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Mulheres compõem pelo menos 40% das tropas do PKK

22 Dec 2014, Kobane, Kobanê Canton, Syria --- Kobane, Syria. 22nd December 2014 -- Female YPG fighters in the Kurdish defense forces talk between battles. -- Men and women YPG fighters can be seen fighting together against ISIS on the Turkish-Syria border near the ISIS occupied town of Kobane. --- Image by © Gail Orenstein/Demotix/Corbis
22 Dec 2014, Kobane, Kobanê Canton, Syria --- Kobane, Syria. 22nd December 2014 -- Female YPG fighters in the Kurdish defense forces talk between battles. -- Men and women YPG fighters can be seen fighting together against ISIS on the Turkish-Syria border near the ISIS occupied town of Kobane. --- Image by © Gail Orenstein/Demotix/Corbis

22 Dec 2014, Kobane, Kobanê Canton, Syria — Kobane, Syria. 22nd December 2014 — Female YPG fighters in the Kurdish defense forces talk between battles. — Men and women YPG fighters can be seen fighting together against ISIS on the Turkish-Syria border near the ISIS occupied town of Kobane. — Image by © Gail Orenstein/Demotix/Corbis

Guerrilha tem sido fundamental na luta contra o Estado Islâmico

POR ADRIANA CARRANCA / ESPECIAL PARA O GLOBO
27/09/2015 7:00 / ATUALIZADO 27/09/2015 7:35

MAKHMOUR, IRAQUE — Elas descem a montanha no pôr-do-sol, quando a terra seca ganha a cor do uniforme cáqui da guerrilha curda do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) — é um bom horário para se movimentar de forma camuflada. Aos pés da trincheira, em uma pequena base de pedras, nove guerrilheiras põem as Kalashnikov num canto e cumprimentam os companheiros de front após um dia de combates. No cinturão, duas granadas, pistola e munição. Do outro lado da barricada, combatentes do Estado Islâmico as espreitam a uma distância suficiente para atingir seu território com ataques de morteiros — quatro, naquele dia. O cair da noite evidencia as posições do inimigo: “Daash. Daash. Daash!”, diz Nalin Rojhilat, de 28 anos, apontando para as luzes das três vilas, ao alcance dos olhos, controladas pelo grupo extremista islâmico que ela identifica pela sigla em árabe.

Ela e outras três combatentes escoltam a equipe do GLOBO para um vilarejo próximo numa caminhonete que segue em velocidade e com as luzes apagadas pelos campos abertos ao longo da trincheira. Os confrontos têm sido frequentes nessa fronteira que compõe um arco ligando as províncias de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, controlada pelo EI a oeste, e Kirkuk, disputada pelos jihadistas a leste.

— Somos treinadas para morrer protegendo nossos convidados e nosso povo — diz a jovem de um vilarejo curdo no Irã, a primeira da família a se alistar, há dez anos, inspirando outras seis da família a fazer o mesmo. — Escolhemos essa vida e isso requer sacrifícios. Essa é nossa casa e nossa família agora.

Guerrilheiras como Nalin estão na frente de batalha contra os extremistas do EI no Iraque e Síria. Elas compõem pelo menos 40% das tropas do PKK, cuja experiência em guerrilha tem se mostrado fundamental contra o avanço dos combatentes islâmicos. Elas treinam e lutam ao lado dos peshmergas (tropas do Curdistão iraquiano) e dos milicianos das Unidades de Proteção do Povo (YPG, na sigla em curdo), que controla uma faixa do Norte sírio ao longo da fronteira com a Turquia.

NOVA IDENTIDADE E VOTO DE CELIBATO

De inspiração marxista, o PKK tem como um dos pilares a igualdade de gênero. Cada unidade de combate tem o mesmo número de comandantes homens e mulheres. A maioria vem de aldeias curdas massacradas na Turquia pelo governo de Ancara, muitas perderam familiares nos confrontos; outras integravam movimentos estudantis de esquerda que proliferaram no país nos anos 1990.

Quando se juntam à guerrilha, as mulheres assumem nova identidade e um nome de guerra, fazem voto de celibato e nunca mais poderão ver as famílias ou voltar para casa — as relações afetivas são vistas como distração à disciplina austera do grupo. Elas juram lealdade a Abdullah Ocalan, o líder do PKK preso em uma ilha turca desde 1999, e passam a viver no front, sem contato com o mundo fora da guerrilha.

São treinadas a lutar até morrer e nunca se deixar capturar — em último caso, destruirão suas armas e acabarão com a própria vida para não serem mortas nas mãos do inimigo, especialmente homens. A missão suicida que assumem em combate e os ideais feministas do grupo têm se mostrado um pesadelo para os jihadistas do EI, com sua doutrina de atrocidades contra as mulheres.

Aos 25 anos, Hêvi Sorhildan — seu nome de guerra quer dizer “esperança na revolta” — está há cinco no front. Ela descreve a noite em que os combatentes islâmicos cercaram Tel Al-Ward, em uma encruzilhada de estradas que levam aos vilarejos de Hawija, Riyadh e Rashad, controlados pelo grupo nos arredores de Kirkuk, onde ela lutou por sete meses.

— Nós fomos surpreendidas pela ofensiva noturna. Então, nos escondemos entre os arbustos. Quando eles chegaram bem perto, a sete metros de nós, a “heval” (camarada) Amara, que estava ao meu lado, pulou na frente dos combatentes, atirando. Nunca vou me esquecer dessa cena e de sua coragem. Ela ficou cara a cara com o daash. Atirou nos que estavam na linha de frente e abriu caminho para as companheiras. Eles (os combatentes islâmicos) não sabiam o que fazer! Ficaram perdidos, porque estavam diante de mulheres — conta Hêvi. — Éramos quatro, matamos 22 deles. Todos daash! Eles acreditam que, quando são mortos por uma mulher, perdem o lugar no paraíso.

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