Opinião

Por que escolhemos homens para nos representar? por Adriana Vilela Toledo

Max Monteiro Fotografias
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No dia 24 de fevereiro comemoramos 85 anos da conquista do voto feminino. Em 1932, quando foi decretada a possibilidade da mulher votar, essa conquista ainda estava condicionada a autorização masculina, ou seja, caso a mulher fosse casada, ela necessitaria de uma autorização do marido para votar. Mulheres solteiras ou viúvas só podiam votar se comprovassem autonomia financeira. De lá para cá, no campo da política, muito pouco avançamos no Brasil. Os homens continuam detentores do poder político, continuam a escolher os destinos de nossas vidas. E agora, somos nós mulheres que estamos delegando-os para essa missão! As mulheres são a maioria da população brasileira e a maioria no eleitorado, no entanto, a participação feminina na política brasileira é pífia. Em uma lista de 188 países, o Brasil figura na posição 156 no ranking de participação política, com pouco mais de 10% de mulheres na Câmara dos Deputados. Considerando que o Brasil é hoje a quinta população mundial e a sétima maior economia do mundo, é preocupante essa colocação. Ficamos atrás de países como a Etiópia (38% de participação feminina) e dos Emirados Árabes Unidos (22,5%), países que nem mesmo são reconhecidos como democracia. Com exceção dos estados do Rio Grande do Norte e Amapá, nenhum outro estado alcança a marca de 20%. E em todos os estados brasileiros as mulheres compõem mais de 50% do eleitorado. Precisamos reverter com urgência essa situação, sob pena de colocarmos em cheque o nosso sistema representativo. Em Alagoas a situação não é diferente, nossa taxa de participação da mulher nos cargos eletivos é de pouco mais de 14%. Figurando em 11º se comparado aos demais estados da federação. É um grande desafio para a sociedade alagoana conseguir aumentar a participação das mulheres na vida políticopartidária. Entre 1.189 cargos eletivos apenas 183 são exercidos por mulheres, lembrando que somos 53% do eleitorado, num estado que desponta na terceira posição no Mapa da Violência contra as mulheres. No Senado, não temos representação feminina. Dos Senadores eleitos apenas o senador Fernando Collor tem uma mulher como suplente, Renilde Bulhões Barros é a primeira suplente, os demais senadores não têm suplentes do sexo feminino. Na história do estado, apenas uma mulher chegou ao Senado: a enfermeira Heloísa Helena. Na bancada de nove deputados federais não constava nenhuma mulher entre os eleitos em 2014. Atualmente encontra-se em exercício a deputada federal Rosinha da Adefal, suplente que assumiu em decorrência do afastamento do titular. A primeira deputada federal eleita na história de Alagoas foi a médica Ceci Cunha, em 1994. No entanto, foi vítima de assassinato cometido no mesmo dia de sua diplomação para seu segundo mandato. A razão do assassinato seria assumir a vaga deixada por Ceci. Uma mácula na história das mulheres políticas brasileiras. Na Assembleia Legislativa Alagoana, dos 27 cargos apenas dois são ocupados por mulheres, menos de 10% do total. Foram eleitas em 2014: Jó Pereira e Thaise Guedes. Em Maceió, a Câmara Municipal é formada por 21 integrantes. Desses, quatro são mulheres, quase 19% do total. São elas: Aparecida do Luiz Pedro, Fatima Santiago, Tereza Nelma e Silvânia Barbosa. Ao todo, Alagoas possui 102 municípios, dos quais apenas 21 têm suas prefeituras ocupadas por mulheres, pouco mais de 21% do total. Já nas câmaras municipais, o percentual de vereadoras é de pouco mais de 15% do total. Esses números, levantados pela Procuradoria Especial da Mulher no Senado, evidenciam a fragilidade de nosso sistema representativo, demonstram a acentuada sub-representação da parcela majoritária da população. Essa deslegitimação da mulher no espaço público certamente influencia diretamente no desrespeito à sua condição cidadã. Hoje, a possibilidade das mulheres alcançarem equidade na vida pública passa não só por maior investimento e distribuição de recursos pelos partidos políticos, mais pela consciência de que precisamos nos dar voz. Precisamos mudar esse cenário atual em que os homens se consideram representantes naturais da mulher. Nós mulheres precisamos reconhecer que somos cidadãs, com condições de defender nossos direitos, para isso temos que ter voz ativa!

(*) Pedagoga, especialista em Administração Pública e Presidente do PSDB Mulher/AL