Opinião

“Quem não se comunica”, por Teresa Bergher

ônibusTido como bom comunicador, o prefeito Eduardo Paes revela-se um desastre quando se comunica por telefone com companheiros de política ou trata de informar o cidadão a cada vez que promove uma mudança no sistema de transportes do burgo que parece dirigir. A chamada “racionalização” das linhas de ônibus transformou atos corriqueiros, como entrar num veículo e chegar ao seu destino, numa sucessão de equívocos e aborrecimentos.

As informações, sempre precárias, da Secretaria municipal de Transportes, agravaram os problemas. Uma transformação que deveria merecer maciça comunicação — com a óbvia antecedência — foi implantada às pressas. São muitas as queixas: linhas que só começam a rodar depois das 6h; outras que saem lotadas do ponto; sem falar que alguns itinerários viraram passeio turístico. Para ir do Leblon ao Cosme Velho, o passageiro deve pegar a 581, ou circular 1, uma circular que não circula, pois para no Leblon e quem quiser seguir viagem é obrigado a pagar nova passagem. Além de dinheiro, é preciso tempo e paciência para contemplar a Urca. Um percurso de poucos quilômetros, que era feito em poucos minutos, agora pode levar horas.

Sem a necessária comunicação, a secretaria esmera-se no castigo ao já sofrido passageiro, criando sucessivas e desnecessárias baldeações, para que a punição seja exemplar. No Cosme Velho e na Rua das Laranjeiras não há mais linhas diretas para Lapa, Tijuca, Maracanã, Vila Isabel, Andaraí, Grajaú e Penha. A baldeação piorou o que já era ruim. Mas, não desista, cidadão! Sempre se pode piorar ainda mais, e nossos governantes cuidam disso o tempo todo.

Sair de casa para o trabalho pode ser uma armadilha. O ônibus que você usou ontem, hoje pode ter outro número, não passar mais por onde você espera, dar voltas por onde não se imagina e, talvez, chegar ao destino desejado, mas depois de circunavegações. E a placa que deveria orientar o usuário ou nem existe mais ou vai lhe informar o trajeto do ano passado, que, aliás, mudou três vezes…

As alterações, feitas em canetadas de gabinete, não levam em conta as necessidades da população. O cidadão, como de praxe no governo Paes, não foi ouvido. E como muitas das mudanças são equivocadas, nada dá certo, e a prefeitura é obrigada a fazer ajustes. Resultado: mais confusão.

Seria injusto acusar a prefeitura de incompetência total em matéria de transporte público. Na época de aumentar a passagem, ela é rápida no gatilho, ignorando olimpicamente que o reajuste deveria ser a contrapartida da qualidade. Se fosse boa em comunicação, perguntaria ao contribuinte quanto as empresas mereceriam de reajuste. Preciso desenhar, prefeito? As empresas acabaram levando 11,7%. E, de lambuja, mais prazo para a instalação de ar-condicionado nos ônibus.

Nas lendas árabes das “Mil e Uma Noites”, conta-se que o califa de Bagdá saía do palácio, à noite, para conhecer a vida do povo, sem o filtro da assessoria. Não se deseja que o prefeito faça o mesmo — afinal, as noites aqui andam perigosíssimas. Bastaria pegar um ônibus sem ar-condicionado em dia de verão e dar um passeio até Bangu. Poderia, então, modificar o velho provérbio: “Calor no lombo alheio é brisa refrescante”.

*Teresa Bergher é vereadora pelo PSDB no Rio de Janeiro

** Publicado na edição desta segunda-feira (04) no jornal O Globo