Opinião

“Ética na Política”, por Céumar Turano

Céumar Turano_1 capaO presente artigo reflete um propósito que é de ser de interesse geral sobre um tema tão importante para o Brasil dos dias correntes, vivendo a mais grave crise de sua história, demandando toda uma reconstrução da sua vida política e exigindo um reforço substancial da dimensão ética desta prática.

Ética é um dos grandes capítulos em que se divide o pensar do ser humano desde os primórdios da filosofia, na Grécia Antiga. E desde essa origem a ética teve e tem uma íntima ligação com a política, chegando mesmo a uma quase identificação naquele momento da Antiguidade. É que ética é um conceito iminentemente ligado ao coletivo seja esse coletivo a corporação (o caso das éticas profissionais), a nação ou a humanidade (onde se colocam todas as questões dos direitos humanos).

O conceito de ética é também algo estreitamento vinculado ao sentimento dos povos, ao seu modo de viver e aos seus costumes, como indica a raiz grega da palavra (ethos), e tem naturalmente evoluído no seu conteúdo, como evoluem esses costumes ao longo do tempo e da história. As éticas de hoje são em vários aspectos profundamente diferentes das antigas, e a forma de encarar a escravidão é provavelmente o exemplo mais conspícuo dessas diferenças que abrangem muitos outros aspectos relevantes.

Quanto à política, a sua ideia se desdobra no conceito de que é o empenho na realização do bem comum, do bem da coletividade ao qual se aplica como a um propósito final; é a concepção de Platão e de Aristóteles, dois filósofos gregos que a explicitaram.

Ao se pretender falar sobre a relação entre ética e política, é quase inevitável se discutir seu distanciamento progressivo no cenário político brasileiro. Ao contrário dos antigos, cujo estudo da política não se dissociava da ética, atualmente essas duas esferas vivem tensões permanentes, na maioria das vezes percebidas como dimensões antagônicas, excludentes, de difícil conciliação.

Na consciência difusa da sociedade, ser ético, agir eticamente, corresponde saber separar interesses individuais de coletivos, gerenciar as instituições públicas longe de amigos e não usar os familiares na partilha de recursos públicos.

Apesar de ganhar vigor na mídia, particularmente após a abertura democrática, a indisposição entre ética e política é cada vez mais evidente na sociedade brasileira. Boa parte do mal-estar se expressa no imaginário nacional ao se eleger “o jeitinho brasileiro”, “o rouba, mas faz”, “a lei de Gérson”, na tentativa de retratar as mazelas da vida social e política.

A desconfiança geral na política e em seus representantes é um fato da maior realidade, visível todos os dias se forem lidas ou escutadas notícias que constatam denúncias e escândalos na vida política. Se parece discutível, política e ética como compatíveis entre si nas condições modernas, deve-se questionar se o distanciamento entre as duas esferas pode ser a principal causa do desconforto no trato das condições fundamentais desta época, nas vidas privada, pública ou social.

Presumindo que a prática política se sustenta numa visão moral, ética, resgata-se a relação entre ética e política nas discussões sobre o cenário político do Brasil, submetendo a análise regras de convivência, normas, leis, costumes e práticas constitutivas do campo político. Para reformular o problema, deve-se analisar se a ética que constitui o campo político brasileiro condiz com as leis que regem o decoro parlamentar na Câmara de Deputados e no Senado Federal.

A ideia de levantar discussões que regem as normas éticas formadoras do campo político brasileiro pontua que a separação ingênua de ética e política representa inverter valores que fundamentam o campo político e lhe justificam a existência.

Neste momento, em todos os pontos do país, explode o debate sobre as definições da ética e da política, em busca da justaposição dos conceitos como exigência da própria sobrevivência nacional. Ao mesmo tempo, cresce a exigência de formulação de um novo projeto político e econômico para uma nova etapa do desenvolvimento nacional.

Importante ressaltar o seguinte ponto: a ética da nação é a responsabilidade verdadeiramente coletiva, é o princípio que rege a esfera do poder público na qual todos estão presentes como um todo maior que a soma das partes.

A ética deve compreender o sentimento popular com respeito ao destino da nação, às aspirações da sociedade quanto a este destino. O conceito de ética obrigatoriamente abrange o interesse de cada um e de todos pelo destino nacional, e este interesse, os sentimentos e aspirações, necessariamente se define sob a forma de consensos, sob pena de tornar-se inviável uma unidade nacional.

* Céumar Turano é jornalista, publicitária e radialista. Produtora Executiva de Conteúdo Web na Diretoria de Produção da TV Brasil, é filiada ao PSDB do RJ.