Opinião

“A culpa não é sua”, por Solange Jurema

Foto: Javier/PSDB RJ
Foto: Javier-Texto:Betina/PSDB RJ

Foto: Javier-Texto:Betina/PSDB RJ

A frase tatuada no corpo das mulheres que acompanharam a cantora Lady Gaga, na cerimônia de entrega do Oscar, emocionou milhões de pessoas no mundo inteiro e se tornou em mais um importante momento para conscientizar a todos da agressão sofrida por milhões de mulheres em todo o globo terrestre.

A música “Til It Happens To You” (“Até que Aconteça com Você”, em tradução literal) retrata as dificuldades emocionais que uma vítima de estupro precisa superar para prosseguir vivendo, superando diariamente, em si mesma, a dor e o trauma de uma violência sexual desse porte.

E no Brasil os números de estupro assustam pela dimensão social e estatística que assumem. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) indica que anualmente ocorrem cerca de 527 mil estupros no Brasil, dos quais apenas 10% deles são notificados a policia por medo, vergonha ou proximidade da vítima com o estuprador.

No ano passado, por exemplo, foram notificados por vítimas pelo menos cerca de 50 mil casos de estupros, segundo dados oficiais das secretarias estaduais de Segurança Pública compiladas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O rol de estatísticas aponta que 67% dos casos de violência contra mulheres são cometidos por parentes próximos ou conhecidos da família. Ou seja, o inimigo dorme ao lado.

O quadro brasileiro se torna ainda mais trágico e se reveste de maior crueldade quando se conhece os números da mesma pesquisa do IPEA: nada menos do que 70% das vítimas são crianças e adolescentes e a maioria dos agressores sequer é denunciada e muito menos punida.

Mesmo com tantas dificuldades precisamos encarar o problema de cabeça erguida, discutindo e promovendo uma maior conscientização da população, das mulheres em especial.

A mulher não pode continuar sendo vítima de estupro e não denunciar seu agressor, mesmo que seja um integrante ou amigo da família. Denunciar um pai, um padrasto, um tio, um irmão, um vizinho, um amigo da família por mais que seja constrangedor ou perigoso evitará, inclusive, novas agressões sexuais a outras mulheres, jovens e crianças.

Esse é o caso de duas estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) que foram estupradas em uma festa universitária, no ano passado, e denunciaram o autor da agressão, um colega da Faculdade.

Com coragem e determinação as duas levaram o caso adiante, identificaram o autor (um colega de curso em último ano) e a USP agiu, suspendendo o aluno das atividades acadêmicas, sem prejuízo ao processo criminal que ele já responde.

Exemplos como destas meninas e a homenagem/protesto de Lady Gaga na cerimônia do Oscar dão um alento a essa dura luta feminina todas nós – Estado e Sociedade – contra o machismo brasileiro que ainda acredita que pode dispor do corpo da mulher, inclusive agredindo-a.

E minimizar a dor das vítimas conscientizando-as de que “A culpa não é sua” e que elas podem usar suas roupas e exercer plenamente sua sexualidade sem temer agressões sexuais ou repressão de eventuais companheiros e familiares.

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB