Opinião

“Crise na terra de Lula”, por Terezinha Nunes

Terezinha-Nunes-580x500-300x259Para vender nacionalmente sua imagem de pessoa humilde que venceu na vida com muito esforço, o ex-presidente Lula explorou como pode o fato de ter nascido pobre em Pernambuco e ter chegado a São Paulo na carroceria de um caminhão pau-de-arara, acompanhado da mãe e dos irmãos.

Não havia imagem melhor para quem se intitulava pai dos pobres, embora tenha ficado rico, como as investigações da Lava Jato estão mostrando.

Os pernambucanos, ao mesmo tempo, passaram a sonhar com a possibilidade de o conterrâneo presidente trabalhar para que o seu estado se desenvolvesse no mesmo ritmo preconizado pelo petismo para o País.

No primeiro mandato Lula pouco fez uma vez que o estado era comandado por um opositor, o então governador Jarbas Vasconcelos. A partir do segundo mandato, porém, com a eleição do seu ex-ministro da Ciência e Tecnologia Eduardo Campos, ao qual o PT se aliou, as benesses foram chegando uma a uma.

Em primeiro lugar, começou a ganhar corpo a Refinaria Abreu e Lima e, em seguida, consolidou-se o Estaleiro Atlântico Sul beneficiado com a encomenda de 22 navios pela Transpetro. O governador Eduardo Campos, por seu turno, foi em busca de investimentos privados que, somados aos federais, fizeram Pernambuco chegar a crescer em média 5% ao ano entre 2007 e 2012.

A euforia gerada por tamanho crescimento chegou a levar Eduardo a se reeleger com admiráveis 83% dos votos estaduais, percentual jamais atingido pelos antecessores, credenciando-se, como seu viu, para disputar a presidência da República.

Desde o segundo semestre de 2014, porém, a crise econômica e as denúncias de corrupção que atingiram a Petrobrás – o berço dos investimentos federais pernambucanos – estão penalizando duramente o estado.

A Refinaria Abreu e Lima, investigada pela Lava Jato sob acusação de superfaturamento em sua construção, teve seus investimentos drasticamente reduzidos ao ponto de ter sido adiada a construção de sua segunda etapa.

O Estaleiro Atlântico Sul teve reduzida pela metade a encomenda de navios pela Transpetro. De 22 agora só 11 continuam encomendados dos quais sete já foram entregues.

As medidas drásticas só não conseguiram atingir outro polo de desenvolvimento do estado, a fábrica da Fiat que continua produzindo o automóvel jeep com altas vendas a nível nacional.
Mesmo assim, Pernambuco foi atingido por um índice de desemprego atroz: o governo do estado calcula que 60 mil pessoas ficaram desempregadas no estado o ano passado.

Embora já estivesse prevista uma redução grande com o final das obras a falta de perspectivas sobre o futuro produziu efeitos ainda mais danosos. Além disso o estado que só conseguiu crescer 2% já em 2014 pode ter tido crescimento zero ou perto do zero em 2015 (os dados ainda não saíram).

Obrigado a descascar o abacaxi da drástica queda dos investimentos federais, o governador Paulo Câmara tem se esforçado para manter o diálogo com a presidente Dilma. Quer uma definição precisa sobre a Refinaria e a manutenção das encomendas de navios. Alega que o estado investiu R$ 2 bilhões em infraestrutura para implantação do estaleiro e precisa que a encomenda de navios iniciais seja mantida.

Cauteloso no que se refere ao pedido de impeachment da presidente por conta da alta dependência das decisões federais, o governador, muito comedido, perdeu a paciência um dia desses e declarou “o problema do Brasil decorreu da falta de diálogo. A Petrobrás continua repetindo os erros”.

É improvável que Lula venha a tentar socorrer o seu estado no momento em que está em jogo a sua própria pele. Pelo jeito, Pernambuco vai ter que se costurar com suas próprias linhas o que é frustrante para quem embarcou, com razão, na onda do Brasil grande.

Artigo da presidente do PSDB Mulher de Pernambuco, Terezinha Nunes