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“O que determinou o impeachment foi a mobilização popular e o deslocamento dos ex-aliados de Dilma”, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso participa de debate sobre Reformas da política global sobre drogas: impactos na América Latin, organizado pela Open Society Foundations (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Fernando Henrique Cardoso Tania Rego ABrBrasília (DF) – Ex-presidente da República e presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso avaliou que a causa determinante do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff foi a mobilização popular e o deslocamento de ex-aliados da petista no Congresso Nacional. Em entrevista publicada nesta segunda-feira (5) pelo jornal argentino Clarín, o tucano afirmou que o erro do PT foi menosprezar a força da opinião pública.

“Alicerçado em sua aliança com o PMDB e demais agrupamentos, [o PT] imaginou que os desmandos cometidos seriam perdoados, dada sua história. Não contou com as consequências do agravamento da crise econômica e nem com os efeitos da revelação de seus esforços indevidos para ganhar as eleições em 2014. Naquele ano, o governo Dilma se deu a liberdade de fazer gastos sem autorização do Congresso e de camuflar a calamitosa situação fiscal, não reconhecendo operações de crédito com bancos estatais. Quando ganhou as eleições em 2014, viu-se às voltas com tremenda crise fiscal”, constatou.

O ex-presidente ponderou que o Partido dos Trabalhadores sempre foi pouco aberto a alianças com competidores eleitorais, preferindo se juntar aos “clientelistas, corporativistas e setores tradicionais no manejo do aparato público local e federal”. A consequência disso foi a generalização de práticas corruptas, exemplificadas pelo Mensalão e Petrolão, e o uso de recursos públicos para a manutenção de aliados e do seu próprio poder.

Para FHC, não restam dúvidas quanto ao fundamento jurídico do impeachment de Dilma Rousseff. “Ademais, a despeito de a presidente não ter cometido crime penal nem ser acusada disso, foi beneficiária eleitoral dos desmandos da Petrobras, empresa da qual era, na época, presidente do Conselho Administrativo. Quando algum jurista diz que não houve crime é porque pensa em crime capitulado no Código Penal. Ora o impeachment é outra coisa. É crime ‘de responsabilidade’, sua ‘pena’ é a perda do mandato”, explicou.

O tucano acrescentou que “um presidente, nas democracias presidencialistas, não cai por falta de apoio partidário no Congresso ou entre o povo. Cai quando pratica atos inconstitucionais e quando perde o respeito do país, seja por conduta pessoal inadequada, seja por incapacidade de governar”.

Reformas urgentes

Ao jornal Clarín, Fernando Henrique destacou as principais razões para a insatisfação popular com o governo de Dilma Rousseff: a falta de empregos, a renda baixa e a falta de rumos para o país. “Ademais prevalece a sensação de que os ‘de cima’ só cuidam de seus interesses e de que há muita corrupção. Isso cria um clima de desilusão e torna fácil acusar os ‘culpados’: a política e os políticos”, ressaltou.

A caótica economia do país também requer reformas urgentes. Apesar do governo Temer ter apenas dois anos para tentar reverter o estrago feito pela gestão petista, FHC salientou que ainda há tempo para muito ser feito. “Não se esqueça de que o governo Itamar Franco (1992-1995) durou dois anos, eu fui ministro da Fazenda apenas por 18 meses, e o Plano Real deu uma guinada na economia brasileira”, disse o ex-presidente.

O tucano cobrou da equipe de Michel Temer celeridade na emissão de sinais de sobriedade no gasto público, demonstrações de que algo será feito para melhorar as contas públicas, de que o governo sabe as exigências do mercado e reconhece a necessidade de parcerias, além de absoluta intolerância com desvios morais.

Leia AQUI a íntegra da entrevista de Fernando Henrique para o jornal Clarín.