Opinião

“Algum cenário benigno”, análise do ITV

Alguns sinais de normalidade começam a despontar no horizonte econômico: a inflação pode estar caminhando para a meta, abrindo espaço para o corte dos juros no país

 

economiaAs dificuldades da economia brasileira continuam imensas e, em muitos aspectos, como o desemprego, ainda tendem a piorar nos próximos meses. No entanto, já surgem aqui e ali perspectivas otimistas que prometem desanuviar o horizonte. É o caso da inflação e, consequentemente, dos juros.

Em relatório no qual, a cada três meses, esmiúça o comportamento dos preços no país, o Banco Central passou a considerar a hipótese de que a inflação esteja começando a convergir para a meta definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para os próximos dois anos. Felizmente, um dos itens que começam a ficar menos caros são os alimentos.

De acordo com o Copom, já no fim de 2017 a inflação oficial, medida pelo IPCA, poderia cair a 4,4% e, em 2018, poderia descer a 3,8%. Em ambos os casos, a meta anual é de 4,5%. Se confirmado, e ainda há muito chão até lá, será a primeira vez que isso acontecerá no país desde 2010. O desafio é grande: hoje, o índice de inflação acumulado nos últimos 12 meses está em 9%.

Com a inflação tendendo a ficar mais comportada, abre-se espaço para que o BC também comece a cogitar dar cabo de outra anormalidade brasileira: os juros jabuticaba que o país pratica. Começaram a pipocar previsões de que, já na reunião de outubro, a taxa básica, hoje em 14,25% ao ano, começará a cair, com a queda prosseguindo ao longo de 2017.

No passado recente, o BC comungou da crença furada de que um pouquinho mais de inflação não dói e manejou os juros com displicência, voluntarismo e irresponsabilidade. Deu no que deu: o resultado foi a explosão dos preços, que alcançaram as maiores altas em 20 anos, e uma política de juros artificialmente baixos que não se sustentou.

Para que o país caminhe de volta à normalidade agora, tudo dependerá, principalmente, do que acontecer com o outro lado da moeda, ou seja, com a política fiscal. A inflação só baixa e os juros só podem cair se o governo reverter o comportamento leniente e deletério que foi a marca das gestões petistas no trato das contas públicas e passar a frear seus gastos.

Por isso, será decisiva a capacidade do governo Michel Temer de aprovar no Congresso a imposição do teto para o crescimento das despesas públicas a partir de 2017. A medida foi transformada pela oposição petista em crime de lesa-pátria e vem sendo usada como arma eleitoral pelo país afora. Quem destruiu agora tenta de toda forma impedir a reconstrução…

Mas o tetracampeonato de rombos nas contas públicas, com déficits consecutivos entre 2014 a 2017, não deixa margem a dúvidas: é preciso disciplinar o crescimento dos gastos públicos, sem o que o país simplesmente afundará na quebradeira. A aprovação do teto é uma medida importante, que pode até ser melhorada em alguns aspectos no Congresso. Mas é absolutamente necessária para que o cenário fique realmente mais benigno doravante.

*Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

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“Algum cenário benigno”, análise do ITV

Alguns sinais de normalidade começam a despontar no horizonte econômico: a inflação pode estar caminhando para a meta, abrindo espaço para o corte dos juros no país

 

economiaAs dificuldades da economia brasileira continuam imensas e, em muitos aspectos, como o desemprego, ainda tendem a piorar nos próximos meses. No entanto, já surgem aqui e ali perspectivas otimistas que prometem desanuviar o horizonte. É o caso da inflação e, consequentemente, dos juros.

Em relatório no qual, a cada três meses, esmiúça o comportamento dos preços no país, o Banco Central passou a considerar a hipótese de que a inflação esteja começando a convergir para a meta definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para os próximos dois anos. Felizmente, um dos itens que começam a ficar menos caros são os alimentos.

De acordo com o Copom, já no fim de 2017 a inflação oficial, medida pelo IPCA, poderia cair a 4,4% e, em 2018, poderia descer a 3,8%. Em ambos os casos, a meta anual é de 4,5%. Se confirmado, e ainda há muito chão até lá, será a primeira vez que isso acontecerá no país desde 2010. O desafio é grande: hoje, o índice de inflação acumulado nos últimos 12 meses está em 9%.

Com a inflação tendendo a ficar mais comportada, abre-se espaço para que o BC também comece a cogitar dar cabo de outra anormalidade brasileira: os juros jabuticaba que o país pratica. Começaram a pipocar previsões de que, já na reunião de outubro, a taxa básica, hoje em 14,25% ao ano, começará a cair, com a queda prosseguindo ao longo de 2017.

No passado recente, o BC comungou da crença furada de que um pouquinho mais de inflação não dói e manejou os juros com displicência, voluntarismo e irresponsabilidade. Deu no que deu: o resultado foi a explosão dos preços, que alcançaram as maiores altas em 20 anos, e uma política de juros artificialmente baixos que não se sustentou.

Para que o país caminhe de volta à normalidade agora, tudo dependerá, principalmente, do que acontecer com o outro lado da moeda, ou seja, com a política fiscal. A inflação só baixa e os juros só podem cair se o governo reverter o comportamento leniente e deletério que foi a marca das gestões petistas no trato das contas públicas e passar a frear seus gastos.

Por isso, será decisiva a capacidade do governo Michel Temer de aprovar no Congresso a imposição do teto para o crescimento das despesas públicas a partir de 2017. A medida foi transformada pela oposição petista em crime de lesa-pátria e vem sendo usada como arma eleitoral pelo país afora. Quem destruiu agora tenta de toda forma impedir a reconstrução…

Mas o tetracampeonato de rombos nas contas públicas, com déficits consecutivos entre 2014 a 2017, não deixa margem a dúvidas: é preciso disciplinar o crescimento dos gastos públicos, sem o que o país simplesmente afundará na quebradeira. A aprovação do teto é uma medida importante, que pode até ser melhorada em alguns aspectos no Congresso. Mas é absolutamente necessária para que o cenário fique realmente mais benigno doravante.

*Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela