Opinião

“A ousadia de testar o aedes do bem “, por Mendes Thame

mendes-thame-foto-george-gianni-2Piracicaba sai na frente e dá exemplo no combate a um dos maiores fantasmas que assombram atualmente nosso país: o Aedes Aegypti. Transmissor da dengue, chikungunya e zika, o mosquito está sendo combatido em nossa cidade com uma tecnologia inovadora e os primeiros resultados já começam a aparecer.

Mosquitos geneticamente modificados, ou transgênicos, produzidos pela empresa Oxitec, foram introduzidos em 30 de abril do ano passado nos bairros Cecap e Eldorado, onde já são constatados os primeiros resultados do projeto, divulgados este mês.

A quantidade de larvas é 82% menor no Cecap com relação ao bairro Alvorada, onde não há a liberação de mosquitos transgênicos. O monitoramento também mostrou que, em outros bairros da cidade, existe um grande número de mosquitos selvagens, diferentemente dos bairros que estão com o projeto, onde são liberados Aedes transgênicos.

O resultado foi possível graças à ousadia do prefeito Gabriel Ferrato, que enfrentou a resistência inicial de céticos e demonstrou ao Ministério Público a seriedade do experimento. Este mês, ao apresentar o balanço, extremamente positivo, o prefeito e a empresa divulgaram protocolo de intenções para estender o uso do Aedes do Bem para o Centro da Cidade ainda no final deste semestre, além da prorrogação do projeto por mais um ano, nos bairros Cecap e Eldorado.

A opção pela área central foi feita com o objetivo de atingir um maior número de pessoas, já que a região recebe visitantes de outras cidades, estados e até países, que podem estar contaminados com os vírus da dengue, zika ou chikungunya. É também neste trecho que estão a rodoviária, Rua do Porto e comércio central, com intensa circulação. Somente na região central, a estimativa da Prefeitura é de atingir uma população de 35 mil a 60 mil habitantes.

A expansão também fará com que a Oxitec instale uma fábrica de biotecnologia em Piracicaba, criando 100 empregos. Atualmente, para atender a demanda do Cecap, a empresa traz de Campinas um milhão de mosquitos por semana. Para ampliar o projeto para a região central, informou que terá uma fábrica 30 vezes maior do que a atual para atender mais de 300 mil pessoas.

Pelo jeito, o Aedes do Bem veio para ficar. Transgenicamente modificados, os Aedes aegypti machos carregam os genes incapazes de produzir descendentes viáveis. Quando liberados, cruzam com as fêmeas selvagens, gerando descendentes que morrem antes de chegar à fase adulta, diminuindo, dessa forma, a população de insetos adultos.

A liberação comercial do mosquito já foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão colegiado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, mas ainda precisa ser autorizada pela Anvisa, a Agência de Vigilância Sanitária.

Uma vez aprovada, o Brasil se tornará o primeiro país do mundo a autorizar o uso dos mosquitos geneticamente modificados, em caráter comercial.

Este é mais um orgulho para nós piracicabanos. Mas é importante lembrar que a luta está apenas começando. Para eliminar de vez o Aedes Aegypti, é preciso que não haja locais propícios para criadouros. Vamos fazer nossa parte.

*Antonio Carlos Mendes Thame é professor (licenciado) do Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, deputado federal (PSDB/SP) e presidente do capítulo brasileiro da Organização Global de Parlamentares contra a Corrupção (GOPAC).