O Brasil está novamente em Davos. Desta vez, pela porta da frente. Depois de anos figurando como patinho feio do encontro anual da elite econômica global, nesta edição o país ressurge com algum brilho – ainda há muito a fazer, é verdade, mas é um feito e tanto para uma nação que até outro dia só via um buraco sem fundo sob os pés.
Não é tarefa simples apresentar com otimismo ao mundo das finanças nossa economia em processo de reconstrução. As dificuldades legadas pelo antigo regime – a década perdida petista – ainda deixam marcas e não serão superadas sem esforço. Mas os avanços na agenda da reconstrução são significativos e abrem caminho para uma perspectiva mais positiva. Apesar do pouco tempo do governo Michel Temer, é enorme a distância entre o país de hoje e o desacreditado Brasil de ontem.
Neste ano, o Brasil figura em Davos como a economia com pior previsão de crescimento entre todas as do G-20, segundo projeção divulgada na terça-feira pelo FMI. Em todo o mundo, apenas Síria, Venezuela, Guiné Equatorial, Equador e Trinidad e Tobago aparecem abaixo. No entanto, a previsão de que o PIB vai crescer, após o desastre promovido pelo lulopetismo, já é bem melhor do que o quadro que o país conseguia apresentar ao mundo nos anos recentes. Foram quase três anos de recessão, com queda superior a 8% do PIB, mais de 12 milhões de desempregados e uma destruição de riqueza que supera todas as crises mais graves vividas na nossa história republicana.
Tanto é assim que os empresários brasileiros já demonstram algum otimismo, conforme pesquisa da PwC divulgada em Davos e publicada na edição de terça-feira do Valor Econômico. Mesmo com toda a debacle petista, os investimentos estrangeiros não cessaram e a confirmação de novos ares na economia local – consequência de reformas estruturais em curso – poderá ter o condão de multiplicá-los.
Um ano atrás, Davos recebeu um cabisbaixo ministro da Fazenda, constrangido com a lambança que seu governo patrocinava no Brasil. Agora tem-se uma reforma fiscal em andamento para apresentar, com um rigoroso controle das despesas públicas, um ambiente institucional mais estável e pelo menos uma vitória efetiva na algibeira: a derrocada da inflação. Não é pouco para tão pouco tempo.
Há muito a realizar, e a atuação das forças políticas dispostas a levar o Brasil de volta ao caminho do crescimento será fundamental para esse objetivo. A gestão do presidente Michel Temer deve redobrar o ímpeto em enfrentar e dar cabo a privilégios há muito arraigados na nossa sociedade, do que o atual sistema de Previdência fornece exemplo mais evidente. Deve também levar adiante uma lipoaspiração que reduza bastante o peso do balofo Estado brasileiro e melhore de fato a vida da população.
Davos é apenas uma fotografia simbólica do Brasil de ontem e de hoje. Melhoramos, mas ainda temos um longo caminho a percorrer até o topo que as montanhas geladas dos Alpes suíços costumam exprimir no imaginário global. A escalada já começou; o comprometimento de todos nós nessa árdua subida é o que ditará o fôlego para atingirmos esse objetivo.