Opinião

“A fundo perdido”, editorial do jornal Folha de S. Paulo

dinheirofotomarcossantos003No capitalismo de compadrio que se escancarou no Brasil nos últimos anos, os fundos de pensão das estatais adquiriram papel de destaque. Distanciaram-se ainda mais do interesse dos trabalhadores e se transformaram em mera fonte de recursos extraordinários para o governante de turno.

Pior para os pensionistas, que viram desmantelar-se o resultado de anos de contribuições e economias.

Tome-se o caso da Petros, que já apresentara rombos em 2013 e 2014. De acordo com estimativas extraoficiais, o fundo de de pensão dos funcionários da Petrobras registrará em seu balanço de 2015 um deficit de cerca de R$ 20 bilhões.

Era fácil supor que um buraco desse tamanho não teria sido cavado apenas por força das circunstâncias, como a mudança na conjuntura econômica e a queda do preço de ações da empresa.

Uma auditoria realizada pela consultoria Ernest & Young parece comprovar as piores suspeitas. Em seu relatório, a empresa aponta falhas como compra de títulos por valor acima do de mercado, fragilidade na análise do risco de investimentos, conflitos de interesse e apresentação de garantias insuficientes para operações.

Ou esses erros resultaram de grotesca incompetência, ou não foram propriamente um erro —e sim má-fé. Espera-se que o assunto seja investigado com a devida seriedade.

Resolver o caso concreto da Petros, contudo, fará pouco por seus assemelhados, como Postalis (Correios), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Previ (Banco do Brasil). Todos tiveram perdas bilionárias e convivem com deficit gigantesco.

O caminho para diminuir o espaço para tantos desmandos é conhecido: reduzir a influência política e profissionalizar a gestão.

Daí por que o governo do presidente interino, Michel Temer (PMDB), acerta ao priorizar o projeto que altera regras para nomeações a cargos de direção nos fundos de pensão. Aprovado no Senado, o texto agora tramita na Câmara.

A proposta tornará mais rigorosos os critérios de escolha, com exigência de formação superior e experiência comprovada. Para a diretoria e o conselho serão vedados, além disso, candidatos que tenham exercido atividade executiva em partidos ou ocupado cargos em comissão no governo nos dois anos anteriores à contratação.

O legado de prejuízos nos últimos anos deveria bastar como prova da necessidade de aperfeiçoar a gestão e os controles –qualquer resistência a avanços desse tipo, portanto, será incompreensível.