquartejamento dela e a entrega de seus restos mortais a cães da fazenda dele.

É insuportável para sua mãe e para todas as mulheres brasileiras aceitarmos essa decisão e, pior ainda, vermos fotos do ex-goleiro na mídia nacional em que ele aparece em selfies com crianças e adolescentes e até mesmo com meninas ao lado dele, como se nada tivesse ocorrido.

É uma afronta inacreditável!

Bruno é um feminicida brutal, insensível, símbolo da ineficiência de nosso sistema jurídico quando se trata de crimes contra mulheres. Na prática, quase não há punição. A barbárie cometida por ele é esquecida pelo sistema judicial brasileiro.

Por mais que ele mereça ter direito a uma ressocialização – a legislação brasileira garante isso a todos, inclusive a feminicidas psicopatas como Bruno – é inconcebível ele continuar sendo atleta do esporte mais popular do Brasil jogando no Boa Esporte, que inclusive frequenta a segunda divisão do campeonato brasileiro.

Estão certos os cinco patrocinadores do clube de Varginha que retiraram todo o patrocínio ao Boa Esporte, inclusive o máster e o fornecedor do material esportivo.

Um feminicida não pode ganhar os holofotes e muito menos servir de “exemplo” para jovens e crianças do interior brasileiro, muito mais interessados em postar fotos nas redes sociais para ganhar um famigerado momento de “fama” ao lado de “ilustre” esportista.

Bruno não só não pode ser um exemplo para qualquer pessoa como tem se revelado um assassino frio e insensível. Em nenhum momento mostrou arrependimento, jamais admitiu o crime e agora está questionando, na Justiça, a paternidade do seu filho porque não quer pagar a pensão!

O Boa Esporte não pode continuar com ele em seu elenco porque é uma afronta inaceitável a toda a sociedade brasileira. Vamos nos juntar às mulheres de Varginha, que já protestaram na praça da cidade, e dar um retumbante “não” à volta dele ao futebol no Boa Esporte.

*Solange Jurema é ex. Ministra do governo Fernando Henrique Cardoso e presidente do Secretariado Nacional da Mulher-PSDB