Dilma Rousseff – incrível! – foi rápida no gatilho. Apressou-se em dar respostas aos maiores protestos da história brasileira, apenas um dia depois das gigantescas manifestações. Todas erradas, porém. À clara dificuldade de articulação política e verbal da presidente da República junta-se também sua deficiência cognitiva. Ela oferece aos brasileiros tudo o que eles não estão pedindo. Pior que isso, dá-lhes tudo o que eles mais rejeitam.
A petista acelerou ontem o ingresso de Luiz Inácio Lula da Silva no governo, o que deve ser confirmado hoje. Ao ex-presidente está reservado o Ministério da Papuda. Onde ele ficará sediado – se na Secretaria de Governo, na Casa Civil ou no Itamaraty – é algo de somenos importância. O que interessa, antes de tudo, é livrar o líder petista do risco de uma prisão imediata. Trata-se de uma pronta resposta. Em forma de escárnio.
Junto do ingresso de Lula na equipe, Dilma acena com a possibilidade de dar-lhe carta branca para mexer na economia. Para pior. Pelo que noticiam os jornais, o ex-presidente só aceita voltar para Brasília se tiver passe livre para comandar uma guinada na política econômica, redirecionando-a sem pejo para a vereda que desembocou na maior recessão da história brasileira. O pacote inclui autorização para torrar um terço das reservas do país em dólar. É uma viagem de trem-fantasma.
O retorno de Lula ao governo na condição de ministro da Papuda é carregado de simbolismos. O primeiro é o de que, agindo assim, Dilma simplesmente vira as costas para a imensa maioria dos brasileiros, que foram às ruas no domingo demonstrando seu repúdio a ela, ao ex-presidente e a seu partido, maiores responsáveis pelo oceano de lama em que o país está atolado.
Na verdade, Dilma declara guerra aos manifestantes – ou seja, ao grosso da população – e deixa claro que agora efetivamente governa para a minoria petista. Nada muito surpreendente para um governo que acredita, nas palavras de seu ministro-chefe da Casa Civil, que mais de 5 milhões de brasileiros lotaram as ruas do país de norte a sul no maior ato político da nossa história porque foram convocados por uma rede que vende quibes e esfirras.
Em segundo lugar, demonstra, cabalmente, o desdém que o PT nutre pelas instituições, pelo trabalho da Justiça, pelas ações de combate à corrupção – troça, de resto, presente em quase todas as respostas dadas por Lula no depoimento à Polícia Federal prestado no último dia 4. Tornar o ex-presidente ministro da Papuda para blindá-lo da prisão é a maior confissão de culpa que poderia haver. De quebra, Dilma poderá ter de responder por obstrução da justiça. Eles se merecem.
Em terceiro, a ascensão de Lula é a contraface imediata da queda de Dilma. Na prática, o PT antecipou-se ao impeachment e destituiu a presidente. Novamente, resposta errada ao clamor das ruas, por ser apenas uma tentativa de deixar tudo como está para ver como é que fica. Provavelmente, infrutífera, porque manter a atual situação, com a pitada extra de ter o famigerado Lula no comando, é tudo que o Brasil demonstrou que não aceita mais.
Por fim, ao promover Lula à condição de ministro da Papuda a ainda presidente rasga de vez qualquer compromisso com a retomada do crescimento da economia, com a agenda mínima de reformas que ela tímida e insatisfatoriamente esboçara. O novo gabinete é a maior garantia de que o Brasil vai acelerar sua viagem ao fundo do poço – que, com o PT, nunca chega.
Lula acha que virando ministro irá se precaver de ser preso. Acha, ainda, que, se sua estratégia falhar e ele vier a ser encarcerado com autorização do STF, se transformará em herói, no primeiro passo para voltar a ser presidente da República. Está redondamente enganado. Se a justiça for feita e o petista for comandar seu ministério na Papuda, ele simplesmente terá se tornado presidiário, e libertado o Brasil. Esta é a resposta que os brasileiros esperam e não as que Dilma, atordoada, lhes oferece.