É famosa na história do Brasil a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, do Manuel, relatando, no dia 1 de maio de 1500, o descobrimento do Brasil. Além de falar da nova terra e dos seus habitantes Caminha figura como a primeira pessoa em nosso país a utilizar-se da proximidade com o rei para pedir emprego para o seu genro, José Osório.
Na verdade, a carta, como se viu depois, não pede emprego mas solicita ao rei que conceda o perdão para José Osório que havia sido degredado na Ilha de São Tomé por ter sido preso em flagrante roubando uma igreja. De qualquer forma, Caminha virou símbolo da utilização do poder público para beneficiar sua família.
Por isso sempre que se discute nepotismo seu nome vem à baila. Os políticos evitam nomear parentes e até lei já temos combatendo essa prática. Lula parece ter sido um exemplo nesse mister mas nunca se livrou de outra acusação perigosa: a de permitir que parentes – muito mais que empregos – exercessem influência sobre seu Governo obtendo daí vantagens superiores a qualquer salário do setor público.
Em 2007, Genival Inácio da Silva – o Vavá – irmão do então presidente foi indiciado pela Polícia Federal por tráfico de influência e exploração de prestígio na operação Xeque Mate que envolvia a compra de componentes eletrônicos para máquinas caça níquel.
Em 2009, Marcelo Sato, genro de Lula – casado com Lurian – foi acusado pela PF de tráfico de influência na execução de obras do Porto de Itajaí, tendo respondido a inquérito. A própria Lurian criou uma ONG que recebeu R$ 7,5 milhões do governo.
Agora vem átona o que todos já sabiam intramuros mas ainda era pouco explorado: o fato de filhos do ex-presidente terem se beneficiado da administração do pai para montar negócios, utilizando o poder público para acumular fortunas.
Já eram conhecidas as operações de Fábio Luís , o filho mais velho, que ficou milionário no governo do pai passando de funcionário de zoológico a grande empresário e que é acusado de ter recebido recursos desviados no esquema de corrupção da Petrobrás.
Há poucos dias, o delator Fernando Baiano, declarou ter pago ao pecuarista amigo de Lula, José Carlos Bumlai, tido como espécie de tutor dos negócios dos filhos do ex-presidente, a quantia de R$ 2 milhões destinados a pagamento de compromissos de uma nora de Lula.
Em seguida, outro filho de Lula, Luís Cláudio, teve o escritório de sua empresa LFT Marketing Esportivo vasculhado, na semana passada, por ordem judicial, depois que se constatou que R$ 1,5 milhão dos R$ 16 milhões pagos como propina pela venda de MPs no governo do pai, foram transferidos pela empresa de lobby Marcondes e Mautoni para a LFT. Luís Cláudio também foi intimado a depor na Polícia Federal.
Lula ficou irado com a intimação do filho assim como sua esposa D. Marisa. Custa a crer que estejam completamente inocentes em relação ao caso. Pecaram, quando menos, por não terem dado a tempo a todos eles exemplo de como bem proceder em relação aos recursos públicos.
D. Marisa, tão logo o marido tomou posse, mandou fazer uma estrela vermelha do PT nos jardins do Palácio do Planalto, rompendo o limite entre o público e o privado. Já Fábio Luis e Luís Claudio foram flagrados transportando amigos, em ocasiões diferentes, em aviões da FAB. Aí já estava clara a falta de limites dos jovens hoje suspeitos.
Embora tenha conseguido um álibi para explicar a fortuna que possui hoje – a realização de palestras para empreiteiras envolvidas na Lava Jato – Lula deixou os filhos agirem ao bel-prazer como se não soubesse que era quase impossível juntar dinheiro que não fosse mediante facilidades como as constatadas.
Diante de tal exemplo, Pero Vaz de Caminha deve estar se revirando no túmulo exigindo que sua reputação seja restaurada.
- Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher de Pernambuco