A luta das mulheres pela emancipação plena, pela igualdade de direitos, simbolizada nas comemorações do dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher acabou promovendo nos últimos anos mobilizações e reflexões, por todo o mundo, e aos poucos os movimentos de mulheres, de feministas e a sociedade como todo, elegeram março como sendo o mês da mulher.
Assim, no Brasil, entidades diversas, órgãos públicos e a iniciativa privada, realizam eventos de outorga de homenagens, seminários, fóruns e inaugurações de serviços de políticas para as mulheres, etc., preferencialmente neste mês, como forma de dar visibilidade a esta nobre causa.
Lamentavelmente, março de 2016, será histórico para as brasileiras não pelas conquistas, mas exatamente o contrário, pelo descaso, o achincalhamento, o desrespeito, o escárnio expressados pela Presidente Dilma em fala ao telefone com o ex-presidente Lula, interceptada e revelada pela justiça nesta semana.
Dilma fez da mentira a verdade de sua campanha, e seu desgoverno, pode ser compreendido pela criação de um “Termo de Posse Itinerante”, a ser usado somente se preciso fosse por alguém já denunciado à justiça. A mulher fazendo igual ou pior o jogo tradicional do universo do poder masculino.
O homem em quem tanto ela confia o ex-presidente Lula, em uma de suas falas, reveladas após divulgação dos grampos, disse ao ex-ministro Vannucchi: “Cadê as mulheres do grelo duro do nosso partido?”.
Perdoe-me as feministas que se silenciaram ou que buscam em teorias doutrinárias justificarem a fala do ex-presidente Lula, como fez pelas redes sociais a Defensora Pública do estado do RJ, Maria Clara Bubna: “Não, isso não é machismo nem misoginia. O mundo gira em torno da lógica falocêntrica da “pica grande”, homem poderoso é o homem “que coloca o pau na mesa”. “Pica” inclusive virou popularmente um adjetivo pra algo “ótimo”.
Lula fugiu desse conceito. Elogiou as mulheres do seu partido, de forma informal, usando uma expressão popular que não compara mulheres aos homens. As feministas não são mulheres “picudas”, mas sim “de grelo duro”, o que se compreende como mulheres fortes, poderosas e combativas.
Mas é aquilo. Falar da mulher e fazer alusão a sua anatomia é sempre chocante“.
Confesso preferir ser uma feminista não seletiva e abomino a fala do ex-presidente. Sinto-me mais confortável em classificar mulheres de luta, nominando-as por: firmes, corajosas, determinadas, honradas, honestas.
Como bem disse Rosiska Darcy, “há que se aprender a conviver com essas mulheres que crescem, aparecem e permanecem. Deve eclodir um sentimento de júbilo pela nova divisão de tarefas no mundo real, pela certeza de que se poderá ter liderança com delicadeza, profissionalismo com ritmo sensorial, companheirismo sem subserviência ou melodrama, carinho sem hora ou local marcado e amor sem dependência”.
Resta-nos poucos dias de março, mas, tempo suficiente, para honrar a luta feminista, e imediatamente apoiar o impeachment de Dilma, garantindo a ela o reconhecimento através de uma foto pendurada ao lado de Lula, na galeria de ex-presidentes. Não mais que isso.
*Eliana Piola é 1ª Secretária do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB e ex-Coordenadora de Políticas para Mulheres do Governo de Minas Gerais