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“Um gesto e o silêncio”, por Solange Jurema

Foto: Agência Câmara
Foto: Agência Câmara

Foto: Agência Câmara

A política, como se sabe, é uma arte. A arte de conquistar corações e mentes por uma proposta, a arte de conciliar interesses contrários, a arte de defender ideias com argumentos.

Mas a política é, acima de tudo, feita de gestos.

Na nossa casa praticamos gestos cotidianos que permeiam as relações pessoais – e porque não dizer políticas? – com nossos familiares.

Nas ruas, na padaria, no trabalho estamos permanentemente praticando a política com gestos.

Gesto é tudo na política, principalmente naquela institucional que nos últimos anos no Brasil só nos tem acumulado decepções e mais decepções.

Mas a boa política, a Política com “P” maiúsculo resiste a esse lamaçal que estamos assistindo na vida brasileira.

Exemplo disso foi o gesto de nossa tucana, a deputada federal por São Paulo, Mara Gabrilli, que ganhará não só os anais da Câmara dos Deputados, mas certamente ficará registrada na história recente do Parlamento brasileiro.

Com humildade, sem ser submissa; tranquila sem parecer temerosa; sem gritar, mas no tom correto de censura, Mara Gabrilli calou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o irrequieto plenário da Casa, sempre em burburinho permanente.

Com elegância ela sintetizou o sentimento do povo brasileiro: “Chega, senhor Presidente. O senhor não consegue mais presidir. Levanta dessa cadeira, Eduardo Cunha”.

Em seguida, por pura intuição, conclamou seus pares a deixar a sessão “pela Ética, pela Moral e pelo povo brasileiro que nos trouxe aqui”.

Num passe de mágica, típico daqueles momentos em que o universo conspira a favor de uma pessoa ou de um grupo, dezenas de deputados federais seguiram-na como se portadora fosse de uma flauta encantada, sob aplausos de servidores.

O detalhamento do gesto pode parecer inócuo em tempos de redes sociais, de blogs e sites on line com transmissão ao vivo pela TV Câmara, mas há de se escrever, de se ler essa página histórica da vida parlamentar brasileira.

Gabrilli agiu com a grandeza de um Franco Montoro, com a verve de um Mário Covas, com a veemência de Paulo Brossard.

A política, como já disse, vive de gestos.

Só quem conhece a rivalidade histórica do conflito entre ingleses e franceses – que protagonizaram a famosa “Guerra dos 100 anos” – pode entender a grandeza do gesto da torcida britânica, do povo inglês, ao cantar a Marselhesa em alto e bom som em território bretão.

Isso é gesto, revestido de solidariedade.

Mara Gabrilli e seu gesto emudeceram Cunha e o plenário da Câmara dos Deputados como poucas vezes o silêncio se impôs na casa dos debates, na casa do povo.

Viva Mara Gabrilli!

Viva a Mulher Brasileira!

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB