Opinião

“Mais consciência”, por Solange Jurema

Foto: George Gianni/PSDB
Foto: Corbis Images

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Passa ano depois outro e as datas comemorativas ou de afirmação de uma causa nos obrigam a refletir sobre determinada situação ou contexto, que no caso brasileiro, sempre nos leva a constatar que quase nada mudou no interregno de 12 meses.

Esse é o típico caso do “Dia Nacional da Consciência Negra”, celebrado no dia 20 de novembro em todo o país, com direito a feriado em algumas cidades brasileiras e homenagens a Zumbi dos Palmares, morto nessa data em 1695.

Passado um ano, o que mudou no Brasil?

Quais as políticas públicas realizadas com o objetivo de reduzir o preconceito, a discriminação e a violência contra o negro e especialmente contra a negra no Brasil?

A novidade, recente, é que a situação da mulher negra só faz piorar, segundo os dados do “Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres no Brasil” que trouxe novos números para revelar a dramática situação dela: nada menos do que cerca de três mil mulheres negras são assassinadas por ano no Brasil. E por familiares!

Ou seja: as negras são mortas por maridos, ex-maridos, companheiros, ex-companheiros, namorados, ex-namorados, pais, irmãos e dentro do seu próprio lar, que na maioria das vezes ela própria sustenta!

Outros dados devastadores revelam que a violência contra a mulher negra, especialmente jovem e pobre, só faz aumentar: no período 2003/2013, segundo o “Mapa da Violência”, o número de assassinatos contra elas aumentou 54% enquanto o de brancas caiu 9,8!

Os números são contundentes e dispensam comentários, a não ser o de constatar e repudiar essa realidade.

Realidade também massacrante nos presídios brasileiros. Atualmente perto de 36 mil negras estão encarceradas, vivendo em condições subumanas, submetidas às mais diversas barbáries e sem o necessário apoio do Estado – representando algo em torno de 7% do total dos presos no país, percentual que vem crescendo porque em 2000 elas eram apenas 4,6% do total.

Para se ter uma ideia desse crescimento, a população carcerária feminina quase que dobrou em relação à masculina entre 2000 e 2012: 246% contra 130% no período, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

O envolvimento com drogas, direto ou indireto (devido à presença do companheiro, pai ou irmão no tráfico) é a principal razão de estarem presas – 39% do total, maior do que o percentual de homens, que é de 22%.

Por fim, o perfil dessa mulher prisioneira é o padrão: jovem, negra e com baixa escolaridade. Somadas às que se declaram pardas, as negras representam quase 70% da população carcerária.

Em apenas dois universos – o de vítimas de assassinato e, na outra ponta, o de presas – pode-se atestar que ainda falta muita luta e coragem de um símbolo como Zumbi do Quilombo dos Palmares para que no próximo ano o “Dia da Consciência Negra” seja melhor, especialmente para as negras.

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB