Opinião

“Dilma e o enigma Renan”, por Terezinha Nunes

terezinha-nunesApesar do período natalino que, naturalmente, leva as pessoas a esquecer um pouco as questões econômicas e políticas para uma mergulhada na vida pessoal e familiar, a semana deste Natal de 2015 começa, porém – como tudo este ano – com enigmas que podem levar a política a invadir os comentários em torno das confraternizações de norte a sul do País.

Ainda não foi digerida direito a decisão do STF de dar um freio de arrumação no já avançado processo de impeachment aberto na Câmara dos Deputados – o que contrariou a todas as expectativas – e já se começa a especular sobre a figura que mais teria se fortalecido de quinta-feira para cá: o presidente do senado Renan Calheiros a quem caberia agora conduzir o processo.

É que Renan, embora, aparentemente fortalecido, protagonizou nos últimos dias diversos episódios de difícil explicação. Primeiro conseguiu que o Senado aprovasse um pedido de investigação sobre decisões tomadas pelo vice presidente Michel Temer, também do PMDB e substituto da presidente Dilma em caso de impeachment.

Em seguida, trocou desaforos com Temer via imprensa e, por fim, ao receber um grupo de artistas, intelectuais e parlamentares, defensores da permanência de Dilma, fez declarações na última quinta-feira exibidas no youtube, afirmando que “não há uma franja, um indício, uma prova, nada” no processo de impeachment que possa macular a presidente.

Deixou explícito que, se depender dele, vai barrar o processo no Senado. Isso dito no mesmo dia em que o STF transferiu ao Senado a questão do impeachment deixa claro que Renan vai lutar com unhas e dentes para livrar a presidente do impedimento, mesmo sem ter ouvido ainda os seus pares, os senadores da base do governo e da oposição. O que teria levado o senador peemedebista até pouco tempo aparentemente sereno a mudar inteiramente de postura?

O furo dado pela revista Época este sábado de que o STF havia autorizado a quebra do seu sigilo fiscal e telefônico pode ser a explicação.

Segundo a revista, a autorização de quebra dos sigilos de Renan foi feita dia 09 de dezembro, 10 dias antes da divulgação. É difícil que o senador não tenha sabido disso logo depois e é notório que sua mudança de comportamento aconteceu exatamente nesse período.

Quando na segunda-feira passada a sede do PMDB de Alagoas – controlada por Renan- foi vítima de um processo de busca e apreensão da Polícia Federal assim como as residências e escritórios de afilhados seus, o sigilo já estava quebrado.

Acuado, Renan estaria buscando, segundo vários analistas ouvidos pela imprensa, a proteção do Planalto agora que o caldo está entornando para o seu lado. Será que ele, ao contrário de Cunha, será “protegido”?

A ser verdade a possibilidade de o cerco ao presidente do Senado se estreitar, a presidente não só vai estar impedida de dar-lhe a proteção esperada como verá demonstrada sua própria fraqueza.

Dilma , como se sabe, tentou amparar-se em Temer e se frustrou quando o vice, desautorizado, afastou-se da coordenação política. Apostou em Cunha e deu no que deu. Renan é a bola da vez e nada faz crer que se manterá por muito tempo no patamar em que se encontra.