Hoje em dia, muitas pessoas tomam como naturais certos direitos duramente conquistados pelas mulheres. A verdade, no entanto, é que direitos são conquistados a duras penas e que não caem do céu, “de mão beijada”. É importante que a sociedade reconheça que avanços sociais importantes, como o direito da mulher à educação e ao voto, por exemplo, são resultados da luta dos mais diversos movimentos sociais. E, portanto, desmerecer a importância do movimento feminista e de suas vitórias é um retrocesso de pessoas que não veem que, se hoje, a mulher possui uma gama de direitos, que estas mesmas pessoas, muitas delas mulheres, desfrutam e reconhecem como importante, esses direitos não lhes foram dados por benevolência, mas conquistados, pela sociedade, depois de uma dura luta da parte das feministas.
Mesmo as pessoas que reconhecem o mérito de tais conquistas, porém, costumam só reconhecer a narrativa das lutas pelos direitos das mulheres, a partir do início do século XX. Na verdade, a história da luta da mulher pelo direito ao voto não começou a ser escrita por Berta Lutz, como costuma se pensar. Sem querer diminuir a importância da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) e de sua fundadora e principal líder, Berta Lutz, a luta pelo direito das mulheres, de forma organizada e coletiva, no Brasil, vem do pioneirismo de uma Nísia Floresta e de outras mulheres, no século XIX. No caso específico da luta pelo direito ao voto das mulheres, não podemos olvidar o papel de Josefina Álvares de Azevedo e de suas companheiras de luta no jornal A Família.
A partir da proclamação da República, esse periódico se dedicou de corpo e alma à luta pelo direito ao voto das mulheres, propagandeando que, sem o exercício da plena cidadania feminina, a igualdade prometida pelos republicanos seria uma farsa. Além do seu papel como editorialista, Josefina Álvares de Azevedo também escreveu a peça Voto Feminino, que foi encenada durante os trabalhos constituintes de 1890-91. Ou seja, a luta pelo voto feminino culminou com a atuação de Berta Lutz e da FBPF, mas não “começou a ser escrita” por ela.
Não obstante a importante conquista do voto feminino, não se pode considerar encerrada a luta pelos direitos das mulheres. Precisamos continuar a lutar pela maior participação das mulheres na política brasileira. A participação feminina, nos três poderes, apesar de termos uma mulher presidente da república, é irrisória. Também temos outras lutas, desde o combate à violência doméstica e o tráfico de mulheres, até a luta por melhores salários e por direitos sexuais e reprodutivos. Feliz será o dia em que pudermos prescindir do feminismo e das feministas, pois será sinal de que todos os direitos femininos foram conquistados. Infelizmente, este dia ainda não chegou. A luta continua!
Mas é bom comemorar as vitórias já conquistadas. Parabéns, mulher brasileira, pelos 84 anos da conquista do voto feminino no Brasil!
*Alexandre de Oliveira Kappaun é professor de economia e de relações internacionais da Universidade Cândido Mendes (Campos dos Goytacazes) e da Faculdade Redentor (Itaperuna e Campos dos Goytacazes), economista (Universidade Católica de Petrópolis), com MBA Diplomacia e Negócios Internacionais (Centro Universitário da Cidade) e Master of Arts em Gender Studies (Central European University)