Opinião

“Lula queimou a língua”, por Terezinha Nunes

Foto: João Bita/Alepe
Foto: João Bita/Alepe

Foto: João Bita/Alepe

Na linguagem popular se diz que uma pessoa “queima a língua” quando fala o que não deveria ou diz uma coisa e faz outra e é descoberto em pleno delito.

Conhecido por sua verborragia, pelas bravatas e pelo autoelogio, capaz de arrancar gargalhadas dos puxa-sacos e deliciar a classe pobre, onde era tratado como um messias, o ex-presidente Lula foi aperfeiçoando ao longo do tempo seu vocabulário e, deliciando-se diante dos altos índices de popularidade, virou mais um animador de auditório do que alguém que se poderia ouvir com seriedade.

Não se furtava ao delírio de passar dos limites no uso de termos chulos quando a imprensa não estava presente ou tinha certeza de que algum interlocutor mais ousado, não iria divulgar suas palavras mal colocadas na Internet.

Vangloriando-se, muitas vezes, por não ter estudado, Lula deve ter vencido, ao longo do tempo, os vícios de linguagem e, quando está sóbrio ou em ambientes mais requintados, não causa vergonha a ninguém: contém os termos que usa e age como se letrado fosse.

Há pessoas que chegam a imaginar que hoje, quando comete erros de português, o faz de forma deliberada para, de certa forma, agradar às classes sociais mais baixas ou aos intelectuais deslumbrados que também gostam das lorotas que conta a respeito das elites, das quais já faz parte, como mostram seus extratos bancários.

Mas há muito tempo não se ouvia Lula tão desenvolto no linguajar baixo, agressivo e insolente quanto nos últimos tempos diante do desespero que tomou conta dele, de Dilma e do PT à medida que avançam as investigações da operação Lava Jato.

E se já sabia medir os termos a serem usados, dependendo do ambiente, Lula demonstra, nas gravações telefônicas colhidas pela equipe comandada pelo juiz Sérgio Moro, que, no íntimo, sempre foi o mesmo e acabou sendo pego, de forma contundente, queimando a língua, quando falava com seus interlocutores, mesmo que um deles fosse a atual presidente Dilma.

Esquecido de que ele próprio nomeou grande parte dos atuais ministros do STF chamou a todos de covardes, colocando no mesmo balaio dos acovardados o Congresso Nacional – onde sempre teve folgada maioria – e todos que, de alguma forma, não estavam dispostos a defender ou acobertar seus malfeitos.

Lula revelou nas gravações uma faceta de sua personalidade que não constava em sua biografia: a de preconceito contra as mulheres, sobretudo as petistas que o defendem com unhas e dentes e das quais cobrava mais fidelidade, tratando-as como se machos fossem.

Lula também se referiu com desrespeito e tom jocoso a sua assessora Clara Ant, afirmando a Dilma, ao telefone, que Clara, dormindo sozinha, se fosse surpreendida pelos agentes, poderia imaginar estar recebendo um “presente de Deus”.

Se já é vergonhoso para qualquer pessoa ver a divulgação de suas conversas telefônicas, sobretudo quando são feitas críticas a qualquer pessoa, Lula se desnudou e dificilmente voltará a usar o telefone para falar o que lhe convém. Também não vai encontrar com facilidade interlocutores que riam do que ele falava e agora foram pegos de calças curtas, tentando se explicar.

Como afirma um provérbio alemão muito conhecido “quem queima a língua nunca mais esquece de soprar a sopa”.

Lula, no seu ´íntimo”, já deve estar soprando, mesmo a custo muito choro contido e ranger de dentes.

*Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher de Pernambuco