Opinião

“O drama das mães pobres que trabalham fora”, por Terezinha Nunes

Terezinha-Nunes-Foto-George-Gianni-Informações recentes do IBGE, com base na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios – PNAD – apontam que, em 2014, 39,8% dos lares brasileiros eram chefiados por mulheres.

Casamentos desfeitos, mães solteiras, viúvas ou pais relapsos têm sido responsáveis em grande parte por essa nova realidade. Além disso o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, tem encorajado as mulheres a ganharem independência e até mesmo encontrar no emprego uma forma de vencer a violência doméstica cada vez mais constante.

Há, porém, um lado cruel nessa situação. As mulheres trabalhadoras enfrentam uma jornada ampliada – 38,5 milhões se dedicam a tarefas domésticas quando voltam para casa, segundo o IBGE, chegando a trabalhar até 18 horas por dia.

Como se não bastasse tudo isso, vem crescendo no país acusações a mães trabalhadoras de filhos pequenos por abandono de incapaz, quando um desses filhos sofre algum acidente no ambiente familiar e elas se encontram trabalhando fora.

Foi o caso do que ocorreu na semana passada com a feirante Carla Barbosa da Silva, 30 anos, pernambucana, cujo filho de 10 meses foi atacado por um pitbull, enquanto estava sob os cuidados de uma irmã de 13 anos encarregada, pela mãe, de cuidar do irmão mais novo enquanto ela vendia verduras e hortaliças no mercado público.

Sem ter uma creche onde pudesse deixar o filho e ganhando apenas o suficiente para adquirir alimentos – como ficou provado – Carla foi presa em flagrante e levada ao presídio feminino tão logo chegou em casa alertada por telefonema de um parente.

O menino atacado na cabeça e pescoço pelo cão raivoso foi socorrido por um vizinho que teve que matar o animal para conseguir que ele soltasse a criança. A irmã de 13 anos que dormia na hora do ataque – o bebe saiu da cama enquanto ela dormia e foi para o quintal onde estava o pitbull – entrou em choque e também foi socorrida.

A prisão de Carla causou consternação no bairro onde ela reside em Jaboatão dos Guararapes que se mobilizou com um abaixo assinado para que ela fosse solta, alegando que é uma boa mãe. A defensoria pública assumiu o caso conseguindo, após três dias, que Carla fosse liberada e pudesse visitar o filho na UTI de um hospital público.

A juíza que autorizou a soltura da mãe alegou que ela não representava ameaça à sociedade, nunca cometeu crimes e a criança precisava da presença dela no hospital onde os médicos tentam sua reabilitação. Mesmo assim a polícia instaurou inquérito para apurar sua responsabilidade.

Aos prantos quando chegou ao hospital, Carla revelou o drama em que vive afirmando que ou ficava em casa e morria de fome com os filhos ou ia trabalhar. A avó, dona do cachorro que também tinha ido trabalhar, afirmou a mesma coisa. O pitbull estava separado da casa por uma grade mas conseguiu rompê-la e atacar a criança.

Uma das 40% de mulheres chefes de família no Brasil, Carla agora enfrenta o drama de decidir entre o trabalho e o cuidado com os filhos. Afirmou que ou deixa de trabalhar e vai viver da caridade alheia ou leva o filho para o mercado que sabe não ser lugar para abrigar uma criança de 10 meses.

O caso da feirante demonstra que conseguir um emprego é para as mães carentes de filhos menores, além de uma jornada extra, um drama de consciência para o resto da vida.

Triste sina em um país onde a criança e a educação não são prioridade do poder público.